Metade do tempo foi em voluntariado onde tinha dormida e toda a comida que necessitava; a outra metade, cerca de duas semanas, divididas mais ou menos em três períodos de cinco dias, foram passadas na estrada à boleia e a dormir na grande maioria das vezes na tenda perto da estrada, uma vez na praia, três noites em casa de uns jovens e os últimos dias num camping gratuito de um parque natural.
Quando me dão boleia e depois de ouvir as minhas histórias é frequente oferecerem-me comida (desde fruta, pão, empadas…) e até convidarem-me a almoçar em suas casas. É muito raro cozinhar com o camping gás, talvez o tenha feito durante estas semanas uma, duas ou três vezes, com algum arroz ou massa que levei dos voluntariados.
Estou também sempre atento às árvores de fruto, como macieiras ou laranjeiras e, por vezes, passo um ou dois dias, no máximo, apenas a comer fruta. Em último caso ainda posso ir falar com restaurantes e perguntar se têm comida que vá para o lixo mas nestes últimos tempos nem foi necessário.
Acredito que alguns leitores podem pensar que me aproveito das pessoas, mas se vissem a felicidade que as pessoas têm em poder ajudar! Quando nos despedimos, é comum pedirem para tirar uma foto e por estes e outros exemplos consigo perceber que o seu dia também ficou mais preenchido.
Sinceramente já não acredito que seja uma questão de sorte, mas sim de boa energia que atrai estes momentos fantásticos. Esta semana voltei para a estrada depois dos dias na quinta de aquacultura, com direito a todo o marisco que me apetecesse e também com os terramotos dia sim, dia sim. Apesar de não ter nada reservado e assim poder viajar com toda a liberdade do mundo, o plano era chegar à fronteira nesse dia. Eram cerca de 400km e acreditava que era possível.
Apesar de nas primeiras quatro boleias não ter esperado mais de dez minutos em cada uma e me terem deixado a 50km da fronteira, o final da tarde e os dois dias seguintes foram bastante complicados em termos de boleias, ainda assim fui conhecendo outros mochileiros na estrada e era sempre uma festa quando aparecia outro.
Uma das noites fizemos uma fogueira, perto da estrada e um deles sacou da sacola uma guitarra e animou a noite. Eu era o único com comida e partilhei um pacote de bolachas que tinha recebido numa das boleias, uma laranja, a granola que trazia desde há dois meses e ainda coloquei uma batata diretamente no fogo, que depois de tirar a casca queimada estava bastante saborosa.
Já na Argentina passei duas noites num parque nacional com camping gratuito e com muito boas condições, onde aproveitei para lavar a roupa que já se acumulava há vários dias. Mas o melhor da semana foi a boleia que apanhei ainda dentro do parque até à cidade de San Juan, que ficava a 5h de distância com direito a um churrasco típico da Argentina. A viagem continua em Puririy.
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