Luís Seco
Luís Seco
31 Mai, 2017 - 09:20

Como se estivéssemos noutro planeta, a Ring Road da Islândia

Luís Seco

E se eu vos disser que, ainda na Europa, é possível percorrer centenas de quilómetros de paisagem selvagem e pura com pouca ou nenhuma presença humana?

Como se estivéssemos noutro planeta, a Ring Road da Islândia

Nesta era da globalização e com um planeta superpovoado por pessoas que, cada vez mais, perdem as suas raízes em função de um estilo de vida “ocidentalizado”, é cada vez mais difícil encontrarmos vastas áreas de paisagem natural.

Especialmente se não nos quisermos aventurar (ou não pudermos) por lugares mais isolados como certas partes de África, da América do Sul, da Ásia ou de grandes países como a Rússia, o Canadá ou a Austrália.

A quase intocada Islândia é uma ilha na Europa cuja zona norte já entra no Círculo Polar Ártico. Tem uma área ligeiramente superior à de Portugal continental (103.000 km² vs 89.015 km²)… Só que tem apenas cerca de 335.000 habitantes.

Um país com tão pouca presença humana já seria notável em termos de natureza. Mas este vai mais longe. Esta “Terra do Gelo” é lugar de glaciares, lagoas de icebergues, géisers, cascatas, vulcões, áreas geotermais, campos de lava, crateras, penhascos, fiordes… Um sem-fim de manifestações notáveis que não se vêem todos os dias.

Ainda que seja necessário fazer alguns desvios, a melhor forma de presenciar todo o poder da natureza islandesa é percorrer na totalidade a sua estrada principal. Chama-se N1, Hringvegur ou Ring Road (Estrada Anel) porque dá a volta completa à ilha.

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São perto de 1.340 km que ligam as pequenas povoações islandesas, estabelecidas sobretudo ao longo da costa. Esta estrada foi completada em 1974, precisamente no ano em que faziam 1.100 anos que Ingólfur Arnarson, um rico e influente chefe tribal escandinavo, se instalou e povoou o território.

Para os viajantes que pretendam ter uma ideia alargada do que é este país, há que percorrer toda a N1. Por um lado, não é fácil. Por outro… Passo a explicar. O centro da Islândia é constituído por glaciares, montanhas e vulcões. Não há estradas asfaltadas e as que existem estão limitadas ao uso de veículos 4×4. Pelo menos até darmos de cara com uma “muralha” intransponível.

Por esta razão, é fácil percorrermos a N1 já que não há uma verdadeira alternativa. A partir do momento em que iniciamos a viagem, temos duas hipóteses para voltar ao ponto de partida: para a frente ou para trás. Sem atalhos.

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Por outro lado, as maiores dificuldade em percorrer os mais de mil quilómetros do caminho estão no facto de haver ainda algumas pequenas secções que não estão asfaltadas, assim como as condições climatéricas da Islândia que fazem com que o gelo e a neve estejam presentes durante grande parte do ano (embora se faça a sua remoção) e o vento forte seja quase uma constante.

Mesmo durante o verão, o tempo muda muito rapidamente. Tão depressa o sol brilha como uma forte chuvada se abate sobre a terra e o mar. Para além destas dificuldades, a maior, sem dúvida, é não pararmos de 10 em 10 minutos para tirar mais uma fotografia à paisagem incrível que surge a seguir a cada curva. Com sorte, à noite, quem sabe não encontramos uma Aurora Borealis e decidimos fazer uma prolongada paragem.

É uma aventura percorrer esta estrada. Mas não se pode dizer que seja perigoso. Especialmente se cumprirmos os limites de velocidade (90 km/h no asfalto / 80 km/h na terra batida). Contudo, espere encontrar excitantes curvas e lombas cegas, pontes com apenas uma via ou passagens estreitas. Perto de Reiquiavique, o trânsito pode ser um pouco intenso. Noutras áreas mais remotas, poderemos ver apenas 100 carros a passar durante o dia.

O que encontrámos ao longo da Ring Road

Esta estrada é muito popular entre os viajantes porque cobre a maioria do país, permitindo chegar a populações e lugares mais isolados. Para além disso, o número de atrações e pontos de interesse que encontramos ao longo do caminho é representativo da diversidade da Islândia.

Mas comecemos ao contrário do que seria de esperar, pelos pequenos desvios que há que fazer para visitar alguns lugares inesquecíveis, todos a nunca mais de 50 km da N1 e perfeitamente acessíveis numa pequena viagem de um dia a partir de Reykjavik.

  • Parque Nacional de Thingvellir – um lugar importantíssimo para os islandeses, já que aqui se realizou o primeiro parlamento do país, em 930, e se proclamou a sua independência, em 1944.
  • Nascentes Termais Geyser – foi aqui que nasceu o termo géiser. Prepare-se para se deixar surpreender pela água a elevar-se no ar. Impressionante.
  • Cascata Gullfoss – maravilhosa e poderosa cascata com um ruído ensurdecedor.
  • Lagoa Azul – um spa de outro planeta com águas a 38ºC que são aquecidas por uma central geotérmica.
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Fora deste pequeno “raio de ação” o que podemos (e vamos mesmo) encontrar?

  • Reykjavik – a interessante capital, muito provavelmente onde iniciará o seu percurso.
  • Cascata Godafoss – a “cascata dos deuses”.
  • Pseudo crateras – formadas a partir de bolhas de vapor causado pela lava.
  • Campos de lava Dimmuborgir – cavernas e formações vulcânicas rochosas com percursos para fazer caminhadas.
  • Cratera vulcânica Hverfjall – suba ao topo do cone com 400 m.
  • Lago Mývatn – área natural com imensas aves, cones vulcânicos, lava e piscinas termais.
  • Área geotermal Hverarönd – zona com grandes poças de lama borbulhante com cheiro a enxofre e vapor.
  • Campos de lava do vulcão Krafla – faça uma caminhada neste cenário único de chão negro e quente.
  • Cratera inundada Viti, vulcão Krafla – nos momentos em que o sol brilha, as cores da água são fantásticas.
  • Cascata Dettifoss – uma das maiores da Islândia e da Europa, 100 m de largura e queda vertical de 44 m.
  • Jökulsárlón – uma lagoa onde flutuam icebergues resultantes do gelo que derrete do glaciar.
  • Parque Nacional Vatnajökull – o maior parque nacional da Europa, incluindo o glaciar Vatnajökull e o Parque Nacional Skaftafell. A partir dos centros de visitantes pode planear as suas atividades de natureza por toda a área: caminhadas pelo parque e/ou em cima do glaciar; montanhismo e escalada; birdwatching; pesca; passeios a cavalo, de kayak, moto4, 4×4, etc..
  • Planalto rochoso Dyrhólaey – vistas incríveis lá de cima.
  • Cascata Skógafoss – uma das maiores do país, com 60 m de altura.
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Para além destes locais, à beira da estrada vai descobrir paisagens fabulosas, infindáveis campos de lava cobertos de musgo, fumegantes centrais geotérmicas, fiordes, rios, montanhas, praias… Muitas destas paisagens vão ter ovelhas. Muitas ovelhas. E cavalos. Que nos dão as boas vindas por onde quer que passemos neste lugar que é, talvez, o mais próximo de outro planeta que possamos estar nos anos mais próximos. Imperdível!

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