Quando falamos de absentismo laboral, falamos de faltas ao trabalho. Se a doença é o motivo mais habitual, há muitos outros fatores que contribuem para um dos problemas que mais preocupa diferentes setores de atividade em Portugal e tem um reflexo relevante na economia nacional.
Tema de estudo, o absentismo tem vindo a ser analisado ao longos dos últimos anos, de modo especialmente atento, não só no que respeita ao mundo do trabalho, mas também académico. Assim, tenta-se perceber também o que leva tantos estudantes a abandonarem a escola cedo de mais.
Muitas das causas, em ambos os casos, são evidentes. Apesar disso, repetem-se. Se por um lado há empresas ainda demasiado formatadas que resistem à mudança em vez de a promover, casos há em que os esforços ou as ferramentas não são suficientes ou suficientemente eficazes para por cobro a tal complexidade, ainda que a solução até possa estar em passos simples.
E a pandemia, o confinamento, o teletrabalho e o ensino a distância? Que efeitos têm tido nos números do absentismo?
Saiba tudo.
Absentismo: o que é
Absentismo é sinónimo de hábito de não comparecer, de estar ausente, o contrário de assiduidade.
Falamos, essencialmente, de absentismo laboral e também de absentismo escolar, dois dos contextos onde este facto assume uma importância especialmente relevante.
Absentismo e pandemia: o que dizem os estudos?
A COVID-19 fez disparar as faltas por doença, incluindo no setor da saúde. Se os números nunca foram tão dramáticos, a verdade é que o absentismo laboral é há muito uma realidade preocupante, como mostram alguns estudos.
Absentismo laboral sem precedentes na saúde
Nos primeiros 6 meses de pandemia, de março a agosto de 2020, o absentismo disparou nos hospitais públicos. As faltas por doença aumentaram 64%, em comparação com o mesmo período de 2029, entre os profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), na “linha da frente” na luta contra o novo coronavírus.
No total, médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica, assistentes operacionais e os restantes profissionais dos hospitais públicos faltaram mais 467 mil dias, por doença, ao longo do tempo analisado.
Um estudo realizado pela consultora Iqvia para a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), que procurou perceber o impacto da pandemia nos hospitais do SNS, indicou que as faltas em geral, por doença, acidente, para ficar em casa com os filhos, faltas injustificadas, etc., dispararam com a pandemia.
Considerando todos os motivos, foram contabilizados mais de 620 mil dias de ausência ao trabalho nos primeiros seis meses da epidemia de COVID-19 em Portugal. Isto representa mais 38% do que no período homólogo (2019).
Ficou por perceber os motivos de um aumento tão significativo do absentismo por doença. Especula-se que possa decorrer de ausências devido à quarentena, à COVID-19, ao apoio à família, ao receio de contágio e, ainda, ao cansaço ou burnout.
Dados pré-pandemia
Segundo os dados do Índice de Saúde Sustentável, desenvolvido pela Nova Information Management School (NOVA-IMS), cerca de metade do valor investido no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 2018 permitiu um retorno de 5,1 mil milhões para a economia, tendo em conta o impacto dos cuidados de saúde no absentismo e na produtividade.
Segundo o trabalho da NOVA-IMS, em média, os portugueses faltaram quase seis dias (5,9) ao trabalho em 2018, o que resultou num prejuízo de 2,2 mil milhões de euros. No entanto, a prestação de cuidados de saúde através do SNS permitiu evitar a ausência laboral de outros dois dias (2,4), o que representa uma poupança de 894 milhões de euros.
Já em 2016, O absentismo laboral era tido como um dos sinais mais evidentes da falta de envolvimento dos profissionais com as empresas.
O Grupo Ayming estudou o fenómeno em vários países, entre eles Portugal, com o objetivo de perceber a principal razão para o absentismo laboral.
O inquérito conduzido pela consultora de business performance durante um mês junto de 71 diretores de recursos humanos nacionais, de diferentes setores de atividade, apontava uma hierarquia de causas para o absentismo laboral.
Aqui, a falta de reconhecimento (51%), as relações de trabalho pouco saudáveis (46%), os planos de saúde e segurança no trabalho (43%), os mecanismos de flexibilidade e adaptabilidade do trabalho (41%), os planos de desenvolvimento profissional desadequados (36%) e problemas ao nível da igualdade de oportunidades na carreira (30%) encabeçavam a lista.
Absentismo escolar
No contexto escolar, o absentismo acarreta outras razões e consequências. No entanto, o cenário é igualmente preocupante, sobretudo devido ao impacto da pandemia nas rotinas dos estudantes.
Já em 2019, 10,6% dos jovens portugueses abandonaram a escola sem obter uma qualificação de nível secundário (escolaridade obrigatória). Os números são o reflexo da falta de motivação dos jovens e da necessidade de os ajudar a gerir expectativas em relação ao futuro.
Com a chegada da pandemia, de acordo com um estudo da NOVA SBE, em média, 23% dos alunos portugueses não tinham um computador com acesso à Internet durante o primeiro confinamento devido à COVID-19. Mas as dificuldades foram para além disso.
Muitos dividiam o mesmo espaço com irmãos de diferentes idades e pais em teletrabalho. Mais ainda, convivem com dificuldades económicas e mesmo violência doméstica e negligência, por exemplo. Nesse contexto, o absentismo escolar começou a tornar-se uma realidade cada vez mais evidente.
No início do ano letivo 2020-2021, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) alertava para os problemas agudizados pela pandemia, entre os quais o absentismo. Mais ainda, segue-se o abandono escolar, problemas de aprendizagem, assim como dificuldades emocionais, relacionais, motivacionais e de ajustamento.
No documento sobre o regresso às aulas, que a Ordem dos Psicólogos realizou em conjunto com a UNICEF, alertava para o facto de após meio ano em casa, os alunos poderem apresentar dificuldades de atenção e concentração. Para além disso, podem apresentar problemas de comportamento e indisciplina, discriminação, exclusão social e estigma, o que podia conduzir um possível agravamento de situações como o insucesso ou abandono escolar.
É, ainda, uma incógnita como vai correr esta fase de ensino a distância, com o segundo confinamento geral. A entrega de computadores nas escolas, veio minimizar as dificuldades.
6 práticas para reduzir o absentismo laboral
Na luta contra o absentismo laboral, as empresas assumem um papel decisivo.
Bom ambiente organizacional
Funcionários que não se sentem bem onde trabalham e que têm dificuldades de relacionamento por causa de uma má gestão de pessoas não conseguem, são menos produtivos e faltam com frequência.
Comunicação eficiente
No ambiente organizacional, a comunicação engloba o diálogo presencial entre colegas e também demais veículos: e-mail, reunião, telefone, tv corporativa etc.
Assim, para ter uma comunicação eficiente, é necessário entender o perfil dos colaboradores e descobrir qual ferramenta é a mais adequada para a equipe.
Hábitos saudáveis
A maioria das faltas são causadas por problemas de saúde. Para além da Medicina no Trabalho, a empresa oferecer um seguro de saúde aos seus colaboradores também é uma forma de assegurar a resolução atempada de alguns problemas.
Para além disso, podem ajudar simples ações como disponibilizar fruta e água aos colaboradores ou opções saudáveis nas máquinas de vending. Mais ainda, deve ser incentivada a prática de desporto ou mesmo de meditação, para reduzir o stress.
Flexibilidade
Sempre que possível, os horários de trabalho dos colaboradores devem ser adaptados, de acordo com as necessidades dos mesmos e do negócio.
O trabalho à distância, mais do que uma obrigação atual imposta pelo confinamento, pode mesmo ser o regime mais produtivo.
Política de reconhecimento
A maior parte das pessoas sente a necessidade de ser reconhecida pelo seu trabalho. A implementação de uma política de reconhecimento é uma das principais estratégias para evitar o absentismo.
Plano de carreira
Feito pelos gestores com a finalidade de encontrar um equilíbrio entre o interesse individual do profissional e da empresa, o plano de carreira transmite motivação ao colaborador, permitindo-lhe evoluir, enquanto que a empresa beneficia dos resultados.
Estes são alguns fatores que, com as devidas adaptações a cada contexto, podem ajudar a evitar o absentismo.