Os ativistas querem acabar com o termo pets para melhorar o relacionamento entre humanos e animais de estimação. A sugestão é de Ingrid Newkirk, a fundadora da organização americana de defesa dos direitos dos animais PETA (People for the Ethical Treatment of Animals). A PETA foi criada nos anos 80 do século XX e é uma das organizações do género com maior visibilidade no mundo.
Tornou-se famosa graças às suas campanhas de comunicação controversas, que denunciam casos de abuso e de tratamento indevido de animais e que contam muitas vezes com o apoio de celebridades mundiais. Para a sua fundadora, a palavra pet reduz os animais de estimação a “mercadorias” e a meros elementos de “decoração”, uma situação que é urgente mudar.
Ativistas querem acabar com termo pets. perceba porquê
Para valorizar os animais
Para Ingrid Newkirk, mudar o termo pet para “acompanhante” ou “companheiro” é uma forma de valorizar os animais de estimação e de ajudar os humanos a repensar a relação que mantêm com esses animais.
A fundadora da PETA afirma também que já é tempo das pessoas deixarem de encarar os chamados pets como algo que lhes é útil, escolhendo-os porque são um “alarme barato”, porque “combinam” com a sua personalidade ou porque dão estatuto ao seu estilo de vida. Para ela, mudar a forma como falamos desses animais seria um pequeno grande passo.
Porque as palavras influenciam atitudes e comportamentos
Ingrid Newkirk não está sozinha nesta vontade de mudar a linguagem humana sobre os animais. Alguns académicos e políticos dos chamados partidos verdes e ecologistas também concordam. Acham que a utilização de algumas expressões e termos linguísticos ajuda a manter e a reforçar comportamentos negativos face aos animais.
Em Portugal, tivemos o caso recente do PAN (Partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza) que propôs a alteração de alguns provérbios populares tradicionais que, a seu ver, reforçam o comportamento negativo contra os animais. “Matar dois coelhos de uma cajadada só” era um dos exemplos apontados e que poderia ser alterado para “Pregar dois pregos de uma martelada só”.
Esta é um tendência que se inspira na preocupação com a forma como a nossa linguagem pode marginalizar grupos sociais mais suscetíveis de serem discriminados dentro da espécie humana.
Em Portugal, as preocupações com a igualdade entre os sexos são um caso exemplar desta tendência. Ela levou a que alguns políticos nacionais passassem a ignorar a regra do plural masculino da língua portuguesa, que engloba os dois sexos, para começarem a dirigir-se aos “portugueses” e também às “portuguesas”. Mas será o uso da palavra pet um bom exemplo deste tipo de discriminação?
Termo pet significava originalmente “animal manso” ou “animal preferido”
Na língua inglesa, a provável origem do termo pet remonta à palavra “peata”, que em gaélico significa “animal manso”. Os primeiros registos da palavra já são evidentes no início do século XVI, onde aparece como sinónimo de “animal preferido”, que é tratado com especial atenção.
O termo sobreviveu até aos dias de hoje, inclusive na expressão “teacher’s pet”, que em português equivale ao “favorito do professor”, e de que há registos desde 1890. Este título sempre foi pouco popular entre a maioria dos alunos, já que é sinónimo de alguém que está sempre pronto a agradar ao professor. Um pouco como os pets parecem fazer com os seus donos, ou melhor, como alguns donos esperam que os seus pets se comportem.
É nesta questão que a discussão académica vai mais além do que a mera alteração do termo pet para “companheiros” ou “acompanhantes”. Para alguns, a palavra pet é sinónimo de manipulação e controlo total da vida de um animal em prol da comodidade e agrado do seu dono. Muitos vão mais longe. Afirmam que nem deveríamos ter animais de estimação, já que só o ato de “ter” vai profundamente contra o tratamento de igual para igual.
Pet ou companheiro: o importante é o seu bem-estar
Mas, por mais supérflua que esta discussão sobre termos e linguagem lhe possa parecer, a verdade é que tem na base uma preocupação legítima com o bem estar dos animais na sociedade humana. Sendo a vida dos animais de companhia quase completamente controlada pelos seus donos, se estes não estiverem preparados para respeitar o seu animal como ser vivo de pleno direito no planeta, é muito provável que não consigam satisfazer sequer as suas necessidades básicas.
Sabemos também que mudar a linguagem pode não fazer grande diferença, se não se mudarem outros valores e comportamentos. É o caso da língua portuguesa que, neste caso, até parece estar um passo à frente no ativismo pelos direitos dos animais. Entre nós sempre foi comum chamar aos pets de animais de companhia, um tratamento que nem por isso nos coloca no topo da lista dos países onde os seus direitos são mais respeitados.
Independentemente de lhe chamar pet ou companheiro, o que é importante nesta fase de evolução da humanidade, em prol da justiça entre espécies, é que os donos/companheiros saibam o que esperar de uma relação justa com o seu “acompanhante”. Não exijam que ele faça tudo para lhe agradar e não lhe atribua características ou sentimentos humanos que ele não possui, ignorando as suas verdadeiras características, necessidades e comportamentos naturais. Fazê-lo seria um sinónimo de desrespeito pelo seu animal de companhia e é, sem dúvida, um tratamento que não desejaria para si.