De tempos a tempos – e o Aloe vera é um magnífico exemplo – somos inundados por uma torrente de informação a anunciar a descoberta da derradeira planta que resolve praticamente todos os problemas de saúde e alma (e, não raras as vezes, sem qualquer base científica).
Tenho um gosto natural pelo Aloe vera, envasei-a no jardim e, seguindo os conhecimentos da sabedoria popular, aplico em queimaduras com bons resultados. Mas será que a Babosa – outro nome para a planta, por razões óbvias – terá tantas propriedades terapêuticas como se publicita?
A planta de Aloe Vera
Planta perene, pode atingir 4 metros de altura e mais de 2 de envergadura. Faz parte do grupo das chamadas suculentas, dada a concentração de água que possui dentro das suas folhas (representa 99% do seu peso). A componente do Aloe Vera utilizada é o gel, bastante complexo na sua composição e que inclui glicoproteínas e polissacarídeos, especialmente.
É a mais famosa das mais de 200 espécies de Aloe – delas, apenas 4 são consideradas de segura utilização – e estima-se que há 6.000 anos seria já aplicada com finalidades tão vastas como o tratamento de queimaduras, cicatrização de feridas ou como anti-inflamatório, como exemplos. De importância tal, era oferecida como presente aos faraós. Denominavam-na de “planta da imortalidade”.
Na história, reza a lenda que seria usada por Cleópatra como hidratante e pelos soldados de Alexandre o Grande para curar feridas de guerra.
Formas disponíveis e onde comprar
Se for fresca e para obter o gel, basta que parta a folha, descascando-a para que seja mais fácil de retirar. No entanto, pode encontrá-la sob o formato de xarope, cremes, loções, cápsulas, sumos, etc., nos mais variados tipos de comércio: lojas de cosmética, de produtos naturais e/ou biológicos; supermercados; e farmácias.
O que diz a ciência
O Aloe vera tem componentes bioactivos que sugerem o seu potencial para reforço do sistema imunitário, anti-obesidade, combate à diabetes e como anti-inflamatório.
Porém, a maioria dos efeitos positivos associados ao Aloe vera ou não foram comprovados cientificamente ou consideram-se os estudos considerados pouco exaustivos. Aceita-se na generalidade que a utilização tópica (na pele) é segura e existem evidências de que contribui efetivamente para o alívio das queimaduras solares, queimaduras superficiais ou pequenos cortes.
Benefícios atribuídos ao Aloe vera
Muitos dos fármacos desenvolvidos pela indústria farmacêutica provêm de plantas. A falta de estudos suficientes não significa que as tradições e o conhecimento popular relativo ao poder curativo de ervas não se venha a verificar correto mais tarde.
Desta forma, damos espaço ao seu espírito crítico e apresentamos-lhe algumas das utilizações – comprovadas e não comprovadas – que se dão ao Aloe vera actualmente.
Antioxidante e antibacteriano
O Aloe vera detém uma complexa composição fitoquímica antioxidante e antibacteriana (nomeadamente apresentando polifenóis e alcalóides), que poderá ser útil no alívio de sintomas que previnem ou estão associados a condições como doenças cardiovasculares, degenerativas ou diabetes.
A maior parte das investigações considera que estudos posteriores serão necessários para complementar a utilização com este fim.
Alívio de queimaduras
O Aloe vera é recomendado para queimaduras por “enfermeiros e médicos radioterapêutas” a doentes de cancro, segundo o Cancer Research UK. Vários estudos indicam a segurança para tratamentos de pequenos problemas de pele com Aloe vera e a sua eficácia no alívio dos sintomas.
Anti-inflamatório
O potencial anti-inflamatório do Aloe vera foi testado em ratos e observado como efetivo na proteção contra a lesão de isquemia do nervo ciático.
Redução na placa bacteriana dentária
Estudos demonstraram que enxaguar boca com uma solução de Aloe vera foi tão eficaz quanto a clorexidina, substância presente na maioria dos produtos feitos para a higiene dentária.
O seu poder antibacteriano actua sobre os microrganismos responsáveis pela placa dentária (bactéria Streptococcus mutans e a levedura Candida albicans). A ciência sugere que pode ter um efeito regenerativo dos dentes, estimulando as células responsáveis.
Tratamento das aftas
O alívio de aftas e da dor associada foi demonstrada num estudo que utilizou um emplastro impregnado com gel de Aloe vera. Porém, os efeitos verificaram-se menos eficazes do que os tradicionalmente usados para o fim.
Prisão de ventre
A aloína presente em concentrações consideráveis proporcionam poder laxante ao Aloe vera. No entanto, nos Estados Unidos, foi proibida a sua comercialização por falta de apresentação de indicadores de segurança pelos produtores. Pode provocar cólicas dolorosas e por essa razão não é aconselhável usar para o efeito.
Psoríase
“Concluímos que a administração de Aloe vera como tratamento cutâneo geralmente é bem tolerada, pois não foram relatados efeitos colaterais graves. Resultados sobre a eficácia da planta são contraditórios”, conclui assim um estudo que pretendeu relacionar o Aloe vera e seus benefícios na psoríase.
Anti-aging
Um estudo realizado em 2009 observou que a utilização do gel em 30 mulheres com mais de 45 anos melhorou consideravelmente as rugas e elasticidade da pele, com o aumento da produção de colagénio e diminuição da expressão do gene responsável pela degradação do mesmo.
Diminuição do açúcar no sangue
Um estudo de meta-análise efetuado em 2016 sugeriu que o Aloe vera pode ser um bom aliado no controlo glicémico na pré-diabetes e diabetes tipo 2, “apesar das limitações da informação disponível e elevada heterogeneidade dos resultados”.
Precauções a ter em conta
Entretanto, têm-se somado alguns estudos que demonstraram que o extrato da folha completa causa cancro do intestino em ratos. O composto que se desconfia ser o “vilão” – uma das variedades de aloína – pode ser diminuído através de processos químicos, reduzindo assim o risco de problemas de saúde relacionados com produtos à base de Aloe.
Existem relatos de outros sintomas, como diarreia, insuficiência renal, fototoxicidade e hipersensibilidade, entre outros. Potenciais interacções prejudiciais com medicamentos poderão ocorrer, pelo que se recomenda a consulta ao seu médico.
Aloe vera faz realmente bem à saúde?
Depois da informação que apresentámos, poderá tirar as suas próprias conclusões e definir as suas escolhas. Mais importante que tudo é que deveremos ser bastante críticos em relação a plantas ou substâncias milagrosas, sejam elas naturais ou de origem laboratorial.
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