Olga Teixeira
Olga Teixeira
16 Out, 2023 - 11:30

Amortizar crédito: será esta a altura certa para o fazer?

Olga Teixeira

Com as taxas de juro a subir, será que amortizar crédito é uma boa opção? Vamos analisar as vantagens e as desvantagens.

Amortizar crédito

Amortizar o crédito será uma boa forma de minimizar o impacto da subida das taxas de juro? Vale a pena abdicar das poupanças para pagar mais cedo parte do empréstimo? O que é preciso fazer? Perceba o que implica esta opção.

Quando as taxas de juro sobem e a Euribor volta a ter valores positivos, as famílias que contraíram créditos começam a sentir alguma pressão no orçamento. Sobretudo quando os créditos têm uma taxa variável, o que significa que o valor das prestações está também a aumentar.

Neste contexto, amortizar o crédito pode parecer uma boa opção. Pagando parte do empréstimo vai reduzir o valor em dívida. Logo, o montante da prestação mensal vai descer. Ainda assim, há diversos fatores a ter em conta.

O que significa amortizar o crédito?

A amortização, também designada como reembolso antecipado, consiste em pagar uma parte da dívida antes da data inicialmente prevista. Caso pretenda, tem também a possibilidade de fazer o reembolso total antes de terminar o prazo contratado. Isto é, liquidar o crédito.

O reembolso antecipado pode acontecer em qualquer momento e a amortização pode ser no valor que o cliente bancário entender.

O que está a amortizar?

Cada prestação inclui juros e amortização de capital, ou seja a remuneração e reembolso de parte do dinheiro que lhe emprestaram.

Nas fases iniciais dos contratos estará a pagar sobretudo juros e apenas uma pequena parte corresponde à amortização de capital.

O que significa que, se contraiu um empréstimo recentemente, está ainda nessa etapa em que a maior parte da prestação corresponde a juros. Se tiver uma taxa variável, e dado que as taxas estão a subir, acaba por sentir mais o impacto deste aumento.

Amortizar crédito: quando e como?

A amortização deve ter lugar na data que coincide com o pagamento da prestação. No entanto, terá de avisar o banco com uma antecedência mínima de 10 dias úteis.

Após receber o pedido, a instituição bancária deve informar rapidamente o cliente, por escrito, sobre o impacto do reembolso do crédito. Isto é, indicar o novo valor da prestação após a amortização. Ao amortizar vai reduzir o valor a pagar mensalmente, dado que o valor do capital em dívida é menor.

Os clientes podem optar por alterar a duração do período de reembolso em vez de amortizar o crédito. Por exemplo, optar por pagar o empréstimo em 10 anos e não nos 20 inicialmente contratados. Neste caso, porém, estará a fazer uma renegociação dos termos do contrato, algo que só é possível se existir acordo entre o cliente e o banco.

Amortizar tem custos?

amortizar crédito habitação

Ao amortizar o crédito terá de pagar ao banco uma comissão de reembolso, a menos que o seu contrato preveja uma isenção. Os limites máximos destas comissões para os créditos habitação estão definidos por lei e correspondem a:

  • 0,5% do capital que é reembolsado se o contrato tiver taxa de juro variável;
  • 2% do capital reembolsado se a taxa de juro for fixa.

Se a amortização ocorrer por morte, desemprego ou deslocação profissional de um dos titulares do empréstimo não tem de pagar comissão.

O banco pode ainda cobrar despesas que tenha feito por conta do cliente, como pagamentos a conservatórias, cartórios notariais ou administração fiscal. O cliente pode também ter de devolver quantias que o banco tenha pago aquando da celebração do contrato de crédito.

Quanto poupa ao amortizar um crédito?

Tudo vai depender do valor que ainda tem em dívida, do montante da amortização e do tipo de taxa de juro. Assim, e antes de decidir amortizar, é conveniente fazer as contas e perceber se compensa, isto é, se a descida da prestação é significativa ou se vale a pena esperar um pouco mais e aumentar o valor do reembolso.

O ideal será consultar o seu banco e simular vários cenários, escolhendo depois a opção que for mais vantajosa.

Vantagens e desvantagens de amortizar crédito

A opção pela amortização do empréstimo tem prós e contras que deve conhecer.

Vantagens

A grande vantagem de amortizar um crédito é o alívio financeiro.

1. Orçamento familiar mais folgado

A redução da sua taxa de esforço é uma vantagem evidente. Ou seja, a parte do seu orçamento familiar que se destina ao pagamento de empréstimos vai passar a ser menor.

Quando opta por uma amortização de crédito parcial, lembre-se que não só está a adiantar o pagamento ao banco como também a fazer descer as despesas acessórias. Isto é, os juros, as comissões, os seguros de vida associados ao crédito. Ou seja, tudo baixa quando o valor em dívida desce.

Se a amortização for total, fica sem dívidas, o que é ainda mais vantajoso.

2. Facilita o pedido de novo crédito

Amortizar crédito também pode ser uma solução quando precisa de pedir algo ao banco.

Se quiser fazer um investimento, por exemplo, e precisar de ajuda do banco, muitas vezes compensa amortizar os créditos atuais. Depois pode começar a negociar a ajuda do banco para o investimento que vai fazer. Se não o fizer, o crédito que tem pendente pode atrapalhar o seu poder negocial.

3. Reduz o valor do seguro de vida

Se tiver um crédito habitação, outra das vantagens é a redução do valor de seguro de vida que terá de pagar. Lembre-se que à prestação mensal acresce o pagamento do seguro e que este está ligado ao valor em dívida, mas também à sua idade.

Dito por outras palavras, quanto mais avançar na idade mais terá de pagar pelo seguro. Com a amortização do crédito vai conseguir poupar bastante.

4. Terá liberdade financeira

Se não tiver dívidas aos bancos, a sua situação financeira poderá ter menos preocupações. Em situações de incerteza não ter dívidas permitir-lhe-á encarar o futuro com mais tranquilidade.

Desvantagens

Apesar da amortização representar uma poupança nas prestações do crédito, terá de contar com algumas despesas.

1. Pagamento de comissões

Como referimos, ao amortizar um crédito vai ter de pagar uma comissão de reembolso antecipado. Como é uma percentagem do valor que amortizar, quanto mais amortizar, mais terá de pagar.

Nos créditos pessoais, os valores podem ser distintos e variam de banco para banco. Assim, é aconselhável ver o preçário da instituição financeira onde contraiu o crédito.

2. Pode perder benefícios fiscais

No caso do crédito habitação tenha em conta que, se o seu empréstimo for anterior a 31 de dezembro de 2011 (nos termos do artigo 78ºE do código do IRS), pode deduzir até 15% dos juros que pagar durante o ano.

Esta dedução tem, no entanto, um limite de 296 euros. Assim, se tem direito a esse benefício, faça as contas.

3. Pode perder vantagens noutros produtos financeiros

Outra desvantagem prende-se com os produtos associados. Por exemplo, as condições de seguro de vida podem ser mais vantajosas porque a apólice está associada a um contrato de crédito. O mesmo para contas sem despesas de manutenção, taxas de juro bonificadas nos depósitos a prazo e outros benefícios que pode perder se deixar de ter um crédito naquele banco.

3 dicas para amortizar um crédito

1

Faça contas

Faça contas. Use uma folha de cálculo e de um lado liste todos os créditos que tiver, incluindo cartões de crédito. Escreva a taxa de juro, prestação que paga e prazo do empréstimo.

Escreva do outro lado quanto o pode poupar em juros, comissões ou outros encargos como o seguro de vida (caso esteja associado ao crédito) se fizer uma amortização parcial ou total.

Depois decida.

2

Comece por reduzir ou liquidar os empréstimos com maior taxa de juro

Quanto maior a taxa de juro, maior o valor que terá de pagar ao banco. Se tiver vários créditos, pode ser bom começar por amortizar o que tiver a taxa de juro mais alta. Numa altura em que as taxas tendem a subir, é importante reduzir o peso dessa despesa.

3

Tenha em conta o aspeto psicológico

Apesar de ser aconselhável liquidar primeiro o empréstimo com taxa de juro mais alta, o certo é que a componente psicológica é um aspeto a ter em conta.

Se tem muitos empréstimos, então liquidar um deles, mesmo o mais pequeno, pode ser um incentivo ainda maior para poupar e liquidar o seguinte.

Fontes

Artigo originalmente publicado em julho de 2019. Última revisão em outubro de 2023.

Veja também