Share the post "Ansiedade financeira: o que fazer quando o dinheiro não chega?"
Equilibristas na corda bamba! É como grande parte dos portugueses tem vivido os últimos meses, enquanto faz contas à vida e tenta, demasiadas vezes sem sucesso, esticar os rendimentos. Como fazer este caminho sem sucumbir a um estado de ansiedade financeira?
Preços da alimentação em escalada, rendas mais altas, taxas de juro do crédito habitação a baterem recordes e salários que não acompanham este aumento generalizado do custo de vida…É este o retrato de Portugal no último ano, com especial agravamento nos últimos meses.
Se as suas finanças pessoais lhe têm tirado noites de sono, é preciso encontrar estratégias para enfrentar os problemas.
A pensar em todos aqueles que estão a lidar com ansiedade financeira, listamos alguns conselhos que podem ajudar a encontrar algum equilíbrio.
Ansiedade financeira: o que é?
Sente-se preocupado ou angustiado com a gestão das suas finanças pessoais? Tem medo que o dinheiro não chegue para pagar as contas mensais? Já entrou ou prevê que vá entrar em incumprimento?
Se chegou à conclusão que os seus rendimentos não são suficientes para fazer face aos gastos mensais e este pensamento é recorrente, causando preocupação acrescida, então provavelmente está a viver num estado de ansiedade financeira.
Antes de mais, este tipo de ansiedade é tão natural como qualquer outra emoção e faz parte de processos que envolvem estados de tensão ou de grande preocupação financeira. Ainda assim, é um sentimento que não deve ser ignorado.
Os sintomas da ansiedade financeira – crises de ansiedade, insónias, ataques de pânico, isolamento social, tristeza – são indicadores de problemas que, a longo prazo, podem deixar marcas tanto na sua saúde física como na saúde mental.
O que está a causar este stress financeiro?
O contexto socioeconómico que o país atravessa tem sido um fator de stress financeiro para grande parte dos portugueses. E as razões são mais do que muitas.
Em outubro de 2022, imagens de bens alimentares essenciais com alarmes eram notícia em Portugal. Ao mesmo tempo, instalava-se a crise que afetou os preços dos combustíveis, disparavam as faturas da eletricidade e do gás (mesmo à porta do inverno), e anunciavam-se os aumentos nas rendas e nas taxas de juro do crédito habitação.
De lá para cá pouco mudou para melhor neste cenário de pressão financeira.
Crise à mesa
Os preços cobrados na alimentação têm sofrido consecutivos aumentos. Para travar a inflação – que há quatro meses para cá apresenta apenas uma tendência de abrandamento ligeiro -, o Governo decidiu eliminar o IVA de um cabaz de alimentos essenciais. Mas a verdade é que, apesar de positiva, esta medida pouco impacto terá no bolso dos portugueses.
Mais, a queda na inflação não se tem refletido no índice que acompanha os preços dos produtos alimentares não transformados: a DECO apontou, em fevereiro, que atingimos os piores números desde 1990.
Ainda de acordo com a Associação para a Defesa do Consumidor, em março, um cabaz de bens alimentares considerados como essenciais registou uma leve tendência de queda no preço, mas contas feitas à ponta do lápis mostram que a inflação ainda pressiona aquilo que pagamos para comer.
A 22 de março este cabaz custava 226,15 euros – cerca de 9 euros a menos face à semana anterior, em que houve um recorde de preços. Numa breve comparação com o período homólogo de 2022 o mesmo cabaz custava 192,28 euros – que era ainda mais barato antes da invasão da Rússia à Ucrânia.
Laticínios, ovos e carnes foram as categorias que mais registaram aumentos.
Preço da habitação a atingir recordes
A escalada da Euribor marca, mês a mês, a ansiedade de quem tem de pagar a prestação do crédito habitação – atingimos máximos de 14 anos. Há mesmo quem esteja a pagar cerca de 300 euros a mais pela prestação da casa.
Para quem arrenda imóvel a situação não é mais branda: a renda ficou mais cara e há escassez de oferta no mercado.
Para fazer face aos consecutivos aumentos de preços – e sobreviver à ansiedade financeira – é preciso identificar o problema e as possíveis soluções, mas também mudar o mindset, alterando comportamentos e hábitos de consumo.
7 estratégias para lidar com a ansiedade financeira
Identifique o problema
O primeiro passo é identificar os sintomas de ansiedade – como nervosismo, dificuldade em adormecer, letargia, depressão, vontade de isolar-se, sentimento de vergonha, ataques de pânico, por exemplo. Estes sintomas estarão associados ao endividamento, a situações de incumprimento e incertezas sobre o futuro?
Adote estratégias para se manter equilibrado
Nada como um dia após o outro, com uma noite pelo meio. Por isso, procure ter uma boa noite de sono sempre que estiver a passar por períodos de maior tensão. Se preciso for, altere a rotina de forma a conseguir deitar-se mais cedo. Uma mente cansada não pensa com clareza e não toma as melhores decisões.
Tente ultrapassar os sintomas que identificou como associados à ansiedade. Ou seja, fuja ao sentimento de vergonha e ao isolamento, e não acumule emoções com cargas negativas. Respire fundo para enfrentar o problema com a objetividade necessária.
Se sentir que ajuda, peça aconselhamento financeiro e consulte um especialista em saúde mental. Uma visão de fora, talvez o ajude a avaliar o problema sob outro ponto de vista.
Avalie a sua situação financeira e procure soluções
Estabelecido algum equilíbrio mental diante do problema, é altura de avaliar a sua vida financeira – mas sem julgamentos e cargas emocionais neste processo. Analise com frieza e procure onde pode encaixar estratégias de superação.
É o momento de ser objetivo e racional, para sistematizar todos os obstáculos financeiros que prejudicaram a estabilidade das suas contas – e o colocaram em situação de stress.
Tem um perfil mais consumista? Existe o hábito de comprar por impulso? No que pode cortar ou poupar? É possível traçar um plano de poupança, reduzindo alguns custos por um período de tempo?
Esta é mesmo a altura de passar o seu orçamento a pente fino, cortar o que não é essencial e renegociar alguns contratos se for necessário.
Por exemplo, se a prestação da casa está a tornar-se sufocante, é boa ideia procurar o banco e negociar soluções. Se tem vários créditos diferentes, talvez seja coerente fazer um crédito consolidado e ficar apenas com uma prestação – que, na maior parte dos casos, tende a ser mais baixa do que a soma de todos os créditos isolados.
Foque-se naquilo que tem sob controlo
É fundamental que consiga manter o foco naquilo que pode, efetivamente, ter sob controlo. Ou seja, mais uma vez, é importante que saiba fugir aos gatilhos emocionais que associa ao problema.
Não fique a ruminar sobre questões para as quais não tem resposta imediata ou para problemas cujas soluções não estão ao seu alcance.
Fixe toda a sua atenção em gerir melhor as suas finanças pessoais, na sua vida e nas escolhas que faz. Este passo vai diminuir a sua ansiedade financeira.
Vá atrás de ajuda financeira especializada
Se depois de estabelecida a calma, identificados os obstáculos e encontradas soluções possíveis, ainda assim fez as contas e parece não conseguir aliviar o stress financeiro que sente, é boa ideia falar com quem entende do assunto.
Quando não é capaz de resolver a questão sozinho, há entidades com profissionais especializados em problemas de finanças pessoais – como, por exemplo, o Gabinete de apoio ao sobre-endividado, da DECO, que prestam serviços de forma gratuita ou muito acessível.
Mantenha-se informado sobre os apoios em vigor
Mantenha-se informado acerca das medidas que o Governo está a implementar para ajudar a reduzir o impacto da inflação. Qualquer ajuda nesta fase pode fazer a diferença.
Envolva a família na procura de soluções
Trabalhar em conjunto para uma melhor gestão do dinheiro e da recuperação do orçamento familiar. Claro que, com isto, não estamos a sugerir que cause pressão na família, nem que faça soar alarmes – especialmente se há crianças e adolescentes em casa. A ideia é incluir todos os elementos da família no processo de educação financeira, afinal, as finanças da família afetam todos.
Conversem sobre o valor do dinheiro e sobre o impacto das decisões que tomamos quando, por exemplo, comemos fora demasiadas vezes, compramos algo que não é essencial no momento ou optamos pelo produto mais caro.
Aprendam juntos a criar metas e a valorizar o esforço de poupança.
Um último desabafo…
Em tempos de crise, a matemática não engana e é demasiado exata: quando se tem de fazer contas à vida, nenhum cálculo chega para esticar o dinheiro. É por essa razão que acentuamos a importância de rever comportamentos e hábitos de consumo.
Por fim, lembre-se: sair do processo de ansiedade financeira não acontece da noite para o dia e não depende somente de nós. Por isso, não tente palmilhar este caminho sozinho. Procure ajuda, envolva a família e não fique muito tempo a olhar para o abismo.