Patrícia Abreu
Patrícia Abreu
26 Out, 2017 - 04:25

O que o seu filho precisa (e não precisa) de saber antes do pré-escolar

Patrícia Abreu

Exigir demasiado de uma criança sem criar um contexto não é o melhor caminho. Saiba quais as competências que a criança deve adquirir antes do pré-escolar.

O que o seu filho precisa (e não precisa) de saber antes do pré-escolar

Esqueça a música do ABC, os desenhos animados pouco educativos ou contar até 100 por nenhuma razão, pois uma criança precisa de um contexto antes do pré-escolar.

Uma criança no pré-escolar que saiba o alfabeto de trás para a frente ou que conte com precisão até 100 é bastante impressionante, mas nenhuma dessas habilidades é realmente útil para o pré-escolar e até para a vida.

Na verdade, aqui reina a simplicidade, pois no que toca ao sucesso na educação infantil, a lista de habilidades que as crianças precisam é relativamente curta e não inclui memorização rotineira.

As únicas competências de que a criança precisa antes do pré-escolar

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Uma das razões pelas quais saber o alfabeto e contar até 100 não é, necessariamente, útil é porque cada criança entrará no pré-escolar com níveis de conhecimento diferentes baseados na sua aprendizagem anterior.

Assim sendo, se estão um pouco à frente ou um pouco atrás – academicamente falando -, todos irão aprender no ensino pré-escolar quais as letras, números e cores.

A importância do contexto na educação pré-escolar

Outro motivo para que a memorização de dígitos, letras, nomes de animais ou capitais de estado não façam diferença no jardim de infância é porque o conhecimento não conta para muito se não tiver um contexto. Mesmo que a sua criança saiba qual a capital do país mais longínquo do mundo, isso não significa que entenda qual a demografia do país ou qual o seu significado histórico.

Vendo desta perspetiva, uma criança que pareça ser impressionante pode estar atrasada se, por exemplo, não souber que os números podem ajudar em transações ou que as letras criam um livro.

A terapeuta familiar e ex-professora de pré-escolar, Kathryn Smerling, explica que “os primeiros cinco anos da vida de uma criança devem ser experienciais” e que “essa experiência deveria ter a ver com o que está a acontecer no mundo deles e a aprender como funcionam no mundo. Não é um estágio abstrato da vida: é um estágio de vida muito concreto”.

Desta forma, saber a música do alfabeto não é um erro, mas talvez seja mais importante que a criança seja capaz de reconhecer que o alfabeto é composto de letras e que as letras formam palavras e que essas palavras podem criar histórias. Esta é uma das razões pelas quais  os pais lerem com as crianças é uma a chave para a alfabetização, além de uma forma de incentivar a leitura infantil.

Smerling afirma ainda que o contexto é fundamental para números; “eu acho que as crianças devem saber como reconhecer o dinheiro, porque ele funciona como uma troca“, “as coisas são valorizadas na nossa sociedade. Pagamos com dinheiro identificado por números”.

Para promover esta ideia, Smerling sugere que os pais adquiram as mochilas com os seus filhos, contando o dinheiro com eles e fazendo a troca da mochila por moedas. O mesmo conceito pode ser conseguido juntando rebuçados numa jarra, uma para cada vez que uma criança faz algo certo. Tudo isto para mostrar o poder dos números num contexto.

O contexto também é importante para as habilidades sociais e emocionais que as crianças precisam antes do pré-escolar. Uma coisa é dizer a uma criança que deve prestar atenção, ouvir atentamente o professor e comportar-se, outra coisa ainda melhor é que compreendam a importância dessas ações por viverem esse contexto nas suas casas, onde os adultos já têm presença nas suas vidas.

Para tal, é importante que os pais tenham alguns padrões disciplinares e modelem boas transações sociais. Isso significa que, se os pais querem que os seus filhos compreendam o valor da resiliência, dos costumes e das regras, eles também precisam saber agradecer e reagir calmamente ao fracasso e ao stress, e ser consistente com as regras, ao mesmo tempo que se presta atenção à criança.

“É precisa validar uma criança e também ouvir o que eles dizem”, explica Smerling. “Temos que falar com eles ao seu nível, não ao nível de um adulto”.

Além de conhecer o alfabeto e contar os números, as crianças não precisam ter muito mais do que uma vontade de se envolver intelectualmente, emocionalmente e, provavelmente, fisicamente com o mundo.

Smerling observa que não faz diferença se a criança é popular entre as outras e explica ainda que os pais não devem esperar aprendizagens rápidas provenientes do pré-escolar, pois as informações vão sendo assimiladas e, com tempo, a criança começará a mostrar conhecimentos.

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