Share the post "Aproveitamento escolar: os desafios atuais e como melhorar"
Durante os dois anos marcados pela pandemia, foram muitas as mudanças no ensino / aprendizagem em Portugal (e não só), o que se refletiu, consequentemente, no aproveitamento escolar de estudantes de diferentes ciclos, tendo conduzido mesmo, em alguns casos, ao abandono dos estudos.
O recurso forçado às tecnologias e à internet, o isolamento social, dificuldades sócio-económicas ou a falta de apoio na realização de tarefas estão entre os fatores que conduziram muitos alunos a uma redução de rendimento, desmotivação e ainda ao insucesso escolar.
Depois do regresso à normalidade e prestes a iniciar um novo ano letivo, vamos responder a algumas questões importantes sobre aproveitamento escolar e deixar algumas dicas que podem ajudar a alcançar melhores resultados.
O que precisa de saber sobre o aproveitamento escolar
Tal como a designação indica, o aproveitamento escolar diz respeito à obtenção de aprovação, de resultados académicos positivos que permitem, nomeadamente, a transição de ano ou de ciclo.
Pelo contrário, quando se diz que um aluno não teve aproveitamento escolar, significa que o mesmo ficará retido no mesmo ano de escolaridade, visto não ter adquirido as aprendizagens mínimas exigidas.
Causas de não aproveitamento
Entre os fatores que podem estar na base do não aproveitamento escolar de um aluno estão um rendimento escolar baixo, falta de motivação, distração, cansaço por excesso de tarefas e provas, problemas familiares, contexto social, entre outros que afetem direta e negativamente o interesse e compreensão dos conteúdos.
Há, ainda, outros fatores que podem conduzir a dificuldade de aprendizagem, tais como:
- Ambiente permissivo em casa;
- Problemas familiares;
- Stresse pós-traumático;
- Desequilibrio emocional;
- Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade;
- Dificuldades específicas de aprendizagem;
- Desnutrição e maus hábitos alimentares;
- Falta de recursos físicos e tecnológicos;
- Apoio na realização de tarefas;
- Distanciamento social;
- Alterações dramáticas nas rotinas diárias.
Desafios e estratégias no âmbito do aproveitamento escolar
Num contexto nacional e global de constante e intensa mudança, os desafios que se colocam à escola – a estudantes, professores e encarregados de educação – são muitos e os de hoje diferentes dos de amanhã.
Para promover o aproveitamento escolar há alguns desafios e estratégias que podem (e devem) ser implementadas pela própria escola, pelo governo, pelos professores, encarregados de educação, pais e os próprios estudantes.
Antes de mais, há que fazer da escola e do ato de aprender algo prazeroso, útil e até divertido; garantir os recursos adequados às diferentes necessidades dos alunos; bem como colmatar quaisquer dificuldades que possam interferir negativamente no desempenho académico dos alunos.
Saúde mental
A promoção e cuidado da saúde mental é também um dos aspetos determinantes não só para o aproveitamento escolar, mas na conjugação dos desafios da escola e do crescimento ou vivência de diferentes fases ou contextos da vida dos estudantes.
Cabe também aqui à escola e ao governo, de um modo muito especial, esta garantia.
O papel dos professores e encarregados de educação
Ao longo do percurso escolar, professores, pais e encarregados de educação assumem um papel determinante em aspetos e momentos distintos da valorização da escola, do processo ensino-aprendizagem e da própria vida. E o que podem fazer estes atores?
- Mudar a visão que os alunos têm dos estudos: fazer entender que a escola é importante para a vida e olhar para os estudos como uma atividade interessante e agradável, não apenas uma obrigação ou necessidade.
- Fazer da aprendizagem uma diversão: a inovação e a criatividade aliadas ao processo de ensino faz toda a diferença para quem aprende. Aumenta a atenção e motivação.
- Mostrar a aplicação prática do conteúdo: entender a utilidade dos conteúdos curriculares a aspetos comuns do dia-a-dia é importante para a compreensão e aprendizagem dos assuntos.
- Acompanhar o desempenho dos alunos para melhorar: durante o processo podem surgir duvidas e dificuldades. O apoio e incentivo para ultrapassar obstáculos são muito importantes para não “perder o fio à meada”.
- Promover o diálogo e o incentivo: ter tempo e disponibilidade para acompanhar os desenvolvimentos, os problemas e os desafios, mostrando sempre apoio e incentivo para fazer melhor e amparar mesmo quando algo corre menos bem.
- Dar espaço a outras experiências: proporcionar outro tipo de atividades que contribuam para o equilíbrio fisico, mental e intelectual do estudante, como desporto, música, dança, cinema, entre outras.
O aproveitamento escolar em Portugal na atualidade
O uso de novas tecnologias essencial em contexto de ensino à distância trouxe desafios (em muitos casos grandes) sentidos pela maioria dos estudantes portugueses, o que se refletiu no aproveitamento escolar no final do ano letivo.
Um estudo realizado pelo Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto analisou o impacto do ensino online no aproveitamento escolar e concluiu que quase um terço (30,5%) dos alunos piorou. Considerou-se para o efeito uma amostra de 1.781 estudantes portugueses questionados.
Os estudantes com mais carências sócio-económicas revelaram-se os mais afetados negativamente. De facto, a relação entre o estatuto sócio-económico e o desempenho escolar revelou ser a mais significativa no referido estudo.
Para medir a situação sócio-económica dos estudantes, foram utilizadas variáveis como a profissão dos encarregados de educação, a existência ou não de escalão da ação social escolar e a perceção por parte dos alunos de dinheiro suficiente ou insuficiente para pagar as despesas em casa.
A idade foi outro dos fatores mais relevantes na análise, sendo que o ensino a distância mostrou ter um efeito negativo mais relevante entre os estudantes mais velhos em comparação com os mais novos.
No global, o estudo do CIIE concluiu que 22,3% dos inquiridos admitiram sentir dificuldades com a mudança do ensino presencial para o ensino a distância, imposta pela pandemia.
A falta de um espaço sossegado para estudar em casa (8,7%), o acesso à Internet (8,1%) e a literacia digital ou capacidade de utilizar as plataformas online (6,3%) estiveram entre os principais desafios referidos.
O estudo destaca ainda que, apesar de estar em curso uma iniciativa do governo português para incentivar ao desenvolvimento digital nacional, com o objetivo de garantir igual acesso às tecnologias digitais a toda a população, bem como “educar a população mais jovem através do estímulo e reforço da literacia digital e competências digitais em todos os níveis de escolaridade”, na realidade o país continua a apresentar muito abaixo da média europeia.
Uma aposta no futuro
O futuro com mais e melhor aproveitamento escolar dos estudantes nacionais passa por um misto de fatores e entidades, de modo muito especial da família e da escola.
Uma escola mais inclusiva que se adapta a cada aluno e garante que todos têm idênticas oportunidades de aprender e acesso às ferramentas necessárias para se prepararem para as exigências atuais da sociedade e também do mercado de trabalho é fundamental para o sucesso.
Fazer entender a importância da escola, promover de facto a literária digital, bem como o empreendedorismo, a criatividade, a inteligência emocional, a consciência ambiental e cultural, a paridade, bem como abrir oportunidade para a descoberta e desenvolvimento de outras competências e conhecimentos para além do que consta nos currículos escolares, constitui um grande desafio para a atualidade.
O aproveitamento escolar dos estudantes de um país vai muito além da não reprovação ou retenção, é sinal de desenvolvimento e de futuro.