Share the post "Audi Quattro: o revolucionário clássico que dominou os ralis"
O Audi Quattro teve o condão de ser o primeiro desportivo a combinar motor turbo com tração integral. O som do motor de cinco cilindros equipado com poderoso turbocompressor e a debitar 420 cv de potência troava nos troços de ralis, impondo a sua presença minutos antes de ser visto.
O som ecoava pelos troços anunciando a sua passagem em alta velocidade acompanhada de controladas derrapagens, ao som de potentes travagens e de infindáveis rateres. Assim era o Audi Quattro.
Os aficionados dos ralis lembram-se, por certo, das provas dos anos 80 que tiveram lugar pela Europa fora e onde o Audi Quattro fez sucesso ao ser pioneiro e combinar potente motor turbo com tração integral.
A ideia, na época, era nova. A tração integral era vista como um conceito mecânico que daria muitos problemas nos carros de estrada. Esta solução mecânica era dirigida para veículos militares e pick-up.
Mas dois engenheiros da Audi, Jörg Bensinger e Fritz Naumann, provaram o contrário, com a ajuda do então diretor de pesquisa da marca alemã, Ferdinand Piëch, neto de Ferdinand Porsche, e hoje presidente do grupo VW.
Audi pioneira na tração integral nos ralis
Tudo começou em 1977 com Jörg Bensinger, que se inspirou no Volkswagen Iltis, utilitário construído pela VW sob encomenda do exército alemão entre 1978 e 1988.
No decorrer dos testes com o Iltis, que tinha um sistema de tração integral que usava componentes do Audi 100, Jörg Bensinger percebeu que o protótipo era mais rápido que qualquer outro veículo, independentemente da sua potência.
Assim, o projeto ganhou forma e três anos mais tarde, em 1980, apresentou-se, oficialmente, o Audi Quattro no Salão Automóvel de Genebra. A comercialização teve início no final desse ano e manteve-se até 1991.
Assim nasceu, então, o pioneiro Quattro.
Tração integral sinónimo de superior desempenho
O Audi Quattro cativou, de imediato, pelo superior desempenho. Para além disso, a tração integral, combinada com um motor de cinco cilindros em linha e 2.100 cc turboalimentado, produzia 200 cv de potência, na versão de estrada. A Audi, com este modelo, reconquista a sua imagem de construtor de carros de luxo e desportivos.
Para inscrever o Quattro na categoria do Grupo B, a marca alemã fabricou 220 unidades. No entanto, muito poucas se destinaram à comercialização pelos concessionários da marca. A maioria foi destinada à competição, tal o “apetite” que o Quattro causou.
A versão de estrada estava equipada com motor de 5 cilindros em linha, turbo comprimido, a gasolina. Este motor, fabricado sob o código MB, debitava 200 cv de potência às 5.800 rpm e binário máximo de 270 Nm às 3.000 rpm. A caixa era manual de cinco velocidades e a tração é total/integral (AWD).
Outras caraterísticas técnicas sobressaíam, tal como a suspensão dianteira do tipo McPherson, anti-roll bar ou a suspensão traseira independente. Para além disso, a travagem estava a cargo de quatro travões de disco (os da frente ventilados).
Estas eram as caraterísticas do Audi Quattro acessível a clientes e público em geral entre os anos de 1986 e 1988.
A produção do modelo, quase artesanal, impulsionou o objetivo de participar em competições com dois propósitos:
- Restabelecer a imagem de prestígio da marca dos quatro anéis;
- Melhorar o desenvolvimento do sistema de tração integral.
História do Audi Quattro passa por Portugal
Curiosa é a forma como o Audi Quattro marca presença nos ralis. Antes da participação oficial, a máquina alemã foi atração, em 1980, no Rali do Algarve, onde a equipa Audi Sport estreou, ao participar com o Quattro como carro “0”.
O carro abria os troços da prova então organizada pelo Racal Clube. Nesta competição foram discutidos os títulos de Europeu de Ralis e o Campeonato Nacional.
Entre os carros participantes, apenas o Audi Quattro tinha tração integral. Todos os outros eram convencionais, de apenas duas rodas motrizes, mas com grande presença nas provas do Mundial de Ralis, como o Ford Escort RS 1800 ou o Porsche 911 SC.
Na antestreia, no Rali do Algarve, se competisse, o Quattro tinha arrecadado 25 vitórias das 30 especiais da prova e terminaria com cerca de meia hora de vantagem sobre os restantes adversários. A máquina prometia grandes voos.
A estreia oficial do Audi Quattro aconteceria cerca de dois meses mais tarde, no Rali de Monte-Carlo, com Hannu Mikkola, ao volante e com Arne Hertz, como navegador. O carro de competição pesava 1.150 kg, estava equipado com motor 2.144 cc turbo, que debitava 340 cv de potência e, como grande novidade, as quatro rodas motrizes.
Participação nos ralis muito positiva
No ano de estreia, o Audi Quattro obteve três vitórias, duas com Hanu Mikkola e uma com a piloto Michèle Mouton. A francesa foi a primeira mulher a vencer uma prova do WRC e ficou também conhecida, em Portugal, por ser a primeira mulher a vencer o Rali de Portugal (23.ª edição, que teve lugar entre 5 e 10 de outubro de 1981).
No entanto, o primeiro ano de participação no Grupo B do mundial de ralis não seria de vitória. Quem subiu ao lugar mais alto do pódio foi o Antonio Zanini e o Ford Escort RS 1800.
A consagração viria, no entanto, no ano seguinte, em 1982. Nesta prova, os pilotos Michèle Mouton, Hannu Mikkola e Stig Blomqvist conquistaram várias provas, mas o Campeonato ainda seria para a Opel e para Walter Röhrl.
Ainda assim, a Audi, conquista o primeiro título mundial de construtores, com 116 pontos mais 12 que a segunda classificada, a Opel.
O ano de 1982 ficaria também marcado pela extinção do Grupo 4 e o surgimento do Grupo B. Esta categoria inovava no sentido das equipas, que em vez de participarem na competição com um carro de rali, baseado num modelo de estrada, fariam o contrário. Ou seja, desenvolviam o carro de competição e depois a versão de homologação.
Hanu Mikkola e Audi Quattro vencem Campeonato de 1983
O percurso glorioso do Audi Quattro é coroado em 1983 com Hanu Mikkola a vencer o Campeonato do Mundo de Ralis. Era, finalmente, o tira teimas, ainda que o Lancia Rally 037 desse muito que fazer aos técnicos alemães, que tiveram de se esmerar para o Quattro sair vitorioso.
A senda de vitórias culminou em 1984, com o Audi Sport Quattro S1, o mais radical dos Quattro. Para além de estar preparado para ralis, acabaria, também, por ser o modelo que marcou o final da jornada da equipa alemã no Grupo B do Mundial de Ralis.
O S1 era, portanto, uma autêntica fera em estrada, com os seus 450 cv (mínimo) de potência a “gritarem” pelos troços das provas. Nas provas em que participou, a Audi esmagou tudo e todos.
Stig Blomqvist obteria o título de pilotos, Hanu Mikkola era vice-campeão e a Audi arrecadava ainda o segundo título de construtores, em apenas três anos.
Pilotos Audi Quattro
No total, o Audi Quattro, nas participações que teve no WRC, venceu 23 provas, e ainda hoje mantem-se na lista dos maiores vencedores de todos os tempos. Associado a este sucesso está, igualmente, um grupo de excelentes e afincados pilotos, que contribuíram com a sua tenacidade para o sucesso da máquina alemã. Foram eles:
- Hanu Mikkola: piloto Audi Quattro de 1981 a 1987;
- Michèle Mouton: piloto Audi Quattro de 1981 a 1982;
- Stig Blomqvist: piloto Audi Quattro de 1982 a 1984;
- Walter Röhrl: piloto Audi Quattro de 1984 a 1987.
Palmarés passa também pelo mítico Pikes Pike (EUA)
O sucesso deste Audi vai muito além das provas do WRC.
A marca sentiu que teria de mostrar-se noutras competições e decidiu participar na mítica prova de Pikes Pikes, no Colorado, Estados Unidos da América, nomeadamente, com o radical Audi Sport Quattro S1.
Esta prova realiza-se desde 1916. A subida termina numa altitude de 4.301 metros, sendo a extensão de 20 quilómetros a partir de um vale e a terminar ligeiramente abaixo do pico. O melhor tempo era de 11 minutos.
O primeiro piloto que a marca alemã enviou para competir, em 1982, foi o americano John Buffum. Este definiu um tempo que só foi batido por oito protótipos construídos propositadamente para a prova.
Michèle Mouton vence Pikes Pike em 1985 com a Audi
No ano seguinte, o mesmo piloto terminou a prova em sexto lugar. Mas a Audi não desiste e em 1984 e 1985 é Michèle Mouton que participa na mítica prova. Em 1985, estabelece o melhor tempo já registado na montanha.
Um ano mais tarde, em 1986, nova participação e nova vitória com o piloto americano, Bobby Unser a conduzir o Audi Quattro.
Em 1987, o piloto Walter Röhrl supera a barreira dos 11 minutos. Estabelece, assim, um novo recorde, com um tempo de 10:47.85 minutos. O Audi Quattro S1, debitava mais de 600 cv de potência máxima e foi preparado de propósito para esta competição.
Audi Quattro também no cinema
Quase todas as grandes máquinas têm um percurso paralelo na sétima arte. Esta era, por isso, a altura para ver como se comportam as versões de estrada.
Também neste capítulo o Audi Quattro marca presença, nomeadamente na série policial britânica “Ashes to Ashes”, em que um Audi Quattro B3, de 1983, é o carro dos protagonistas, marcando presença em quase todos os episódios da série.
Para além de tudo o que se possa dizer sobre o icónico Audi Quattro, a verdade é que continuará a ser um dos mais importantes automóveis de ralis da história do WRC, se não mesmo o mais importante.