O governo acaba de aumentar o salário mínimo nacional de 665 para 705 euros. É um aumento de 40 euros por mês daqui para a frente. Estamos a falar de uma alteração de rendimentos para quase 900 mil pessoas em Portugal.
Curiosamente, as opiniões dividem-se sobre a relevância do valor do aumento. Na sua opinião, 40 euros é muito, é pouco, ou é ridículo?
A sua resposta é importante porque, no fundo, vai revelar como lida com o dinheiro na sua vida. Eu fico sempre surpreendido quando alguém desvaloriza qualquer aumento salarial, seja ele qual for.
Li comentários de pessoas a ironizar com os 40 euros, dizendo coisas do tipo “Agora é que vou trocar de carro ou de casa”, ou “Vou de férias para as Maldivas”, etc. Prefiro sempre pensar que estes comentários virão de pessoas a quem o dinheiro não faz falta, e que por isso consideram que 40 euros é um valor que não muda a vida de ninguém. Provavelmente gastam isso num almoço e não pensam mais no assunto. Tudo bem. Mas a maior parte de nós tem de fazer contas todos os meses ao que tem e recebe mensalmente e por isso quero fazer algumas contas consigo.
Para que servem 40 euros por mês?
Em primeiro lugar, é preciso ver o que um aumento de 40 euros por mês representa ao fim de 1 ano: estamos a falar de 560 euros por ano (são 14 meses e não 12). Se for um casal, são 1.120 euros a mais todos os anos daqui para a frente. A parte boa é que é um aumento que não implica nenhuma alteração ou esforço na sua vida. Não tem de fazer horas extraordinárias, nem trabalhar mais fins de semanas ou ter um trabalho/negócio extra. Simplesmente vão aparecer-lhe mais 1000 euros na conta todos os anos. Isto para mim, já é um valor relevante e que me deveria obrigar a pensar em como o posso rentabilizar ao máximo.
Se a sua situação já é dramática e tem “buracos” financeiros todos os meses e não consegue reduzir mais as suas despesas, então este dinheiro obviamente deverá servir simplesmente para se ver livre dessas dores de cabeça. Essa é a sua prioridade.
A segunda opção para usar este aumento, é liquidar imediatamente qualquer dívida que tenha atualmente. Amortize 40 ou 80 euros por mês o crédito de menor valor que tiver até dar cabo dele, o mais depressa possível. Vai ver o descanso que vai sentir quando perceber que já não deve nada a ninguém. É aí que vai ter o verdadeiro “aumento”, porque é dinheiro que passa a ficar no seu bolso todos os meses e não nos bolsos dos bancos ou financeiras. Livrar-se dos juros é outra forma de aumento salarial que a maior parte dos portugueses desconhece.
É verdade que a maior parte dos aumentos serve simplesmente para cobrir a inflação, que está a aumentar muito nos últimos meses. Sim, somos aumentados, mas as coisas normais estão cada vez mais caras. Logo, muitos dirão que não é possível poupar esse dinheiro.
Se pensa assim, tem duas opções: ou não pensa mais no assunto e continua a viver como até agora, que é gastar até o saldo ficar a zeros antes do fim de cada mês; ou fazemos um esforço adicional para fazer cada vez mais compras conscientes e organizadas (que não duvido que muitos de vocês já fazem) de forma a que estes aumentos possam ser canalizados para um fundo de emergência de 3, 4 ou 5 mil euros para finalmente começar a ter alguma segurança financeira.
Vamos fazer uma breve conta…
Se um casal abdicar de um dos subsídios de férias ou de Natal (ou metade dos dois subsídios cada um), mais os 1.120 que vão ganhar com o aumento do salário mínimo nacional, terão no fim de 2022, um Fundo de Emergência de 2.530 euros. Em dois anos atingem e ultrapassam os 5 mil euros. A ganhar o salário mínimo nacional.
Alguns de vocês já estão a achar as minhas contas simplistas e “fáceis” demais, mas o que lhe quero mostrar (independentemente dos nomes que me possa estar a chamar) é que quando temos um objetivo, e traçamos um plano para o atingir, tudo se torna mais claro e passamos a aprender a dizer que “não” em troca de um bem maior. Não consegue num ano? Planeie fazer isto em dois, ou em três. Cada família ou pessoa é que conhece as suas circunstâncias.
Como lhe referi no início, há famílias para quem o aumento do salário mínimo já tem automaticamente o destino traçado e não há volta a dar. Mas se não for o seu caso, aproveite este aumento para finalmente pôr as suas contas em ordem.
Já sabe, primeiro o fundo de emergência com 5 mil euros. Depois de encher esse “balde” e de o fechar, pode começar a fazer dinheiro com esses mesmos 40 ou 80 euros por mês.
Por exemplo, um trabalhador com 30 anos e que coloque mensalmente 40 euros num dos melhores PPR do mercado português pode ter na idade da reforma quase 65 mil euros. Se um casal colocar cada um 40 euros (80 € no total), o valor dispara para 129 mil euros quando deixarem de trabalhar. Surpreendido?
Espero que estas simples contas o ajudem a repensar a importância de 40 euros por mês, ganhe o salário mínimo nacional ou muito mais do que isso. O dinheiro que temos ou teremos no futuro é o resultado das nossas escolhas no passado e agora. Não desperdice estas oportunidades que surgem no seu caminho.