Share the post "Bactérias multirresistentes matam mais de mil portugueses por ano"
O alerta já foi feito pela Direção Geral da Saúde (DGS): as bactérias multirresistentes são uma ameaça real e crescente a nossa saúde. Estima-se que, só em Portugal, infeções por superbactérias sejam a causa de 1160 mortes todos os anos – números mais recentes, referentes ao ano de 2018, divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Na raiz do problema está o uso inadequado dos antibióticos e o descarte das sobras destes medicamentos.
Entenda o que são as bactérias resistentes, porque isto acontece, quais os efeitos da sua presença no ambiente e o que temos de fazer para travar o problema.
Superbactérias: o perigo das bactérias multirresistentes à medicação
As infeções por bactérias resistentes podem ser a principal causa de morte em 2050. O alerta foi lançado pela direção do programa Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e Resistências aos Antimicrobianos (PPCIRA), através de Artur Paiva, diretor do serviço de Medicina Intensiva do Hospital de São João, sob a alçada da Direção Geral da Saúde (DGS).
Os órgãos de saúde pública têm estado em constante movimento para sensibilizar a população sobre os perigos associados à toma excessiva e incorreta dos antibióticos, que podem ser um bem escasso no futuro.
O estudo feito pela OCDE apontou para 1160 mortes, por ano em Portugal, causadas por bactérias multirresistentes. A mesma análise estimou que, em toda a Europa, uma em cada cinco infeções hospitalares seja provocada por superbactérias.
O que são as superbactérias e porque tornam-se multirresistentes
As bactérias multirresistentes, ou superbactérias, são bactérias comuns que ganham resistência aos mais diversos tipos de antibióticos, através de mecanismos de adaptação e mutação.
Isto acontece porque as bactérias têm a tendência natural de resistir e transformar-se para, assim, continuarem a existir no ambiente. Quantas mais vezes estão expostas aos antibióticos que tomamos ou que descartamos, mais vão evoluir através de mutações.
É por esta razão que, de acordo com a DGS, é urgente educar a população para a correta utilização dos antibióticos – bem como para a forma adequada de descarte das sobras deste tipo de medicamento.
A principal razão pela qual as bactérias ganham resistência e tornam-se superbactérias é a exposição que têm a antibióticos. Cada vez que usamos este tipo de medicamento, ou que o descartamos no meio ambiente, as bactérias contactam com os seus componentes e estabelecem mecanismos de adaptação que dão origem a mutações.
Bactérias multirresistentes nos hospitais
As superbactérias são uma ameaça real em ambiente hospitalar, em especial nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) e nos centros cirúrgicos.
Esta presença exagerada deve-se, fundamentalmente, aos procedimentos comuns que são realizados dentro dos hospitais e à utilização indiscriminada de antibióticos. O risco de uma infeção bacteriana é acrescido neste contexto, uma vez que o sistema imunológico dos doentes hospitalizados está enfraquecido.
Números oficiais apontam que, em 2011, Portugal mostrava as mais elevadas taxas de infeção hospitalar da Europa. Em 2019, com números atualizados, apenas a Grécia apresentava uma taxa pior.
Como travar as bactérias multirresistentes
Estratégias educacionais e de alteração de comportamento, individual e coletivo, bem como a criação de novas normas que apoiem a prescrição adequada de antibiótico são algumas das nossas principais armas contra o avanço das superbactérias – e a ciência está a contar com isso.
A prescrição médica ajustada, a toma correta e o descarte adequado é a “regra de três simples” que temos de seguir.
Como tomar antibiótico corretamente
Sabe-se que, hoje, temos uma toma excessiva destes medicamentos e o resultado deste processo é que há, cada vez mais, infeções bacterianas difíceis de tratar porque não respondem aos antibióticos existentes.
Só use antibióticos prescritos pelo médico, respeite a duração do tratamento e a orientação sobre as doses.
Muitas vezes, com a diminuição ou ausência dos sintomas, interrompemos a toma do antibiótico. Este é dos maiores erros que podemos cometer: interromper o ciclo do antibiótico permite que a bactéria em causa desenvolva mecanismos de resistência – o que nos leva a uma superbactéria.
Como descartar sobras de antibiótico
Nunca descarte sobras de antibióticos ou de quaisquer medicamentos no lixo, não deite fora na sanita e nem na pia da cozinha. Também não deve guardar medicação em casa. Estes são hábitos que contaminam o ambiente e que expõem, de forma indevida, as bactérias aos fármacos que as podem combater.
Quando faz isso está a pôr todos em risco e coloca em causa importantes avanços da ciência no desenvolvimento dos antibióticos.
Depois de curada a infeção e de finalizado o período indicado para o tratamento, qualquer sobra de antibiótico deve ser entregue numa farmácia.