Miguel Pinto
Miguel Pinto
20 Nov, 2024 - 16:30

Vinhos extraordinários: história do mítico Barca Velha

Miguel Pinto

O Barca Velha é símbolo não só de exclusividade, mas também de uma qualidade absolutamente excecional. História de um vinho diferenciado.

Garrafa de vinho Barca Velha

O Barca Velha não é só um vinho. É muito provavelmente ‘o’ vinho. É uma sólida prova de caráter e uma exuberante manifestação de amor e carinho pelas vinhas do Douro, onde a cada vindima se sustém a respiração para saber se aquele é o ano.

Como todos os vinhos exclusivos e de qualidade incontestável, o Barca Velha comporta-se como um verdadeiro fidalgo e, caprichoso, só dá um ar da sua graça em anos rigorosamente selecionados. Talvez por isso, em 68 anos de história (a primeira colheita é de 1952), só por vinte ocasiões foi declarado ano de Barca Velha.

Mas a história deste extraordinário vinho começa ainda antes, muito antes, de um homem o sonhar e a obra acontecer.

barca velha: o sonho de nicolau de almeida

Vinhas no Douro

Em meados do século XIX, D. Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha, transformava o Douro de uma forma absolutamente imparável. Foi juntando quintas, comprando terrenos, aumentando de forma vertiginosa a sua fortuna e influência. Isto depois de vencer uma praga na vinha que ameaçou toda a região.

Sempre um passo à frente, comprou, numa hasta pública, 300 hectares de terra à primeira vista inóspita, em Vila Nova de Foz Côa, sem outro acesso que pelo rio. Houve quem não percebesse, mas era o embrião da Quinta do Vale Meão, onde décadas mais tarde iria nascer o extraordinário Barca Velha.

Se a Ferreirinha está na génese desta história, o génio por detrás deste espantoso vinho tinto dá pelo nome de Fernando Nicolau de Almeida, enólogo da Casa Ferreirinha, agora no portfólio da Sogrape.

Foi ele que deu corpo ao projeto de criar um vinho tinto seco de altíssima qualidade, um vinho que conquistasse os palatos mais exigentes. Basicamente, que saísse um pouco da zona de conforto que constituía a produção quase exclusiva de vinhos do Porto. O Douro chegava à mesa e agora bem antes da sobremesa.

Foi aí, entre os socalcos do Douro Superior, que Fernando Nicolau de Almeida deu vida ao Barca Velha, iniciando uma verdadeira lenda entre os enófilos. A exigência manteve-se: só em anos verdadeiramente excepcionais é declarado o Barca Velha, cuja produção está agora mais concentrada nos 160 hectares da Quinta da Leda.

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Preço de exceção

O preço de um Barca Velha não é, de todo, acessível à maior parte das carteiras. Algumas garrafas atingem com alguma facilidade cifras na casa das centenas de euros, mas a qualidade paga-se. Aliás, essa qualidade é atestada internacionalmente.  Uma das mais prestigiadas revistas de vinho do mundo, a Wine Enthusiast, deu ao Barca Velha de 2008 a pontuação máxima, 100 pontos.

O Douro é hoje berço de vinhos notáveis, muito além dos néctares fortificados. Cada vez mais os vinhos de mesa da região ganham quota de mercado e toda uma nova geração de produtores e enólogos refina as uvas para vinhos cada vez mais apurados. Mas o Santo Graal continua bem lá no alto. E continua a chamar-se Barca Velha.

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