Share the post "Bedford: a história de um gigante que a história quase apagou"
A Bedford Vehicles, conhecida simplesmente por Bedford, estabeleceu-se em 1931, em Luton, Inglaterra (antes tinha funcionado na cidade de Hendon), e dedicou-se durante 55 anos à produção de camiões de pequeno, médio e grande porte, bem como de furgões e pick-up de trabalho.
O foco da empresa, uma das maiores fabricantes do Reino Unido, era a exportação dos seus produtos, camiões, de várias categorias, para todo o Mundo.
Com um volume de negócios acima da média, a Bedford foi, na sua época, a empresa mais lucrativa da General Motors (GM) na Europa, enquanto subsidiária da Vauxhall. Esta, fundada por Alexander Wilson, em 1857, foi por sua vez a filial britânica da General Motors, criada em 1930, no Reino Unido, com o objetivo de produzir veículos destinados ao transporte público.
Bedford: o sucesso dos motores
Na história da empresa britânica destaca-se o sucesso dos motores de seis cilindros em linha designado Chevrolet Stove Bolt 6. Um motor bem à frente do seu tempo e que mais tarde viria a ser a base dos motores a gasolina instalados nas Bedford e Vauxhall.
Estes caraterizavam-se pela simplicidade, funcionamento suave, durabilidade e pelo baixo custo de manutenção. Deste modo, foi fácil entrar no mercado dos veículos pesados em países das ex-colónias britânicas. São exemplo a Índia, Austrália, Nova Zelândia e ainda países como o Uruguai ou Paquistão.
Os modelos fabricados pela Bedford, por norma, são referenciados por letras ou conjunto de letras para determinar os variados camiões. Assim, até 1931 fabricou em Luton os modelos AC e LQ que foram comercializados como “Chevrolet Bedford”, recebendo o nome da cidade da província de Nedforshire, Luton.
Para melhor se perceber o alcance das vendas dos produtos Bedford, o modelo AC foi dado a uma “van” (furgão ou mini autocarro com porta traseira e portas ou painéis de abertura laterais, geralmente com janelas, para diversos usos, especialmente no transporte de passageiros), enquanto o LQ designava uma variedade de camiões que tomaram forma de ambulância e autocarro.
Entretanto, o nome “Chevrolet Bedford” foi abandonado ainda em 1931, passando os produtos da marca britânica a serem designados, simplesmente, por Bedford.
O primeiro veículo com o nome Bedford foi um camião de 2 toneladas muito semelhante ao seu antecessor LQ Chevrolet, distinguindo-se deste apenas pelo detalhe do radiador. Estava disponível com diversas distâncias entre eixos.
As novidades de 1933 a 1939
Em 1933, a Bedford introduziu no mercado a gama de 2.700 kg WT, disponível em duas versões: uma com curta distância entre eixos WHT (2,820 metros) e outra com maior distância entre eixos, designada WLG (3,990 metros).
Mais tarde, o modelo WLG foi redesenhado. Movendo a cabine, motor e radiador para a frente, a marca criou o camião WTL, caracterizado por um comprimento de 4,3 metros. Em 1935, foi lançada uma versão autocarro do WTB, e os modelos WS e VYC foram atualizados, este último mudando o nome para BYC, em parte devido à adaptação do motor e da caixa de velocidades sincronizada do Vauxhall Big Seis. O camião HC 250-300kg, derivado do Vauxhall Ten, surgiu em 1938. Ao mesmo tempo os modelos WT e WS receberam uma nova grelha do radiador, atualizando o design.
Em meados de 1939, a Bedford realizou uma reformulação completa da sua gama, mantendo apenas o modelo HC. Novos modelos foram lançados: K (1.500 a 2.000 kg), MS e ML (1.800 a 2.700 kg), OS e OL (2.700 a 3.600 kg ), OS/40 e OL/40 (4.500 kg). Paralelamente apresenta um modelo mais leve OB, e o furgão JC (500 a 600 kg).
Com a Segunda Guerra Mundial os modelos produzidos entre junho e setembro de 1939 acabaram por ser requisitados pelo exército britânico.
O conflito mundial levou ainda a que a Bedford, em 1945, deixasse de produzir veículos civis para se dedicar à construção de equipamento militar.
Mudanças com a II Guerra Mundial
No contexto da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) conflito que envolveu a maioria das nações do mundo, a Bedford viu-se na contingência de adequar a sua produção.
Neste sentido, o camião MW de 750 kg cuja produção iniciou em 1935, em nome do British War Office, entrou ao serviço em 1939. Ao todo foram produzidas cerca de 66 mil unidades adaptadas a diversos usos: tanque de água, transporte de mercadorias e de militares; transporte de combustível ou como trator anti bateria.
Ao mesmo tempo a empresa viu-se obrigada, em 1939, a adaptar os modelos civis K, M e O às necessidades do exército. As modificações efetuadas incidiram, nomeadamente, no capot, que passou para uma face frontal plana na qual foram incorporados os projetores, e à adição de uma barra de proteção no radiador.
Estes modelos passaram a ser designados por OX e OY e serviam para muitos fins: cantinas móveis, transporte de combustível, transporte de mercadorias, reboques de trator rodoviário. Estes foram usados para transportar aeronaves danificadas ou desmontadas da RAF (esta versão foi apelidada de “Trator Rainha Maria”).
A ação da Bedford foi ainda mais longe ao transformar os modelos OXD de 1.350 kg, em veículos blindados Bedford OXA . Um total de 72.385 unidades OY e 24.429 unidades OX foram produzidos.
Veículos militares Bedford em uso até 1960
Em tempo de guerra a Bedford teve tempo para desenvolver o modelo QL com tração nas quatro rodas e cabine dianteira, transformando este camião numa novidade radical no que se refere ao design dos seus veículos, quando foi lançado em outubro de 1939.
A par dos modelos MW, OX e OY, o QL foi utilizado para diversos fins: trator de artilharia, transporte de munições, veículo de comando, veículo de comunicação, transporte de combustível. E também para transporte de tropas numa variante a que a marca chamou QLD.
Sabe-se que o modelo QL foi produzido entre 1942 e 1944, numa média de 12 mil exemplares por ano. Muitos dos veículos militares da marca Bedford foram mantidos em serviço por muitos exércitos, nomeadamente, pelo Exército britânico, até a década de 1960.
Uma parte significativa dos veículos militares acabou por ser revendida para uso civil após o final da Segunda Guerra Mundial.
1950 a 1980: caminhada de sucesso
De 1950 a 1980 a Bedford fez uma caminhada de sucesso com o lançamento de diversos modelos. Alguns como o furgão HC continuou a sua carreira comercial após a guerra.
Em 1952 surge o modelo Bedford CA cujo conceito antecedeu o que mais tarde viria a ser a Ford Transit (1965). O modelo caraterizava-se pela frente curta, o que obrigada a que o motor entrasse um pouco no habitáculo entre os lugares do condutor e passageiro.
Os motores usados na Bedford CA tinham origem Vauxhall. Eram blocos a gasolina (motores diesel opcionais) com 1.508 cm3, mais tarde substituídos por motores Perkins.
Estes blocos tinham boa performance para a época, atingindo velocidade máxima de 97 km/h, para a versão a gasolina, e consumos na ordem dos 11 litros/100 km.
A caixa de 3 velocidades, nas primeiras versões, com alavanca na coluna de direção foi posteriormente substituída por caixa de 4 velocidades, mais eficiente.
A comercialização do modelo pautou-se por grande sucesso, quer no mercado interno, quer no externo, reforçando os cofres da empresa.
Novas linhas de produção
Um dos principais marcos da Bedford enquanto fabricante registou-se em 1950 com a transferência das linhas de montagem para fábrica da Vauxhall, inaugurada em 1942 e ampliada nos anos de 1955 e 1957. Todas as linhas de produção foram transferidas de Luton, exceto as dedicadas aos veículos comerciais leves. A fábrica de Dunstable esteve em funcionamento até 1986.
Na década de 1950 destaque ainda para o lançamento de uma nova linha de veículos, mais tarde muito popular. Tratou-se da linha de camiões tipo S, também chamado de Big Bedford. Foi a entrada da marca britânica no mercado dos veículos de 6 a 7 toneladas.
Falta de investimento dita fim da Bedford
A década de 1980 dita, em parte, a extinção da Bedford. Falta de investimento objetivo na reestruturação dos modelos TK/KM e MK que dominaram a produção nos anos 1960 e 1970 foi a pedra de toque.
A desatualização técnica leva a que numa réstia de esperança a linha TK fosse substituída pela nova linha TL, exceto as versões militares que continuaram em produção e destinadas ao Ministério da Defesa do Reino Unido.
A gama TL, mesmo assim, não conseguiu vingar e resgatar o sucesso do anterior modelo, muito por falta da qualidade em que era superada pela concorrência: Volvo, MAN ou Mercedes-Benz.
Com uma carga útil (peso bruto do reboque) de até 42 toneladas, o Bedford TM foi o maior dos camiões modernos da marca, estando disponível com motores diesel GM. Com uma lista de clientes pequena, mas fiel, era impossível à Bedford competir com fabricantes como a Volvo ou Scania.
É desta forma que a Bedford começa a experienciar as primeiras dificuldades ao não conseguir ombrear no mercado com a concorrência. Um falhanço ao não conseguir um contrato lançado pelo Ministério da Defesa britânico, e embora no final dos testes realizados pelo Exército Britânico, a preferência fosse a continuação da longa relação entre as duas entidades, a proposta com assinatura da Leyland acaba por ser a escolhida.
Declínio e morte
As dificuldades foram-se acumulando. O revés tecnológico de meados da década de 1980 impediu a continuação no mercado. O declínio acentuou-se nas vendas de veículos não militares e, por via disso, a GM decide terminar a produção dos veículos Bedford.
O negócio principal dos camiões Bedford manteve-se até 1987, altura em que a empresa foi vendida pela GM como AWD Trucks.
No entanto, a marca Bedford continuou a ser usada no sector dos veículos comerciais com base no design dos produtos Vauxhall, Opel, Izusu e Suzuki. A marca acabaria por ser extinta, em 1991.