Tudo tem, em regra, um princípio, meio e fim. E, muitas coisas que nascem com um objetivo nem sempre o alcançam. É o caso do BMW M1, o supercarro que a marca bávara comercializou entre 1978 e 1981 (453 exemplares).
Pensado para ser um vencedor, este modelo teve como maior entrave ao sucesso o tempo que levou a ser desenvolvido: 3 anos. No entanto, e apesar das vicissitudes, o BMW M1 conheceu sucesso com a versão desportiva Procar e, também, na versão de estrada.
O modelo, que comemora em 2021 43 anos, é atualmente um clássico muito cobiçado e mantém uma aura de elegância e desportividade.
BMW M1: história atribulada
À semelhança de outros modelos que surgiram nos anos 70/80 do século XX, também o M1 foi pensado e construído para competição. A sede da BMW em competir na classe dos superdesportivos, tal como a marca classificou o M1, e lutar ombro a ombro com a rival Porsche nas provas do Grupo 5, levou à realização de um projeto que conheceu altos e baixos. Olhando para trás, podemos dizer que comprometeu o que de início seria uma aposta 100% de sucesso.
O projeto começa com intervenção de Jochen Neerpasch, que chefiava a divisão de automobilismo da BMW, e tinha como principal requisito ter motor central para superar a concorrência em pista.
Como para homologação a BMW tinha de produzir 400 exemplares de estrada, e no tempo pré estabelecido não tinha essa possibilidade, criou uma parceria com a Lamborghini para que esta trabalhasse o chassis (obra de Gianpaolo Dallara) e realizasse todo o processo de montagem.
Um contratempo funcional na Lamborghini levou a que a marca, pouco depois de ter celebrado a parceria com a BMW, conhecesse uma derrapagem financeira que comprometeu o projeto. A BMW acaba por assumir o controlo do projeto em Abril de 1978, após a construção de sete protótipos.
O atraso na produção e a alteração das regras do Grupo 5 obrigaram, assim, a marca alemã a decidir por competir com o M1, no Grupo 4.
Do design de Giorgetto Giugiaro à construção manual
O BMW M1 é o primeiro automóvel a ser desenvolvido em exclusivo pela divisão BMW M. O M1 coupé foi construído à mão, entre 1978 e 1981, com a supervisão da divisão de automobilismo da marca alemã.
A carroçaria é assinada por um dos homens mais talentosos do design de automóveis: Giorgetto Giugiaro. O técnico de desenho é responsável pelo design de mais de 200 modelos de série que têm em comum um único denominador: o sucesso.
Recorde-se que Giorgetto Giugiaro, que nasceu a 7 de Agosto de 1938, em Garessio, Itália, é autor do desenho de automóveis como VW Passat, Golf, Fiat Uno, Fiat Punto, entre muitos outros. Iniciou a carreira no estúdio de Nuncio Bertone. O primeiro desenho que fez para aquele estúdio foi o Alfa Romeo 2000.
Trabalhou ainda no estúdio Ghia e, em 1968, cria o seu próprio estúdio, Italdesign Giugiaro, inaugurado com o projeto do Bizzarrini Manta (1969). Em 1999, Giorgetto Giugiaro ganhou o prémio “Designer of the Century”. Em 2002, entrou no “Hall of Fame” do Palaexpo, em Genebra e, em 2013, ganhou o Antonio Feltrinelli Prize.
Atualmente a Italdesign pertence ao Grupo Volkswagen.
BMW M1: tão eficiente em estrada como na pista
Mesmo tendo em conta algumas adversidades no percurso de produção, o BMW M1, cujo nome de código era E26, resulta num projeto vencedor. Apresentado no Salão Automóvel de Paris, em 1978, é o culminar de uma parceria BMW Motorsport, Lamborghini e Italdesign que trouxe para a realidade um supercarro ou superdesportivo, como se queira chamar, tão eficiente em estrada quanto nas pistas.
As versões de estrada e de competição tinham por base um motor que a BMW utilizava no coupé 635 CSi. Tratava-se de um bloco seis cilindros em linha em ferro fundido com 3.453 cc. A base foi mantida, mas o departamento desportivo da BMW agarrou na “varinha mágica” e forjou uma nova cabeça em alumínio, com duplo comando, quatro válvulas por cilindro, cambota em alumínio forjado e alta taxa de compressão.
Uma das diferenças que distinguia as duas versões, a nível mecânico, era a potência: versão de estrada 277 cv, enquanto o Grupo 4, que tinha uma cilindrada um pouco maior 3.498 cc, debitava 470 cv. O peso do conjunto era de 1.020 kg.
O motor montado em posição central e longitudinal seguia a tendência lançada pela Lamborghini, e que fez escola, com a potência transferida a caixa ZF de cinco velocidades e tração traseira.
A suspensão era independente às quatro rodas, com braços triangulares sobrepostos, enquanto os amortecedores eram pressurizados. Tinha travões de disco, enormes, nas quatro rodas.
B.I. com números interessantes
Versão de estrada
- Cilindrada: 3.453 cc
- Potência: 277 cv
- Peso: 1.440 kg;
- 0-100 km/h: 5,4 s
- Velocidade máxima: 260 km/h
Versão de pista
- Cilindrada: 3.498 cc;
- Potência: 470 cv
- Peso: 1.020 kg
- 0-100 km/h: 4,5 s
- Velocidade máxima: 310 km/h
O modelo pensado para o Grupo 5 recebia motor 3.2 litros, com turbocompressor e anunciava potência de 850 cv. Mas, segundo relatos da época, chegou muito tarde às pistas.
BMW M1: desportivo de grande qualidade
Após o seu lançamento, rapidamente o BMW M1 atingiu sucesso entre o público e foi apelidado de superdesportivo de qualidade.
É que, embora fosse pensado para as pistas, a verdade é que a versão de estrada, sobressaía. Assim, destacava-se, não só pelo design imposto por Giugiaro, mas também por apresentar um habitáculo bem construído, ergonómico q.b. e que recebia completa instrumentação, bem como, itens de conforto como ar-condicionado e vidros elétricos. Além disso, o condutor não precisava ter dotes de piloto para conduzir o M1.
Quanto às versões de competição, estas participaram em diversas provas do Grupo 4. No entanto, o rendimento esperado dos desportivos M1 só mais tarde foi alcançado ao utilizá-lo na Procar. Esta foi uma classe que reuniu, nos anos de 1979 e 1980, pilotos de Fórmula 1, para competirem entre si, em máquinas que possuíam preparação similar. Estas competições tinham lugar antes das provas de F1 e tiveram como campeões Niki Lauda e Nelson Piquet.
Foi esta classe, Procar, que trouxe algum protagonismo ao BMW M1, que ainda hoje continua a atrair curiosos, sendo um clássico muito apetecido, até porque só foram construídos 453 exemplares.