Bastou dar os primeiros passos, depois de ter atravessado a fronteira para perceber porque lhe chamam a Índia da América. Os preços são muito mais baratos, desde viagens de autocarro de 8h por pouco mais de 4€, um prato cheio com entrada de milho cozido e uma sopa de quinoa por menos de 2€.
Nas feiras que estão em todo o lado vende-se de tudo, desde comida a roupa e se houver paciência pode-se comprar tudo o que é necessário para montar um carro, mas o que mais me apaixonou foram os mercados que fazem lembrar os antigos de Lisboa ou o atual do Bolhão, onde nos me deram a provar desde anonas ou papaias como nunca vi antes de tão grandes que são!
Na Bolívia não é possível andar à boleia, pois toda à gente é taxista e cobram por vezes mais que o autocarro. A única possibilidade seria esperar que passasse algum estrangeiro com um carro alugado, mas as estradas por vezes são praticamente intransitáveis, sendo normal passar por caminhos com ravinas enormes que são de dois sentidos, mas onde há espaço apenas para um carro, ou caminhos que estão em construção e que devido à chuva são lama autêntica.
Por vezes sentia um arrepio na espinha quando olhava pela janela e outras vezes pensava, “mas temos que voltar para trás, é impossível o autocarro passar aqui”… mas acabava sempre por passar.
Depois de ter estado em Potosí e Sucre, que apenas descobri um mês antes que era a capital da Bolívia, tinha que tomar uma decisão ou ir até ao famoso salar do Uyuni, que é o maior deserto de sal do mundo, mas muito caro e bastante turístico ou seguir a “Ruta de Che Guevara”, passando por pequenas aldeias, onde as temperaturas seriam mais amenas, devido à proximidade com a Amazónia e claro em termos financeiros muito mais em conta.
Optei pela segunda opção e antes de chegar a Valle Grande, onde Che Guevara esteve sepultado durante 30 anos em segredo, passei por pequenas aldeias no interior da Bolívia e por paisagens de cortar a respiração. Mas o melhor estava guardado para a última aldeia, Samaipata. Era sem dúvida o povoado mais bonito de todos, com uma arquitectura colonial e uma envolvente de montes verdes, que fazia lembrar o Brasil.
Quando acordei, depois de ter dormido a primeira noite escondido no meio de umas árvores, só com o colchão e um saco-cama, fui em direção à praça principal e sem saber bem o que fazer sentei-me à beira da estrada a escrever. Mal tinha começado passou um homem, que percebi que não era boliviano, que meteu conversa comigo. Depois de trocarmos algumas palavras perguntei se ele conhecia uma ecoaldeia aqui perto, pois umas semanas antes, quando procurava por voluntariado na Bolívia, tinha visto que aqui havia uma; riu-se e, sem dizer nada, fez um gesto com a mão para o acompanhar.
Era o fundador e passei todo o dia na ecoaldeia, que ficava no meio de uma floresta virgem. Para lá chegar foi necessário descalçar-me para atravessar um rio. Havia meia dúzia de voluntários, alguns que estavam há uma semana ,outros há dois meses. Era um local de total conexão com a natureza. Na próxima semana vou contar como uma virose me deixou de rastos quando cheguei sozinho a La Paz. A viagem segue em Puririy.
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