No final de janeiro, foi apresentado o estudo de João Marôco, professor e investigador do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) que realizou cerca de 500 inquéritos nos anos letivos de 2009/10 e 2010/11, a alunos de várias áreas do ensino superior, privado e público da região de Lisboa, e concluiu que 15% apresentavam níveis moderados a elevados de burnout académico.
O que é o síndrome de burnout?
O síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, stress e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante.
A principal causa é o excesso de trabalho e é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes. O burnout pode resultar em depressões profundas que exigem acompanhamento profissional logo aos primeiros sintomas.
De acordo com o estudo do ISPA, inicialmente, o burnout era considerado um “síndrome específico de profissionais que executam serviços ou tarefas de apoio a outras pessoas”, dando como exemplo as profissões de médico, advogados, psicólogos e professores.
No entanto, são referidas pesquisas que mostraram que o burnout não é exclusivo destas profissões e que “também pode ser encontrado noutras atividades profissionais”, no desempenho das responsabilidades parentais e em alunos.
Burnout académico afeta metade dos alunos do ensino superior
O estudo do ISPA avaliou o grau de exaustão emocional, ou seja, cansaço emocional e físico que leva as pessoas a sentirem não ter força para continuar a trabalhar ao mesmo ritmo e aumenta a descrença relativamente à utilidade dos estudos. Para além disso, dificulta a realização e eficácia profissional, isto é, aumenta as dificuldades em cumprir as tarefas atribuídas pelos professores. Este são, por assim dizer, fatores que determinam a existência de burnout académico.
Para a realização do estudo, foram feitos cerca de 500 inquéritos, nos anos letivos de 2009/10 e 2010/11, a alunos de várias áreas do ensino superior, privado e público da região de Lisboa, e concluiu-se que 15% dos estudantes apresentavam níveis moderados a elevados de burnout.
Para o investigador, João Marôco, “valores da ordem dos cinco a 10% dos alunos seriam aceitáveis”, mas este nível é preocupante.
Mais de metade dos alunos apresentavam baixa eficácia ou realização profissional, 18% tinham níveis elevados de cinismo ou descrença na utilidade dos estudos e 21% revelavam exaustão emocional elevada.
Entre os estudantes, os cursos com níveis mais elevados de burnout são os de saúde e das ciências sociais, devido a maior exaustão emocional e a maior descrença, respetivamente. Ao contrário das engenharias que apresentam valores menores.
Consequências do burnout académico
“Uma das características do burnout que me deixou mais preocupado foi ter notado que alguns alunos apresentavam elevada descrença na utilidade dos estudos pois a consequência mais imediata” é o abandono do curso, salientou o investigador.
Tomando como exemplo dos alunos de Medicina, um dos grupo com níveis mais elevados de burnout, se desistirem no terceiro ou quarto anos, “é um investimento feito pelo estudante, pela família e pelo Estado que é perdido”.
Outro sinal da situação que João Marôco relata, “tem a ver com a descrença e os alunos transmitiam que achavam que não davam conta do trabalho”, acreditavam não conseguir fazer a disciplina e, por vezes, julgavam-se mesmo incapazes de terminar o curso.
“Os alunos começam a ficar exaustos emocionalmente, o que se junta às condições sócio-económicas do país” que acabam por refletir-se nas condições das famílias para suportar os estudos.
“Muitas vezes, para lidar com este estado de exaustão emocional, descrença e cinismo, os mais jovens recorrem a substâncias psicotrópicas, a drogas, a medicamentos.” O que “pode ser o início da criação de dependência que começa na escola, no ensino superior. A maior parte dos professores não está atento a esse tipo de problemas, porque não tem formação na área, e muitas vezes a própria família também não”, explicou ainda.
O estado de burnout académico “é a porta de entrada para o abuso de substâncias e, em alguns casos mais graves, problemas físicos e psicológicos e até tentativas de suicídio“, alertou o investigador.
O conselho de João Marôco é “tentar articular o trabalho pedido pelos vários docentes, o que não reduzia a capacidade dos estudantes, mas diminuía a quantidade de trabalho” exigida. Promove-se, assim, a relação entre matérias das várias disciplinas.
Como prevenir o burnout académico?
A melhor forma de prevenir é procurar e implementar estratégias que diminuam o stress e a pressão que possa sentir na vida académica, por exemplo:
- Defina pequenos objetivos na vida académica e pessoal;
- Participe em atividades de lazer com amigos e familiares;
- Tente fugir à rotina, com atividades como passear, comer fora ou ir ao cinema;
- Evite o contacto com pessoas “negativas”, especialmente aquelas que estão sempre a queixar-se da vida e dos outros;
- Converse sobre o que sente com alguém da sua confiança;
- Pratique exercício físico regularmente;
- Faça uma alimentação saudável;
- Evite o consumo de bebidas alcoólicas, tabaco, droga ou substâncias psicotrópicas;
- Não se auto-medique, nem tome medicamentos sem prescrição médica;
- Descanse adequadamente, durma, pelo menos, 8 horas por noite.