Share the post "Bussaco: passeio na mata que foi madrasta para os franceses"
Antes de subir ao Bussaco, uma paragem para deixar as malas no Curia Palace Hotel. O relógio no hall está parado nas 8h00. Ou será nas 20h00? Está certo duas vezes ao dia e talvez pouco importe para a verdadeira viagem ao passado que constitui uma estadia neste alojamento.
Dele falaremos mais à frente, contando parte da história de uma unidade hoteleira onde os traços de um passado glorioso espreitam em cada recanto, ao mesmo tempo que a modernidade vai irrompendo em alguns pormenores incontornáveis.
Mas já lá vamos. Agora vamos meter pés ao caminho para nos perdermos, no bom sentido, pela mata do Bussaco adentro.
Quem sai do Porto atarefado e rola pela A1 rumo à zona da Mealhada, sente que está a sair da grande cidade assim que começa a ser envolvido pelo esfuziante verde que (ainda) vai dominando a zona do Bussaco.
Assim, quando se começa a subir a serra, os pulmões enchem-se de ar puro, o olfacto experimenta cheiros até então desconhecidos, a vista deslumbra-se com árvores impossíveis de agarrar num só abraço.
Quando já se está quase em estado zen, chega-se à primeira portagem. Sim, é verdade, para seguir pela Mata Nacional do Bussaco tem que pagar cinco euros, se for de carro. Se for mais aventureiro e atlético, pode ir a pé ou de bicicleta e aí não lhe cobram nada.
Bussaco: património, história e natureza
Um quilómetro mais à frente, abre-se a boca de espanto pela primeira vez. O Hotel Palace do Bussaco (o da Curia já lá vamos…) é uma verdadeira obra de arte e a sua imponência só podia mesmo sair da cabeça de um artista italiano, Luigi Manini.
Em estilo manuelino, tem imensas referências aos Descobrimentos e painéis de azulejos absolutamente deslumbrantes.
Claro que não é fácil de visitar, até porque está, regra geral, lotado, mas ainda assim os jardins em redor e o próprio edifício proporcionam imagens fantásticas. E há muito a ver nas redondezas.
Mata Nacional
Na Mata Nacional do Bussaco, há uma série de espaços que merecem uma visita demorada e, porque não, umas sessões de fotografia.
O Vale dos Abetos, o Lago Grande, a majestosa Fonte Fria ou o Jardim Novo são alguns dos locais que não deve perder.
Depois há ainda uma série de atividades, como percursos pedestres, que podem ser percorridos ou livremente ou sob marcação. Até pode ir do Bussaco à Curia.
Museu Militar do Bussaco
No Museu Militar do Bussaco passa-se em revista uma parte importante da nossa história, designadamente a que está directamente ligada às invasões francesas, em finais do século XVIII, inícios do século XIX.
Inaugurado em 1910, está bem próximo do monumento aos combatentes da Guerra Peninsular e marca o momento em que as forças anglo-lusas deram uma tareia aos homens de Napoleão Bonaparte. Do Bussaco à Curia nenhum gaulês passou.
O museu conta com coleções valiosas, como uma imperdível parada de soldadinhos de chumbo.
Luso
A freguesia do Luso está no Bussaco? Ou o Bussaco está no Luso? Seja como for, tirando as termas e a fonte de água sempre fresca (essa mesmo, a Água do Luso), pouco mais há a oferecer.
Pode aproveitar para encher alguns garrafões de água na Fonte de S. João, que fazem mesmo muito jeito em dias de calor.
Depois de voltar a descer a mata, eis-nos a rolar em direcção à Curia, que é logo ali à frente. Um estrada pontuada por frondosas árvores dá as boas-vindas a uma estância termal que já foi uma das mais concorridas do país.
Aliás, o parque das termas ainda ali está a lembrar tempos de antanho e que, aos poucos, se vai tentando recuperar.
Do Bussaco à Curia: regresso ao passado
Estamos de volta à Curia, mais propriamente ao Palace Hotel, um complexo desmesurado, que hoje em dia seria um projecto absolutamente megalómano. Mas na altura era assim que se faziam as coisas e a unidade era praticamente auto-suficiente.
O edifício principal está todo recuperado. Se os quartos respondem a todas exigências de conforto e modernidade, as áreas comuns respiram antiguidade e requinte, permitindo perceber como era nos seu momentos de glória.
A central telefónica, a piscina de dimensões olímpicas, o campo de ténis ou o fantástico restaurante permitem adivinhar outros tempos e clientelas.
As termas tiveram o seu tempo áureo entre 1920 e 1950, grosso modo. Com o declínio desta actividade, também a atractividade da terra se foi perdendo, começando agora a tentar encontrar-se novos caminhos.
Além das tradicionais termas, há os modernos spa e pode sempre visitar o Curia Park. Nas redondezas pode ainda visitar espaços como as Caves do Solar de São Domingos, a Barragem de Santa Luzia ou a Quinta do Encontro (com excelentes vinhos).
Onde Comer
Quando a fome aperta pelo Bussaco, não há muito que pensar nesta região. Sim, é isso que está a pensar, o famoso leitão à Bairrada. Os restaurantes sucedem-se e a dificuldade é escolher.
A maior parte deles reclama ser o “verdadeiro”, o “único”, o “melhor” leitão da região. A verdade é que esta é uma iguaria que quase sempre sabe bem, independentemente do espaço escolhido.
Fomos ao Pedro dos Leitões. Como podíamos ter ido à Meta, à Metinha, ao Nelson ou ao Rei. O importante é que a confecção do bacorinho esteja como manda a tradição, mesmo havendo sítios fora da Bairrada onde se come um belo leitão.
E essa tradição faz-se acompanhar, claro está, por um dos excelentes espumantes da Bairrada e a batata frita na hora. O colesterol ressente-se, mas o palato agradece.
Onde ficar
Os Curia Palace Hotel ou o Palace Bussaco Hotel são duas excelentes opções. Quem desejar algo mais barato, pode optar pela Quinta dos Três Pinheiros, o Alegre Hotel ou o Vinil M Hotel.
Como ir
Quem circula pela A1, apanha a saída da Mealhada e logo aparecem várias placas a indicarem o Bussaco e a Curia. E mal se sai da portagem aparece o primeiro restaurante de leitão.