Share the post "Caipirinha contra a pandemia: uma fantástica história brasileira"
A caipirinha é quase a bebida nacional do Brasil, tendo-se espalhado um pouco por todo o mundo. O seu sabor refrescante e inebriante conquistou milhões de adeptos e as formas de a confeccionar multiplicaram-se por estilos e sabores.
No entanto, a origem da caipirinha não está diretamente ligada a momentos de diversão, mas antes a um problema sanitário muito parecido com a pandemia da COVID-19 que o mundo recentemente enfrentou.
Assim, para percebermos melhor onde e como nasceu a caipirinha temos que recuar até 1918, ano em que o mundo se debatia com a gripe espanhola, uma pandemia que se acredita tenha dizimado cerca de um por cento da população mundial. Como é óbvio, o Brasil não foi exceção, registando nessa altura cerca de 35 mil mortos, 15 mil dos quais só no Rio de Janeiro, então a capital do país.
Por isso, era importante encontrar uma forma de combater a maleita que estava a arrasar o mundo e os brasileiros não o fizeram por menos: a caipirinha foi uma das respostas à gripe espanhola. Assim, criaram uma bebida que haveria de disseminar-se pelo mundo inteiro a uma velocidade estonteante, resistindo a pandemias, guerras e modas.
CAIPIRINHA: a origem de uma bebida global
Reza a lenda que terá sido na cidade de São Paulo (atualmente a maior cidade do Brasil) que se recorreu pela primeira vez a um remédio caseiro para fazer face à gripe espanhola. Assim, a mistura de cachaça, limão e mel foi uma das soluções que os brasileiros tentaram para obstar ao avanço da pandemia. Obviamente que se estava a assistir ao nascimento da caipirinha.
O sucesso foi tal, pelo menos no que diz respeito aos supostos efeitos benéficos que a mistura traria, que o preço dos limões disparou e o fruto quase que desaparece das mercearias. É que uma pandemia pode ser tramada de conter, mas o mercado ganha sempre a sua parte.
Curiosamente, em 1918, uma das peças de teatro com maior sucesso em cena na cidade de São Paulo chamava-se A Caipirinha. Para quem acha que não há coincidências, está explicada a origem da bebida.
Instituto Brasileiro da Cachaça confirma
Esta explicação é corroborada pelo próprio Instituto Brasileiro da Cachaça, que na sua página na internet revela que foi dessa receita supostamente terapêutica que nasceu a famosa caipirinha. Na altura, tratava-se de um xarope feito através da maceração de pedaços de limão com casca, mel e cachaça, havendo ainda registo da utilização de alho na mistura.
Mas de quem terá sido esta brilhante ideia? Ora bem, aqui as certezas são um pouco mais difusas, mas há quem atribua a autoria da receita a Paulo Vieira, proprietário de terras em Piracicaba, no estado de São Paulo, que teria criado a receita para a ministrar aos seus camponeses afetados pela gripe espanhola.
Contudo há quem conteste frontalmente esta hipótese e democratize a caipirinha, ou seja, foi uma invenção anónima que se espalhou por todo o estado de São Paulo como mezinha para combater a pandemia.
Outra explicação para a caipirinha
Mas também há quem refute esta teoria sanitária e localize o nascimento da caipirinha no século XIX, também em Piracicaba, terra de latifundiários. Assim, terá surgido como uma bebida para comemorações importantes, afirmando-se como um símbolo da cultura de cana na região.
Sendo uma bebida regional e de excelente qualidade, chegava mesmo a substituir o whisky ou os vinhos importantes. No entanto, mesmo nascendo no seio da alta sociedade, a caipirinha rapidamente se tornou popular entre o povo, algo a que não seria alheio o baixo custo dos ingredientes para a preparação da bebida.
Entretanto, com a pandemia já debelada, a caipirinha ia fazendo o seu percurso rumo à fama. No seu estado berço, São Paulo, foi servida durante a Semana de Arte Moderna de 1922, ganhando imensa popularidade entre os artistas, sendo que por volta de 1930 já é possível encontrar a bebida em estados como Minas Gerais ou o Rio de Janeiro. E foi sofrendo algumas mutações: o limão deu lugar à lima, o mel foi substituído pelo açúcar, o alho saiu da ementa, e aparece o gelo para a tornar mais refrescante.
Como fazer uma excelente caipirinha
Por isso, é deveras importante saber fazer uma caipirinha de qualidade para aproveitar todo o sabor de uma bebida que também conquistou Portugal. Assim sendo, aqui fica uma receita para a caiprinha perfeita, sem sabor amargo, sem excesso de cachaça ou cheia de açúcar no fundo:
- Corte as limas em fatias finas e esmague levemente com o açúcar. Não esmague de mais nem utilize uma batedora;
- Corte limas ao meio e depois em fatias finas, tipo meia-lua;
- Volte a esmagar levemente as fatias de lima com o açúcar num copo baixo (e não esqueça que esmagar em demais vai deixar a bebida amarga);
- Encha o copo com gelo e deite a cachaça, misturando os ingrediente e finalizando com algumas fatias de lima;
- Se vai preparar caipirinha para muita gente tenha sempre em atenção a regra dos terços: uma parte do copo ou jarra de fatias de lima, uma parte de gelo e uma parte de cachaça;
- Não se esqueça que quanto melhor a cachaça, melhor a caipirinha.
Como é óbvio, beber caipirinhas em catadupa não vai livrar ninguém de eventualmente ser infetado e desenvolver a COVID-19.
Há mais ou menos um século, os ainda tímidos avanços sanitários que iam surgindo a conta gotas mundo fora, favoreciam o aparecimento de supostos remédios caseiros e mezinhas populares.
Os brasileiros foram mais longe e criaram um remédio caseiro que se pouco serviu perante a pandemia de gripe espanhola, acabou por se transformar numa verdadeira instituição no país e no mundo!