A calçada portuguesa está a caminho de fazer história — outra vez. Desta vez, não é apenas por embelezar ruas ou por dar nós nos tornozelos dos mais distraídos. É porque pode vir a ser reconhecida como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Sim, leu bem. A candidatura foi formalizada a 14 de março. Um passo firme, cheio de simbolismo, dado pela Associação da Calçada Portuguesa, com a ajuda de calceteiros, artistas, municípios e várias instituições.
Uma arte com raízes, mãos e visão
Esta não é apenas uma técnica de pavimentação. É uma arte. Uma herança cultural feita à mão, com paciência, talento e pedras que contam histórias.
Há quem diga que caminhar sobre calçada portuguesa é pisar cultura. Outros dirão que é um teste de equilíbrio. Seja como for, ninguém fica indiferente.
Da calçada lisboeta ao mundo
A influência desta arte não se limita ao território nacional. Está no Brasil. Em Macau. Em Angola. E noutros pontos onde o legado português deixou pegadas — literalmente.
É por isso que esta candidatura é mais do que simbólica. Representa um reconhecimento global de uma arte que, apesar do seu impacto, corre o risco de desaparecer.
Calceteiros: os verdadeiros artistas urbanos
Se a calçada é uma obra de arte, os calceteiros são os seus pintores. São eles que transformam pedras em padrões. Que desenham ruas com martelo e mestria.
Mas, infelizmente, são poucos. E a profissão, apesar de nobre, não tem atraído novas gerações. Daí a importância de valorizar, proteger e transmitir este saber-fazer.
Mais do que estética, uma questão de identidade
A calçada portuguesa é estética, claro. Mas é também identidade. Faz parte do ADN das cidades. Conta a história do país em mosaicos que pisamos todos os dias, muitas vezes sem reparar.
Preservá-la é cuidar da nossa memória coletiva. É garantir que o chão que pisamos continua a contar histórias às gerações futuras.
O que está em jogo
A candidatura à UNESCO é um apelo à acção. Às câmaras, ao Estado, à sociedade. Para que não deixemos esta arte desaparecer. Para que possamos continuar a caminhar sobre pedras que têm muito para dizer.
E, quem sabe, um dia poderemos dizer aos turistas: “Sim, esta calçada é Património da Humanidade. E é portuguesa.”
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