O cinema é uma forma de sonhar acordado, tentar antecipar o futuro e, uma vez que há tantos filmes de ficção científica, dificilmente um amante de automóveis não imaginou como seria conduzir (ou estar ao volante de) um carro do futuro.
A pergunta que se coloca é se será mais parecido com um “Regresso ao Futuro”, um “Blade Runner”, ou até um “Minority Report”. Embora, não seja possível adivinhar o futuro, acreditamos que este último talvez esteja mais perto da verdade, até porque o presente assim o indica.
Pode-se dizer que o final da primeira década e essencialmente o segundo decénio do Séc. XXI foram responsáveis por inovar em vários níveis: desde a conetividade, à eletrificação e alternativas aos veículos automóveis até às caixas automáticas. Até já se começa a falar em carros autónomos de nível 5.
Portanto, se as duas primeiras décadas foram fulcrais para a aceitação das novas tecnologias (algumas delas com origens bem mais antigas), presume-se que a terceira seja a de afirmação.
Carro do futuro: o que muda
Fim anunciado do pedal da embraiagem e da caixa manual em “H”?
Curiosamente, a primeira transmissão automática foi inventada em 1921, por um engenheiro canadiano, Alfred Horner Munro. No entanto, a invenção demorou a “pegar”,
Já nos dias de hoje é recorrente encontrar carros com transmissão automática. Se, quando os mesmos se tornaram popularizados, ainda na primeira década do novo milénio, era uma inovação exclusivamente para veículos topos de gama, atualmente já é possível verificar automóveis com transmissão automática nos de gama mais baixa.
Ainda assim, há quem se mostre contra os veículos de transmissão automática, argumentando que se perde o “sabor” da condução. Por essa mesma razão, foi criada a transmissão semiautomática, opção normalmente incluída nos veículos com transmissão automática.
Mesmo assim, “faltava a caixa de velocidades em H” para dar maior controlo ao condutor. Para os que mais rejeitam a transmissão automática, já estão em desenvolvimento projetos de “sensores de intenção” no lugar dos pedais, como é o caso da Volvo e da Hyundai, que poderão solucionar o problema de manter uma caixa de velocidades sem ser necessário usar o pedal.
Caixas de velocidades sem pedais já foram testadas e implementadas anteriormente, no Séc. XX, mas na altura sem conhecimento tecnológico para se tornar uma opção válida.
Resumidamente, prevê-se que durante a próxima década a transmissão automática ganhe ainda maior relevo e que a caixa de mudanças em “H” comece a desaparecer, mas não totalmente.
No entanto, novos projetos indicam que mesmo os poucos que prefiram manter a caixa de velocidades deverão ser mais recetivos a retirar o pedal.
Faróis Led para todos
Inventadas em 1882 pela General Eletric, durante muito tempo, as lâmpadas de halogéneo foram durante mais de um século a melhor alternativa. Eram as mais eficientes, embora o seu custo fosse elevado. No entanto, nada dura para sempre e a tecnologia LED é, hoje em dia, considerada a melhor, tanto a nível de iluminação como de gasto.
De forma sucinta, a 1 de setembro de 2018, a União Europeia proibiu a comercialização de lâmpadas de halogéneo, alegando “não só reduzir as emissões de dióxido de carbono, mas também as contas da luz”.
Mesmo que a indústria automóvel seja uma exceção a essa imposição da UE, o futuro, que já quase é um presente, passa pelo uso de faróis LED. Pelo menos até à próxima descoberta.
Travões elétricos em vez dos travões de mão
O objetivo da indústria automóvel na conceção do carro do futuro passa por retirar equipamentos desnecessários do interior do automóvel para permitir um maior espaço e conforto a quem circula nos carros.
A transmissão automática foi criada, também, nesse sentido e os travões elétricos são a outra invenção. Já utilizados em inúmeros modelos, começam a ser, cada vez mais, implementados.
O carro do futuro próximo deverá ditar a extinção dos modelos com travão de mão.
Aproxima-se o fim dos combustíveis fósseis
Ponto prévio: com as diretivas do Acordo de Paris de 2018, 15 cidades europeias anunciaram limitações à circulação de veículos a Diesel, sendo que mais outros modelos deverão, também eles ser retirados, depois de 2015,
As cidades em questão são: Paris (França), Bruxelas (Bélgica), Londres e Oxford (Reino Unido), Madrid (Espanha), Atenas (Grécia), Roma, Milão e Turim (Itália), Berlim, Hamburgo, Estugarda e Munique (Alemanha), Oslo (Noruega) e Copenhaga (Dinamarca).
Em Portugal, também já existem limitações. Em Lisboa, por exemplo, desde janeiro de 2015, os carros com matrículas anteriores a 2000 estão proibidos de circular, entre as 7h e as 21h dos dias úteis, no eixo desde Avenida da Liberdade até à Baixa.
Além disso, em 2019, houve um aumento mundial da venda dos elétricos em 40%. Circulam, atualmente, em todo o mundo mais de sete milhões de veículos elétricos, embora quase metade (45%) sejam na China.
Nesse sentido, já várias marcas, anunciaram pretender ter uma versão eletrificada de todos ou quase todos os modelos: seja ela 100% elétrica ou híbrida.
Como é sabido, os carros híbridos a diesel acarretam outro tipo de complicações mecânicas e em termos de custos do que os a gasolina.
Ou seja, o diesel vai desaparecer e, provavelmente, para o final década, principalmente nas grandes cidades já vão ser raros os automóveis com este tipo de combustível.
No entanto, prende-se uma outra dúvida: e quanto à gasolina?
Embora demore, provavelmente, mais tempo, uma vez que polui menos, a gasolina também deverá ser alvo de limitações por parte da União Europeia.
Portanto, também deverá eventualmente desaparecer. No entanto, nos próximos anos deveremos assistir à massificação dos veículos híbridos e um aumento dos 100% elétricos.
As previsões apontam no sentido de, no final da década, cerca de 30% dos automóveis serem eletrificados, contrariando os menos de 10% da atualidade.
O hidrogénio como fonte alternativa
Os automóveis elétricos têm, no entanto, dois problemas. Apesar de compensarem durante a sua vida útil, durante o seu fabrico, poluem quantidade de CO2 cerca do dobro de um veículo a diesel ou a gasolina.
Apesar da reciclagem das baterias diminuir essa poluição, não nos podemos esquecer da pouca autonomia que os elétricos têm atualmente. Apenas os veículos topo de gama conseguem rodar cerca de 500 km sem abastecer. A sensação que se fica é que a eletrificação de um automóvel é apenas um passo rumo ao futuro, mas não o futuro em si.
Assim, a alternativa para o carro do futuro poderá passar pelas fuel cell. Sabe-se que o hidrogénio como fonte de abastecimento de energia a uma bateria elétrica ajuda a aumentar a autonomia. No entanto, é bastante fácil de arranjar, sendo que ainda não há grandes redes de abastecimento de hidrogénio.
Apesar de no leste asiático, a Toyota, a Hyundai e até a Honda estarem a desenvolver projetos de hidrogénio, sendo que as duas primeiras têm já modelos comerciáveis, como o Mirai e o Nexo, respetivamente, o resto do mundo não parece muito recetível ainda.
Há, no entanto, exceções, que nos levam a acreditar que o hidrogénio poderá ter sucesso, como por exemplo: o projeto Zeus da britânica Jaguar.
Acredita-se, portanto, que o hidrogénio vá sendo lentamente introduzido no mundo automóvel, tal como os elétricos o foram nesta década 2010. Quando? Provavelmente nas próximas duas décadas.
Carros cada vez mais autónomos
Já há carros totalmente autónomos e até a Google e a Apple parecem interessadas em descobrir quem ganha a competição primeiro. Qual o problema? Passar dos testes à prática. Segundo especialistas, parece ser mais desafiante e dispendioso do que parece.
Até agora, apenas a Audi lançou modelos de autonomia nível 3 em que o condutor é efetivamente meramente um passageiro, embora se solicite a sua atenção e que assuma o controlo em certas ocasiões.
No entanto, foram poucos os países que lançaram ou têm legislação que permita a sua circulação, excetuando em testes. Em Portugal, a legislação em vigor não permite a livre circulação de veículos autónomos de nível 3, pelo que os Audi A8 e Q8 tiveram de se adaptar às legislações de cada nação.
Assim sendo, parece que os níveis de autonomia, num futuro próximo, serão mais ao nível do reforço dos sistemas de auxílio de condução, como o sistema de travagem de emergência, mudança de faixa, alertas de acidentes, peões e bicicletas, entre outros.
Fica, no entanto, a ideia que o carro do futuro poderá ser autónomo. Mas, isto só vai acontecer quando se ultrapassarem as questões legais e os testes de autonomia começarem a ser mais recorrentes. Poderá demorar muito ou pouco, mas pelo o nível 3, já bastante avançado, avizinha-se a curto prazo.
Fim das chaves de ignição
Já há chaves digitais. A Tesla, a Toyota e até a BMW recentemente já usam ou já anunciaram a intenção de usar. Até os próprios iPhones parece que poderão servir de chaves.
São cada vez mais a invenções e as tentativas de inovar algo novo neste aspeto, dando um sinal claro: as chaves convencionais vão desaparecer e o fim não está muito longe.
Tudo interligado
Ora, se vamos ter automóveis autónomos ou ainda mais autonomizados, já temos sistema de conectividade bastante avançados que nos permitem aceder à Internet num automóvel. Para além disso, já se começam a usar telemóveis com aplicações para servir de chave e partilhar e gerir essa mesma com outras pessoas, criando até limitações e características próprias de condução para cada utilizador.
Então, será sem surpresas que, no futuro, uma viagem num automóvel terá a mesma capacidade de navegação na Internet como, por exemplo, um telemóvel.
Basta observar o presente. Já são poucos os automóveis a ser comercializados, nos dias de hoje, que não têm sistemas de conectividade de ponta.
O carro do futuro passa pelo presente e o agora diz-nos que já estamos a caminhar para um mundo automóvel eletrificado, autónomo e até interligado. Com menos equipamentos, maior conforto e até sistemas de inteligência artificial, será mais simples gerir se o automóvel está em boas condições ou não e o que precisa de fazer para o reparar.