A verdade é que já não há volta a dar. A eletrificação dos automóveis é uma realidade e até 2030 muitas coisas vão mudar, nomeadamente, a diminuição efetiva da produção de veículos a combustão interna, quer a gasolina, quer a gasóleo. Mas os preços continuam muito altos. Afinal, por que são os carros elétricos tão caros?
Embora o mercado ainda esteja no alvorecer da eletrificação automóvel, no que diz respeito ao nível tecnológico muito há ainda a caminhar.
Todos os dias, as empresas ligadas ao sector automóvel e à produção de componentes de hardware e de software dão a conhecer novidades e melhoramentos que visam, de algum modo, não só uma produção mais eficaz mas, também, a procura de preços mais competitivos.
As marcas automóveis esforçam-se por aumentar a oferta de viaturas elétricas, mas o grande público ainda coloca travão no momento de comprar um automóvel elétrico.
É preciso ponderar aspetos como o preço, que atualmente ainda está elevado, quando comparado com os carros movidos a combustível fóssil. Contudo, não é só este fator a entrar na equação.
Autonomia do veículo, tempos de recarga da bateria, os inevitáveis custos do ‘abastecimento’, e a oferta de rede pública que garanta carregamento tranquilo, minimizando ansiedade de ficar sem ‘eletricidade’ na bateria, engrossam o rol de inquietações.
Nem todos têm possibilidade de proceder ao carregamento da bateria no descanso do lar. Quem reside em condomínios, ou não tem garagem onde aparcar a viatura, luta com outro nível de situações. E, estas terão de estar resolvidas antes da aquisição da viatura.
Carros elétricos caros: alguns fatores decisivos
À parte toda a logística que deve ser equacionada uma pergunta ainda persiste na cabeça dos potenciais compradores: porque é que são os carros elétricos tão caros?
Existem várias razões para que os preços ainda sejam elevados, se bem que algumas marcas, como a Citroën, propõem-se produzir automóveis elétricos com preços abaixo dos 20 mil euros.
Mesmo assim, ousamos dizer, embora o preço seja mais simpático, que não está ao alcance de grande parte dos consumidores.
Vejamos então, alguns dos fatores que influenciam o preço dos veículos elétricos:
- Baterias: a maior parte do custo de um carro elétrico vem das baterias. Estas são caras de produzir e representam uma grande parte do custo total do veículo;
- Motor elétrico: o motor de um carro elétrico pode custar até 40% do valor total do veículo;
- Custos de produção: a produção de um carro elétrico é mais cara do que a de um carro a combustão. Por exemplo, a produção de um carro elétrico compacto do segmento C pode custar cerca de 20.200€, enquanto a de um carro a combustão do mesmo segmento pode custar cerca de 13.900€;
- Escassez de materiais: a escassez de matérias-primas como o lítio, que é essencial para a produção de baterias, também contribui para o superior custo dos carros elétricos;
- Procura e oferta: a procura por carros elétricos é alta, mas ainda assim os construtores têm pouca motivação para vender modelos mais baratos. No entanto, a expetativa é que o custo dos carros elétricos diminua à medida que a tecnologia é aperfeiçoada e amplamente utilizada.
Exemplo: quanto custa a produção de uma bateria
A bateria que guarda a energia necessária à fazer mover o motor e todos os restantes componentes elétricos é a ‘peça’ com maior custo de produção representando assim, uma parte significativa do custo total do veículo.
Atualmente, o custo de uma bateria de um carro elétrico representa mais de 30% do valor total do veículo. A razão para isso é o elevado preço de alguns elementos necessários para a construção da mesma, como sejam o lítio, níquel, cobalto e magnésio.
As despesas associadas à extração destes elementos representam mais da metade do custo de toda a bateria.
No entanto, os custos estão a diminuir de uma forma mais rápida do que era inicialmente esperado. Isto sugere que os carros elétricos poderão num futuro próximo atingir um preço mais acessível, passando o seu custo a nivelar pelo dos automóveis tradicionais.
Mas um estudo promovido recentemente (dado a conhecer em novembro de 2023), a pedido do diário económico Finantial Times, e realizado por uma empresa externa, a consultora Oliver Wyman, dá conta de uma realidade diferente.
As coisas ainda não estão tão afinadas como poderiam parecer em 2020. A consultora Oliver Wyman sustenta que mesmo que em 2030, ano em que o custo do kWh nas baterias deverá ter descido cerca de 15% face ao preço que se regista atualmente, os veículos elétricos serão cerca de 9% mais caros de produzir.
Em contrapartida os automóveis tradicionais (com motores térmicos) serão mais caros de produzir, cerca de 14.600 euros. O que representa um incremento de 5% face ao que custam atualmente.
O que se conclui é que o agravamento dos custos de produção de um veículo elétrico é imputado ao conjunto da cadeia cinemática, a que se soma o motor elétrico e o conjunto de baterias e que, segundo a consultora, serão de 6.700 euros.
Em contrapartida, nos veículos a combustão a produção do motor e de todos os componentes acessórios cifram-se em 5.200 euros, ou seja, menos 1.500 euros que num veículo elétrico.
O que pode levar à redução dos preços
Existem então vários fatores que podem contribuir para a redução dos custos de produção de carros elétricos. Vejamos alguns exemplos:
- Avanços tecnológicos: o progresso da tecnologia, especialmente das baterias, pode contribuir para diminuir significativamente o custo de produção dos componentes;
- Aumento da procura: com o aumento da procura por carros elétricos existe a possibilidade real dos custos de produção diminuírem devido à economia de escala;
- Redução do preço das baterias: a descida do preço das matérias-primas, o aumento da densidade energética e da capacidade de produção e o menor desperdício podem contribuir para a redução do preço das baterias;
- Utilização de plataformas próprias: a utilização de plataformas próprias, em vez de chassis adaptados, contribuirá para a descida do preço dos automóveis elétricos. Com chassis próprios, a montagem de automóveis é mais simples, fator que influenciará a redução dos custos de produção;
- Incentivo estatal: o incentivo do Estado para a aquisição de carros elétricos é fator de ajuda ao torná-los mais acessíveis.
Custos médios de produção na atualidade
A terminar fiquemos com uma panorâmica dos preços médios de produção dos carros elétricos, que variam muito consoante o segmento em que estão inseridos e que ajudam a explicar por que os carros elétricos são caros..
- Segmento C: neste segmento o preço médio de um carro elétrico na Europa, no primeiro semestre de 2022 foi de cerca de 55.821 euros. No entanto, este valor pode variar dependendo do modelo e do construtor.
- Segmento SUV: este é, sem dúvida, o segmento da moda. Todas as marcas querem uma fatia da quota de mercado dos SUV, sejam generalistas, familiares, com carácter desportivo ou de luxo. Os preços dos SUV elétricos têm uma variação muito grande: o Peugeot e-2008 tem preços a partir de 37 mil euros, enquanto o Ford Mustang Mach-E tem preços a partir de 50 mil euros. No entanto, existem modelos disponíveis por menos de 40.000€.
- Segmento Desportivo: neste segmento também se encontram grandes diferenças de preços. A título de exemplo o Ford Mustang Mach-E GT Extended Range é proposto por 83.933,43 euros; enquanto o Audi Q4 Sportback tem preço a partir de 53.179 euros.
O poder da tributação automóvel limita o futuro?
Se o incentivo fiscal do Estado (no caso de Portugal) à compra de automóvel elétrico é bem recebido pela generalidade dos potenciais compradores, a sua falta irá, por certo, influenciar negativamente a possível compra.
Isto porque o Estado, ao potenciar a compra de automóveis elétricos (e falamos apenas nas empresas pelo potencial que representam), perde a receita fiscal que recebe com a aquisição de automóveis movidos a combustíveis fósseis.
Neste sentido, o futuro da tributação dos carros elétricos poderá, em algum momento, sofrer mudanças, tal como o agravamento da tributação autónoma, em sede de IRC, dos carros elétricos adquiridos pelas empresas e redução progressiva de incentivos fiscais dirigidos às empresas para a compra de veículos elétricos
É certo que os incentivos dados aos particulares também são bem-vindos, mas à semelhança dos facultados às empresas também, em algum momento, serão alvo de análise e de ajuste.