Share the post "Castelo Rodrigo: a aldeia histórica que o mundo distinguiu"
Ali junto ao vale do Côa, nos contrafortes da Serra da Marofa, esconde-se Figueira de Castelo Rodrigo, um pequeno concelho do interior, mas que esconde um vasto património que é indispensável conhecer.
O foral desta terra remonta a 1209, ainda pela mão do então Rei de Leão, Afonso IX, caindo em mãos portuguesas no reinado de D. Dinis, através do Tratado de Alcanizes.
É este tratado que marca em definitivo as fronteiras do Reino de Portugal, as mais antigas da Europa, e Castelo Rodrigo é então uma das parcelas que fica sob administração lusa.
Se é verdade que quanto às fronteiras ainda temos a velha questão de Olivença, o certo é que a partir daqui que este pedaço de terra ganha relevância.
Diferentes reis, como D. Fernando ou D. Manuel I, empreendem melhoramentos na região, mas o correr dos séculos acabou por levar a uma progressiva decadência. Mas os vestígios de uma história secular estão lá e fazem de Castelo Rodrigo uma das melhores aldeias turísticas do mundo
Castelo Rodrigo: legado cultural e histórico
Na primeira edição da “Best Tourism Villages”, uma iniciativa da Organização Mundial de Turismo, Castelo Rodrigo destacou-se entre 170 candidatas de 75 países, reconhecendo o esforço que tem vindo a ser feito na preservação do legado cultural e histórico da aldeia e na promoção do turismo sustentável.
Mas o que tem de tão extraordinário esta aldeia, localizado no topo de uma colina, com cerca de uma centena de habitantes?
Desde logo, a antiga muralha que a rodeia e que é um testemunho das diferentes ocupações (árabe, cristã, leonesa, portuguesa) que Castelo Rodrigo foi registando ao longo dos tempos.
Esta cintura amuralhada era inicialmente composta por 13 torreões (como Ávila, em Espanha). Mas a aldeia é também um museu ao ar livre e com muito para ver. Aqui ficam algumas sugestões.
Castelo
Não há referências documentais ao castelo anteriores ao foral de 1209 de Afonso IX de Leão. No entanto, é provável a existência deste povoado, no século IX, na época de D. Flâmula Rodrigues, sobre um hipotético castro lusitano de fundação neolítica.
O recinto muralhado medieval apresenta panos de muralha do século XIII e seguintes. No interior das suas muralhas existe um “assento” escavado na rocha, que a população conhece por “Cadeira do Rei”. É monumento nacional desde 1922.
Igreja Matriz
A Igreja Matriz de Castelo Rodrigo, dedicada a Nossa Senhora do Rocamador, foi fundada no século XIII pela Confraria dos Frades de Nossa Senhora de Rocamador, uma congregação que se dedicava à assistência aos peregrinos compostelanos.
Trata-se de um exemplar de transição entre o românico e o gótico, mas foi sofrendo obras posteriores, nomeadamente nos séculos XVI e XVII, que alteraram a estrutura do templo.
No seu interior podemos admirar um teto de caixotões de madeira pintada com cenas hagiográficas, na capela-mor há azulejos do século XVIII, azuis e brancos, e no altar-mor azulejos hispano-árabes.
Palácio de Cristóvão de Moura
A dinastia filipina que subiu ao trono português em virtude da crise sucessória de 1580, desencadeada pela morte do rei Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir, teria impacto direto em Castelo Rodrigo.
Cristóvão de Moura, filho de um antigo alcaide da vila e figura-chave de sua diplomacia durante a crise, mandou construir em Castelo Rodrigo o seu palácio no preciso local onde se situava a alcáçova.
Com a Restauração da Independência portuguesa, o palácio, símbolo da opressão espanhola, foi incendiado pela população, encontrando-se atualmente em ruínas.
Judiaria Medieval
A antiga Judiaria medieval localizava-se intramuros, a ocidente da atual rua da Sinagoga. A comunidade hebraica tem o seu bairro apartado no tempo de D. Dinis, devendo ter tido direito a sinagoga, Mikvwéh e cemitério.
Com a expulsão dos judeus de Espanha, em 1492, esta comunidade cresce e instala-se um pouco por toda a vila de Castelo Rodrigo.
Pelourinho
Com a atribuição de foral a Castelo Rodrigo por D. Manuel I, é consolidado o seu poder concelhio bem como a sua autonomia jurídica e administrativa.
Testemunho desses tempos áureos, ergue-se o Pelourinho, assente sobre os cinco degraus que constituem o seu trono.
Santiago Mata Mouros
Santiago foi um dos quatro primeiros apóstolos que seguiram Jesus e o seu primeiro mártir, mandado degolar pelo rei Herodes. Os seus restos mortais foram levados para a região galega de Compostela, tendo aí nascido o maior centro de peregrinação da Europa cristã, Santiago de Compostela.
A imagem existente na igreja Matriz de Castelo Rodrigo representa um guerreiro a cavalo lutando com um mouro já dominado e debaixo das patas do cavalo, normalmente designado de Santiago “Matamouros”.
Como se pode ver, há muito que visitar numa escapadinha a Figueira de Castelo Rodrigo, aproveitando uma incursão nas fantásticas aldeias históricas de Portugal. São locais mágicos, onde lendas, castelos, tradições e saberes se misturam numa lição de história única. A não perder.