Share the post "Inteligência artificial: é o ChatGPT o tal admirável mundo novo?"
O ChatGPT é a nova coqueluche do mundo tecnológico e vais somando milhões de apaixonados e alguns detratores. Basicamente é um programa de inteligência artificial (mais conhecida pelas iniciais AI de Artificial Intelligence), ou seja, a capacidade de uma máquina reproduzir as competências da inteligência humana, nomeadamente a sua capacidade de raciocínio, aprendizagem e criatividade.
Isto quer dizer que um dispositivo eletrónico equipado com sistemas de AI (softwares e algoritmos) será capaz de funcionar numa lógica de raciocínio humano, podendo analisar, aprender e decidir sobre diferentes situações e/ou problemas.
Um dispositivo com AI recebe informação (ex: dados, imagens, sons), processa-os e responde de acordo com o que lhe é pedido, podendo mesmo adaptar o seu comportamento de acordo com os efeitos provocados pelas suas respostas anteriores.
O próprio dispositivo pode ser construído de forma a possuir sensores próprios (ex: câmara fotográfica) para registar novos dados de acordo com a programação definida para o fazer.
As tecnologias digitais de AI não são uma novidade deste século. Elas já estão a ser trabalhadas há mais de 50 anos, mas as evoluções dos últimos anos permitiram enormes progressos, nomeadamente na capacidade de processamento por parte destes sistemas de quantidades de dados cada vez maiores.
Um testemunho famoso desta evolução é o ChatGPT, um chatbot disponibilizado ao público em Novembro de 2022 pela OpenAI, uma empresa americana sem fins lucrativos que faz parte de um laboratório especializado em pesquisas na área da inteligência artificial.
Inteligência artificial: o que é o ChatGPT?
Um chatbot é um programa que procura replicar as respostas de um ser humano durante uma conversação entre pessoas.
Já se cruzou de certeza com alguns destes programas que rapidamente se tornaram famosos nos últimos anos como assistentes virtuais de apoio ao cliente, via conversa online ou telefónica.
O ChatGPT é por isso uma ferramenta que processa a linguagem natural humana e que foi programado para responder a perguntas sobre uma leque variado de temáticas.
Este chatbot é uma espécie de máquina de linguagem que se serve das estatísticas provenientes da aprendizagem, por reforço e supervisionada, para apresentar palavras, frases e comentários nas suas respostas.
Não sabe propriamente o que as palavras significam, mas sabe como são utilizadas e recorre a esse saber para as organizar e reproduzir nas suas respostas.
A novidade do ChatGPT, face aos outros chatbots de AI, é que este responde mais eficazmente e é capaz de resumir grandes quantidades de informação o que lhe permite ser utilizado para programar código, responder a perguntas de exames, escrever artigos, criar questionários automáticos sobre cursos específicos ou criar notícias.
Consegue até imitar estilos de escritas e pode melhorar a sua prestação à medida que recebe mais perguntas. Esta eficácia resulta do facto deste sistema ser treinado não só no acesso à Internet, mas também no acesso a bases de dados mais completas e melhor validadas.
O ChatGPT já vai na versão GPT-3.5 e o seu desempenho está a revelar-se tão impressionante que já foi apelidado de verdadeira “máquina de guerra da informação”.
Inteligência artificial: o lado negativo
Se por um lado os engenheiros e os empresários vêm o uso do ChatGPT como percursor de uma fronteira que deve ser ultrapassada em prol do aumento da produtividade e da criatividade que permitirá desenvolver novos horizontes e soluções para os atuais problemas, por outro lado surgem os cientistas sociais e jornalistas que apresentam preocupação crescentes e legítimas.
O que pode falhar no ChatGPT?
O ponto mais fraco destes sistemas de inteligência artificial está nas respostas incorretas que podem fornecer aos seus utilizadores.
Um chatbot que recorra à Internet tem acesso a uma gigantesca base de informação, mas todos sabemos, por experiência de pesquisa própria, quanta dessa informação pode ser incorreta e incompleta. Mesmo para um sistema que aprende com o uso, este risco será sempre real.
Outro aspeto importante é o facto de, mesmo não produzindo respostas incorretas, o ChatGPT poder replicar nessas repostas o potencial de viés dos seus algoritmos sobre questões económicas ou sociais (raça, género, pessoas e classes sociais ou países desfavorecidos pela desigualdade digital, etc.).
Sendo a Internet um caldo de conteúdos provenientes do marketing, da autopromoção, de notícias e de opinião, é necessário que os sistemas deste género de inteligência artificial dependam não só da qualidade dos dados e da informação a que recorrem para validar as suas respostas, mas também dos algoritmos que utilizam para verificar constantemente a confiabilidade da informação a que acedem de forma a não se tornarem tendenciosos ou agentes de desinformação.
Impacto no futuro do trabalho: o ponto de viragem
Este tipo de chatbots permite automatizar tarefas aborrecidas e demoradas (pesquisa de dados, escrever relatórios ou atas de reuniões, etc.) contribuindo para melhorar a produtividade dos trabalhadores mais qualificados ao libertá-los para tarefas mais criativas.
A sua máxima performance e eficácia está prevista acontecer em circuito fechado, face a um tema/técnica especifica.
Mas neste caminho evolutivo, há muitas profissões e postos de trabalho que vão mudar ou desaparecer, especialmente entre os menos qualificados, sem que haja tempo para encontrar um substituto no mundo laboral.
Só no que diz respeito ao exemplo do ChatGPT, analistas prevêem que, entre editores, jornalistas, analistas, agentes de atendimento ao cliente, engenheiros de controle e de qualidade, cerca de 8% será diretamente afetado.
São profissões que, mesmo que não desapareçam imediatamente, ou em definitivo, vão exigir grande adaptação por parte destes profissionais. Os requisitos passarão obrigatoriamente por abandonar progressivamente as tarefas mais automatizadas para se dedicarem às tarefas mais completares ou comprometidas com a inovação, mas estes ajustes levam normalmente mais tempo a concretizar-se do que a adoção das novas tecnologias.
Neste sentido, se quisermos ter o proveito dos ganhos económicos e evolutivos oferecidos pela inteligência artificial à humanidade, será necessário reduzir o seu impacto negativo sobre os trabalhadores e as estruturas sociais existentes.