Nos meus tempos de ignorância financeira, sempre pensei que para alguém ser um investidor essa pessoa tinha de ter muito dinheiro. Na minha ideia preconcebida, só os ricos é que podiam ter acesso ao mercado de ações, aos investimentos imobiliários e afins.
Sempre que investigava um pouco sobre quanto custava comprar uma ação, por exemplo, esbarrava nos preçários dos bancos em que só para ter acesso a esses mercados tinha de pagar uma anuidade muito alta, mais a custódia das ações e uma taxa de cada vez que comprava ou vendia uma ação.
Logo por essas contas simples, face aos valores que tinha disponíveis para investir, chegava à conclusão de que não me compensava. Nessas circunstâncias, tinha de comprar milhares de euros em ações e elas teriam de crescer bastante só para compensar os custos que teria. Não era para mim.
Só depois de muitos anos e após as reportagens que fui fazendo é que percebi que andava à procura dessas ferramentas nos locais errados.
Afinal havia bancos com comissões muito baixas para comprar fundos de investimento, por exemplo. E descobri que podia subscrever alguns desses fundos com apenas 20, 30, 50 ou 100 euros. E sem pagar comissões de manutenção de conta, de custódias e outro tipo de comissões.
Fiz muitas perguntas e obtive respostas que me surpreenderam. E decidi começar a investir uma pequena parte do meu dinheiro para ver o que acontecia. Nunca na minha vida tinha investido em produtos sem capital garantido.
A verdade é que nunca mais parei, desde então. Quero, nesta crónica, partilhar consigo as duas principais conclusões que tirei ao longo destes últimos anos.
Qualquer pessoa pode ser um investidor
Qualquer pessoa? Sim. Qualquer pessoa. Pode ser uma dona de casa, um jardineiro, varredor de ruas, enfermeiro, professor, engenheiro, médico ou professor universitário.
Basta ter alguma poupança disponível e estar disposto a arriscar ver flutuações no investimento que escolher. Se lhe faz confusão olhar para o seu saldo e ter lá menos do que lá colocou, obviamente isto não será para si.
Mas percebi que só dessa maneira arrisca também ganhar dinheiro. Já ganhei vários milhares de euros com pequenos investimentos. E também já perdi algumas centenas de euros. Apesar do risco, o meu único arrependimento é não ter começado mais cedo.
Começo sempre com 100 euros para perceber como as coisas funcionam e, se ganhar confiança, invisto mais. Sempre dinheiro que não me faça falta para outras coisas. O critério “sagrado” é esse.
E não precisa de muito dinheiro. A partir de 100 euros já consegue subscrever um fundo de investimento em bancos grátis como o Activobank, o Best, o BIG, ou o Openbank e outros. Investigue por si. Não estou a recomendar nenhum (tenho conta em todos estes que mencionei).
Este é o primeiro passo para começar. E pode tornar-se um investidor com poucos euros.
Note que investir não significa pôr o seu dinheiro em depósitos a prazo. Isso não é investir, é simplesmente acumular com um retorno miserável, mas garantido.
Um investidor arrisca colocar lá dinheiro sem saber o resultado. Pode correr bem, pode correr menos bem, ou pode correr mal. Acontece de tudo. Por isso é que não é para todos.
Para ver resultados tem de investir mais
A segunda lição é que, quando percebe como as coisas funcionam, tem de aumentar a sua escala. Ora, aí é que a coisa começa a não ser para todos.
Imagine que investe os tais 100 euros e por sorte ou talento esse investimento cresce 50% ou até duplica o valor. Extraordinário, não é? Sim. Mas…
Foi essa a segunda grande lição que aprendi. Se eu ganhar 50% com 100 euros, ganhei 50 euros do nada. Mas isso vai mudar a minha vida? Não.
Nem 100, nem 200 euros. É bom, mas muito provavelmente nem compensou o tempo que passou a pensar no assunto.
No princípio tive muito receio de colocar neste tipo de ferramentas mais dinheiro. Afinal de contas, ele custou-me a ganhar.
Mas percebi que, quando chegamos a um determinado patamar de conhecimento financeiro, temos de tomar uma decisão. Ou continuamos a pensar pequeno ou arriscamos um pouco mais.
O que quero partilhar consigo é que neste momento já estou a investir dinheiro que ganhei com os meus investimentos. Esse deve ser o seu objetivo, se decidir enveredar por estes caminhos financeiros. Pôr o dinheiro a trabalhar para si, para fazer dinheiro, que fará dinheiro para crescer ainda mais. É o contrário do ciclo da pobreza, em que a pobreza normalmente gera ainda mais pobreza (ou tende a mantê-la).
Sei que isto lhe poderá parecer um pouco a venda da “banha da cobra”. Eu próprio pensei assim muito tempo.
Neste caso, a diferença é que estou na posição privilegiada de lhe poder garantir que não estou a vender-lhe nenhum produto nem ganho nada com a decisão que tomar. Pretendo apenas transmitir-lhe literacia financeira.
Tem de compreender que não estou a propor-lhe riqueza fácil nem resultados milagrosos. Demorei vários anos até poder estar confortável com o que acabei de escrever. Podia ter perdido todo o dinheiro que investi até agora? Sim. Posso ainda perdê-lo? Sim.
Mas o que faria se isso acontecesse? Voltaria a recomeçar do zero. Nesse aspecto já não volto atrás. Jamais conseguiria voltar aos depósitos a prazo.
Depois, começamos também a aprender a guardar alguns dos ganhos que vamos tendo ao longo do tempo. A ganância é uma péssima conselheira. É importante saber qual é o seu objetivo na vida. Por exemplo, parte dos ganhos que vou tendo tiro-os para um PPR, que é menos volátil do que as ações por exemplo.
Em resumo, gostava que percebesse estas duas coisas simples. Não precisa ser rico para começar a investir. Qualquer pessoa pode começar a fazer dinheiro com o seu dinheiro. Invista no seu conhecimento. Comece do mais simples para o mais complicado. Comece com um fundo PPR, depois um ETF (pesquise no google o que são), ou com um fundo de investimento. E só algum tempo depois comece a pensar em ações e outros investimentos mais arriscados.
E quando perceber como estas ferramentas funcionam, avalie se deve começar a colocar mais dinheiro nesses investimentos.
Só dessa forma é que pode começar a ter mais dinheiro. E lembre-se sempre que isto é uma maratona. O importante é a regularidade e a consistência mais do que um grande valor investido uma vez.
Perceber estas duas coisas simples pode fazer uma grande diferença na sua vida financeira.