Dizer que a Google mudou o mundo não é exagero. Quando os estudantes Larry Page e Sergey Brin se conheceram, em 1996, na universidade americana de Stanford, estavam longe de pensar que o seu projeto de pesquisa para o doutoramento iria resultar, passados alguns anos, numa empresa capaz de dizer às pessoas em todo o mundo como devem procurar e criar a sua informação, como podem organizar a sua vida e como podem comunicar entre si.
A Google ditou e continua a ditar tendências para o mundo privado e público, influenciando o funcionamento de empresas e a vivência dos indivíduos, alterando padrões de negócio e de comportamento.
Se por um lado temos uma empresa que impulsionou positivamente o mundo para a era digital do século XXI, por outro lado temos uma empresa responsável por vulgarizar diversos comportamentos e práticas profissionais pouco éticos, que ainda hoje a fazem enfrentar processos de milhares de euros em coimas.
Falamos da forma como a empresa quase detém um monopólio mundial de criação, divulgação e acesso à informação, e da forma como recolhe, trata e vende os dados dos seus utilizadores. Sejam quais forem as consequências que as práticas da Google vão ter para a humanidade digital, as mudanças estão à vista e vale a pena retê-las.
Como a Google mudou o mundo
Onde vamos buscar informação?
Bibliotecas, livros, professores, especialistas…? Não. Vamos ao Google. E vamos tantas vezes ao Google que “googlar” – que quer dizer pesquisar informação online – já pode ser considerado um novo verbo.
O motor de pesquisa Google está omnipresente sempre que precisamos de procurar informação e é o mais utilizado em todo o mundo. Ele indexa grande parte da informação que existe publicada na Internet, disponibilizando-a facilmente ao utilizador.
Mas este acesso rápido à informação pode ser perigoso. A questão está no algoritmo que a Google usa para responder às pesquisas feitas pelos utilizadores. Em causa não está apenas dar uma resposta às palavras pesquisadas, como vários dos motores de busca inicialmente faziam, mas mostrar também os sites relacionados com essas palavras que mais vezes são citados por outros sites.
Para muitos, este algoritmo mostra resultados mais eficientes e que melhoram à medida que o motor conhece mais do perfil de cada utilizador, mas para outros esta “biblioteca mundial” já se tornou uma biblioteca de tendências, que pode fechar os utilizadores dentro de um círculo de conteúdo que pode ser mais popular do que pertinente, relevante ou mesmo fidedigno.
Como ganhar milhões com publicidade online?
A Google ensinou. Em 2000, numa altura em que as empresas ainda não sabiam muito bem como quantificar os resultados da divulgação de anúncios na Internet, o lançamento do serviço AdWords, hoje com o nome de Google Ads, ditou muitas das regras atuais.
Tornou-se a principal fonte de receitas da empresa e lançou diretivas para o modelo de negócio que tem por base a publicidade direcionada na Internet. Apoiado num sistema de pagamento CPC (Custo Por Clique), o AdWords passou a ser umas das principais formas que as empresas e marcas adotaram para chegar aos seus clientes.
Ao recolher uma maior quantidade e melhor qualidade de dados junto dos seus utilizadores, a Google aperfeiçoou a sua ferramenta e sofisticou o algoritmo que faz chegar os anúncios ao perfil de utilizador alvo, suplantando as garantias que qualquer meio tradicional pode dar ao anunciante. Isto mudou a forma de fazer e criar publicidade globalmente e tornou os dados sobre utilizadores da Internet um verdadeiro “tesouro” para economia atual.
Como chegar ao meu destino?
A Google explica. Passo a passo, e até o deixa ver como é fisicamente o lugar para onde pretende ir. O Google Earth e o Google Maps revolucionaram o mundo da orientação ao dar corpo a uma projeto megalómano que nos promete visualizar as ruas e as paisagens de todo o mundo através de um dispositivo eletrónico.
Estes serviços e produtos estão em permanente construção e atualização e foram lançados, respetivamente, em 2004 e 2005, tornando acessíveis os mapas via GPS que até então eram de utilização pouco comum fora das organizações militares e de serviços secretos de informação.
A Google – mesmo não tendo desenvolvido de raiz nenhum dos dois produtos, pois ambos foram fruto de aquisições a outras companhias que os desenvolveram – soube avaliar e antecipar a sua pertinência para o mercado e já antecipa o futuro com a visualização de locais e ruas em 3D, realidade virtual, e com produtos inovadores como o Google Mars (Marte) e o Google Moon (Lua).
É possível trabalhar de forma partilhada e em tempo real?
Com o Google Drive, sim. O trabalho partilhado e atualizado em tempo real tornou-se uma das ferramentas profissionais mais apreciadas da Google e veio tornar mais eficiente qualquer trabalho em equipa, quer seja em contexto profissional quer seja em contexto de sala de aula.
Por exemplo, folhas de cálculo e documentos de texto podem ser acedidos e alterados por vários utilizadores autorizados, e todos podem ver o que está a ser feito. O trabalho online ou offline é possível e tudo é sincronizado para comodidade do utilizador. Quem se habitua à eficiência e à redução nos tempos de comunicação, dificilmente volta aos métodos de trabalho anteriores.
Posso ver e ouvir tudo o que quiser, onde e quando quiser?
Sim, se tiver ligação à Internet. Desde 2005 que a Google está a tornar este desejo uma realidade. A compra do YouTube, apenas 18 meses depois de ter sido criado, foi uma jogada de mestre da empresa norte-americana, que antecipou o interesse que os utilizadores teriam na partilha de vídeos.
Atualmente, a cada minuto, é feito o upload de cerca de 100 horas de vídeo para a plataforma, a palavra “YouTubers” entrou no nosso vocabulário e a indústria de entretenimento nunca mais voltou a ser o que era. Alguns ramos do negócio tiveram mesmo que mudar radicalmente para se adaptarem às novas circunstâncias, como aconteceu com a música e o cinema.
Como ler sites noutras línguas?
Com o Google Tradutor. Os dicionários ficaram fora de moda. Lançado em 2006, o serviço tem vindo a ser aperfeiçoado através de sistemas de machine learning e inteligência artificial, que permitem ao produto aprender com os erros.
Atualmente, os conteúdos já podem ser traduzidos em mais de 100 idiomas diferentes e, com o passar dos anos, as traduções estão a ficar cada vez mais perfeitas. A Google continua a apostar neste que é dos seus serviços mais populares, criando novas formas de deteção de palavras, como a utilização da câmara fotográfica ou do microfone de som do seu smartphone, para accionar traduções em tempo real.
Qual é o sistema operativo móvel mais famoso?
O Android. Em termos de sistema operativo, a Google está para os telemóveis como a Microsoft esteve para os computadores. Windows e Android revolucionaram o mercado digital, criando uma maior e mais diversificada oferta de dispositivos.
O acesso livre ao sistema operativo móvel da Google tornou-o famoso entre os fabricantes que passaram a apostar e a investir mais no fabrico e na inovação de equipamentos móveis, acabando por destronar a Apple e a Nokia, as marcas que mais telemóveis vendiam no mercado.
E para o futuro?
A Google não parece ter intenções de parar e tem orçamento para que assim seja. Este gigante económico não se importa que alguns dos seus projetos sejam menos bem sucedidos, como foi o caso dos Google Glass, e continua a investir nas novidades que lhe parecem ser uma boa oportunidade de negócio e uma forma de criar novos padrões de comércio e de comportamento humano.
Encontram-se neste grupo os Self-Driving Cars, carros que circulam sem necessidade de condução ativa e que são controlados apenas por computadores. Falando em mudar o mundo…
Veja também: