O alojamento local veio claramente mudar muita coisa no panorama nacional. Lisboa viu uma enchente de turismo e com isso novos hábitos se formaram. Bairros históricos da capital era habitados por alguns idosos, hoje são quase “hubs” de jovens de todo o mundo, que se reunem e convivem até altas horas da madrugada.
Em teoria, nada de mal com isso.
E as coisas até continuam a fazer sentido quando muitos senhorios, onde antes não viam valor e não queriam melhorar as suas habitações para os inquilinos porque “as rendas não compensavam o investimento” (o que é verdade, o problema do congelamento das rendas foi bem real, mas falo-lhe disso noutro artigo), hoje reabilitam essas mesmas casas para colocar em alojamento local. Aos tais jovens de todo o mundo que convivem até de madrugada, em parte.
Mas até aqui, tudo bem. Aliás… tudo óptimo (é claro que este “tudo óptimo” vem com uma ressalva de bolha imobiliária, mas deixo esse assunto para um próximo artigo). Eu defendo a iniciativa privada e se o país e os investidores de pequena escala podem tirar partido do turismo, não há quem mais esteja a favor do que eu.
Tudo pelo desenvolvimento do sector, aumento do PIB nacional, solidificação da economia portuguesa, que nos favorece a todos.
O problema é quando vemos o lado negro do capitalismo a vir acima. É que neste processo, foram despejadas várias pessoas. Pessoas que viviam nessas casas há mais de 50 anos. Ou pelo menos tentou-se com muitas, e fez-se com algumas.
Ao mesmo tempo que faço uma crítica aqueles que, por razões meramente económicas, despejaram os seus inquilinos de dezenas de anos, queria mostrar-lhe outra coisa com este artigo.
É investidor imobiliário? Então deixe-me contar-lhe um segredo…
A melhor forma de ter sucesso no investimento imobiliário para arrendamento (buy and hold) é precisamente colocar os seus inquilinos à frente. Se olhar para o investimento imobiliário como um negócio, os seus inquilinos são os seus clientes…
E ambos sabemos que os clientes têm sempre razão! (Aos empresários que estejam na dúvida, deixe-me sublinhar sempre).
A minha história como investidor é precisamente o melhor exemplo do que significa colocar os inquilinos primeiro, algo que rapidamente percebi ser chave para o sucesso…
É que quando comecei a investir em imóveis físicos para arrendar, na realidade tinha comprado uma casa para eu habitar, e remodelei-a com isso em mente: habitar nela. E em pouco tempo, havia adquirido outro imóvel, esse com expectativas de arrendar, até porque “teria menos conforto” que o primeiro imóvel que comprei.
Mas houve um dia em que se deu “o click”. Percebi que seria melhor arrendar o imóvel melhor, e habitar eu o imóvel mais barato. E desde então, há vários anos, que coloco os meus inquilinos primeiro.
Esta minha história serve para fazer um ponto muito concreto:
Expressões (bem portuguesas) como “não vou usar materiais caros, é uma casa para arrendar”, “não compensa fazer obras”, “não é para mim, é para inquilinos” não fazem seguramente parte do léxico de um investidor imobiliário de sucesso a longo termo…
Aquilo que lhe pode dar um retorno financeiro momentâneo vai fazer com que a longo termo tenha inquilinos menos satisfeitos, tenha muito mais rotatividade nos seus imóveis (e a rotatividade implica mais desgaste, a várias escalas) e inevitavelmente menos inquilinos e mais vagas nos seus imóveis.
E tudo isto alimenta a ideia das pessoas de que arrendar é inseguro, o melhor é comprar casa, o que tem várias implicações no sector e na economia como um todo.
É preciso, na minha opinião, haver um “shift” de mentalidade no que diz respeito ao investimento imobiliário. Para que não haja senhorios a despejar inquilinos há mais de 40 anos nas suas casas, para que não haja tratamento de inquilinos como cidadãos de segundo grau, e para que não haja um sector desvirtuado, onde em vez de se tentar prestar o melhor serviço possível, se tenta obter o maior lucro.