O salário mínimo vai aumentar cerca de 60 euros, os privados (alguns) vão ter aumentos de 5% e mesmo que não os tenham o governo vai baixar o IRS, o que levará a um aumento do salário líquido (entre 18 e 75 euros por mês), e as pensões vão ser (muito) aumentadas.
Ora, tudo isto parecem ser boas notícias (e são), mesmo que para muitos ainda não seja o suficiente para suprir as despesas do dia-a-dia.
Nesta crónica, quero ser um pouco o “mau da fita” porque vou dizer-lhe aquilo que não quer ouvir. Se está em dificuldades ou pensa vir a estar, vou apresentar-lhe o que eu faria se estivesse nessa situação. Se já se adaptou às novas despesas do crédito à habitação e ao aumento da inflação, tome nota de quanto está a ganhar agora e faça a conta à diferença em relação ao que vai ganhar líquido a partir de janeiro.
O que vai fazer com o dinheiro? As minhas sugestões
Se tem dívidas, aproveite essa margem de 50, 60 euros ou mais para amortizar todos os meses os seus créditos. Dê cabo deles como se não houvesse amanhã.
Depois, crie – sem pensar muito – uma ordem automática de transferência desse valor para uma conta à parte e comece a criar ou a reforçar o seu fundo de emergência até ter o valor de 1 ano de todas as suas despesas fixas. Esse é o seu primeiro objetivo se quiser começar a criar riqueza com o seu salário.
Simplesmente, faça de conta que continua a ganhar o mesmo. Viva um degrau abaixo daquilo que pode, para dar passos seguros que vão acabar com a sua ansiedade financeira.
Se já tem o seu fundo de emergência completo e já não tem nenhum crédito (mesmo o automóvel) comece e reforce mensalmente um bom fundo PPR. Não imagina o quanto isso pode mudar a sua vida financeira. Pense nisto.
Gastar mais não é viver melhor
A outra opção é gastar o que vai ser aumentado, no que lhe apetecer. Aliás, essa é geralmente a reposta cultural e emocionalmente mais satisfatória da maior parte dos portugueses. O que acontece sempre que uma pessoa é aumentada é passar a – sem qualquer má intenção – gastar mais.
Note que escrevi “gastar mais” e não “viver melhor”. A experiência diz-me que normalmente quando passamos a ganhar mais (sejam aumentos, mudanças de emprego ou rendimentos extra), passamos a gastar mais dinheiro, mas nas mesmas coisas. Se temos um telemóvel, substituímos por um melhor, se temos um carro, substituímos por um mais novo, mais potente ou com mais extras. Se temos uma casa, mudamos para uma com mais uma assoalhada, melhor localizada ou mais luxuosa.
Ora, como todas essas coisas são – pela sua natureza – fonte de maiores gastos e não de maiores receitas, isso só quer dizer que a médio prazo estará numa situação financeira pior do que antes. Só para perceber o que quero dizer, dou-lhe o exemplo do carro. Como ganha mais, comprou um carro melhor. Esse carro não só gera um crédito maior, como consome mais, tem um seguro mais caro e um IUC e manutenção mais caros. Está a ver o filme?
A decisão mais inteligente (e dura) é continuar a viver a mesma vida que tem agora, mas com um rendimento maior. Aumenta a sua rede de segurança e terá um futuro mais risonho financeiramente. É o eterno dilema entre viver “melhor” agora ou viver melhor com a sua família no futuro, sem a garantia de que estará vivo quando esse futuro chegar.
Ninguém tem nada a ver com a forma como usa o seu dinheiro (eu, muito menos). Mas como tenho um lado nórdico e “racional” gosto de chamar a atenção para o lado que quase ninguém vê nestas alturas.
Se decidir não fazer nada e simplesmente gastar os seus aumentos e poupanças de 2024 sem nenhum critério específico, faz igualmente muito bem, porque o dinheiro é seu! São decisões…