Atualmente verifica-se em Portugal aquilo que se poderia classificar de um fenómeno improvável, pelo menos, à primeira vista. O crescimento económico no nosso país está claramente a abrandar, o que normalmente se traduz ou se faz acompanhar por um aumento da taxa de desemprego.
No entanto, desta vez, tal não se verifica. Vamos então analisar os dados disponíveis para tentar perceber o que poderá estar por detrás deste fenómeno e qual a relação entre a conjuntura atual e menos desemprego.
Não é normal a conjuntura atual e menos desemprego andarem de mãos dadas
Acabados de ser divulgados, os indicadores mensais do Instituto de Nacional de Estatística (INE), mostram inequivocamente que estamos perante uma nova descida da taxa de desemprego para 5,9%.
Passamos a explicar: no mês de Julho que passou o número de desempregados era de 306,2 mil, o demonstra que houve de facto uma diminuição progressiva do desemprego nos últimos tempos.
O impacto da guerra na Ucrânia na conjuntura atual e menos desemprego
Ora, isto tendo em conta todos os aspetos negativos que a guerra na Ucrânia tem trazido para a economia europeia, não deixa de ser um caso para ser estudado.
Já está comprovado que a escalada do conflito entre a Rússia e a Ucrânia teve efeitos nefastos para a nossa economia, desde impedir o crescimento do PIB, provocar o aumento galopante dos custos de energia, espoletar uma escalada da inflação, ou provocar subida dos juros.
No entanto, os níveis de empregabilidade durante o último trimestre mantiveram-se mesmo acima dos valores pré-pandemia.
Os especialistas apontam questões relacionadas com a demografia ou as medidas de apoio ao emprego que estiveram em vigor durante a pandemia, e todos esses fatores apontam num sentido – o de que esta conjuntura atual e menos desemprego pode estar por um fio.
Ou seja, o cenário de nos próximos meses os níveis de desemprego voltarem a escalar é muito provável.
Conjuntura atual e menos desemprego até quando? Os sinais de alarme
A Organização Mundial do Comércio já fez saber que prevê que os efeitos da guerra na Ucrânia se façam sentir particularmente nos países com a economia mais frágil, devido à diminuição da oferta e do aumento generalizado dos preços dos alimentos.
Mas não só: a guerra também ameaça o fornecimento de bens essenciais que provêm da Rússia e da Ucrânia, com particular destaque para a energia e os fertilizantes.
A Rússia é o terceiro país maior produtor mundial de petróleo, o segundo de gás natural e encontra-se entre os cinco maiores produtores de aço, níquel e alumínio. É ainda o maior exportador de trigo do mundo , com quase 20% do comércio global.
Já a Ucrânia é um país grande produtor de cereais, com milho, trigo, e girassol à cabeça, e está entre os dez maiores produtores de beterraba, cevada, ou soja.
Os fatores que justificam a relação entre a conjuntura atual e menos desemprego
A influência da pandemia na conjuntura atual e menos desemprego
O emprego ficou cristalizado durante a altura da pandemia, e desde 2013 que novos empregos como os do setor do turismo tiveram um crescimento maior do que o efeito que tiveram no crescimento da economia, concretamente no aumento do PIB.
Vejamos o caso do layoff, uma medida que teve como objetivo permitir às empresas preservar postos de trabalho que quase de certeza iriam ser extintos. No entanto, o layoff congelou o mercado de trabalho, colocando um travão na realocação de trabalhadores e a mobilidade entre empregos.
O alargamento da escolaridade obrigatória impactou na conjuntura atual e menos desemprego
O alargamento da escolaridade obrigatória para o 12º ano ou o aumento das vagas no ensino superior traduziram-se numa maior permanência dos jovens no sistema de ensino, o que significou um menor número de novas entradas anuais no mercado de trabalho.
A diminuição da natalidade nas últimas décadas
Tal como no ponto anterior, este fator provocou um menor número de novas entradas anuais no mercado de trabalho.
Segundo especialistas, uma das conclusões que se pode tirar destes dados é que a recuperação do desemprego gerado nos anos da crise financeira foi obtida recorrendo à bolsa de desempregados, que, entretanto, foi diminuindo sem que se registassem novas entradas no mercado de trabalho.
A retoma de setores como o turismo
O turismo foi um setor tão sacudido negativamente com a pandemia, que o que veio a seguir foi um cenário de quase explosão. Neste momento, o turismo ultrapassa os valores registados antes da pandemia, em 2019. E trata-se de um setor de atividade que em pouco ou nada sofre com os efeitos da guerra, pelo menos para já.
Inegável parece ser o facto de que a duração ou o prolongamento da guerra poderá ter um impacto decisivo no ponto final na relação entre conjuntura atual e menos desemprego.
Embora o aumento generalizado de preços dos bens e mercadorias tenha sido um dos riscos já identificados como potencialmente perturbadores para a recuperação económica, a escalada do conflito aumenta a probabilidade de que os preços permaneçam altos por muito mais tempo.
Isto levará a inflação mais alta e durante mais tempo.