Share the post "Compensa mais a consolidação de créditos ou negociar dívidas?"
Quando as contas começam a apertar e o orçamento familiar deixa de ter capacidade para lhes dar resposta, há dois caminhos possíveis a seguir: pedir a consolidação de créditos ou negociar as dívidas com os bancos. Mas qual destas opções é a melhor para si?
Como sempre acontece nas questões financeiras, a melhor escolha vai depender do seu contexto específico. Assim, e em vez de procurar uma resposta rápida, o ideal é entender a que detalhes deve estar atento e que variáveis deve considerar na hora de escolher uma das opções.
O seu primeiro passo deve ser sempre analisar o seu orçamento mensal. O objetivo é calcular a sua taxa de esforço. Complicado? Não. Nós explicamos.
Comece por analisar a sua situação financeira
Comece por somar todos os rendimentos mensais. De seguida some todas as suas prestações mensais com os créditos que tem atualmente, incluindo o cartão de crédito. Depois divida este valor pela soma dos seus rendimentos. Pronto, já tem a sua taxa de esforço, ou seja, a parte dos seus rendimentos mensais que gasta nos seus compromissos financeiros.
Para se poder dizer que está numa situação financeira confortável este valor deve ser inferior a 30%. Só assim terá orçamento disponível que lhe permita chegar ao final do mês tranquilamente.
Se o valor que obteve for superior a 30%, então chegou a altura de consolidar ou renegociar os seus créditos. Mas para tal terá de saber o que distingue as duas soluções para poder decidir qual das duas melhor se adapta ao seu caso concreto.
Consolidação de créditos ou negociar dívidas: qual a diferença
Apesar de responderem à mesma necessidade, a consolidação de créditos e a negociação de dívidas não são bem a mesma coisa. Mas ambas têm como objetivo reduzir as suas prestações mensais e com isso reduzir a sua taxa de esforço.
De um lado, a consolidação de créditos é a junção de todos os empréstimos num só. Do outro, a negociação de dívidas é o acordo com o banco de um novo prazo de liquidação do crédito, uma nova taxa de juro ou um novo spread.
A consolidação de créditos explicada
Do ponto de vista formal, a consolidação de créditos é um novo empréstimo em seu nome. Se tiver vários créditos para pagar, há uma instituição bancária que lhe empresta dinheiro para liquidá-los todos de uma vez, fazendo-lhe um crédito único no valor total da sua dívida.
Com a consolidação de créditos, fica apenas com um empréstimo para pagar. Ou seja fica com uma única prestação mensal mais baixa do que o somatório das anteriores, uma única taxa de juro e uma única preocupação.
Vantagens da consolidação de créditos
A maior vantagem da consolidação de créditos é que deixa de ter pequenas prestações mensais e passa a ter uma única conta para pagar. Fica também mais fácil lidar com o banco, porque passa a ser só um e tudo o que tiver para negociar será com essa mesma entidade.
Outra vantagem da consolidação de créditos é que fica mais fácil fazer o cálculo da sua taxa de esforço, porque deixam de existir variáveis como diferentes prazos de pagamento ou diferentes evoluções dos juros. Passa a estar tudo no mesmo número, dentro do mesmo prazo.
Esta agregação pode, inclusivamente, representar uma poupança nos seus encargos, tendo em conta que é frequente a consolidação de créditos ter taxas de juro mais vantajosas do que as outras operações de crédito que o mercado oferece.
Se a consolidação for feita com recurso a um crédito pessoal poderá poupar, mas não tanto como se optar por uma consolidação com hipoteca. Neste caso o crédito tem como garantia um imóvel (habitação própria ou secundária). E por isso terá uma taxa de juro e prazo de pagamento idênticos aos do crédito habitação, o que permite uma redução substancial na prestação.
Desvantagens da consolidação de créditos
Apesar de parecer promissora, a consolidação de créditos também tem os seus contras. Um deles é o facto de não deixar de ser um crédito e, como tal, obedecer aos critérios de avaliação normais dos empréstimos. Quer isto dizer que, se estiver numa situação de esforço financeiro excessivo, a consolidação de créditos pode ser-lhe recusada. Isto porque o banco pode entender que, mesmo juntando tudo num crédito, não vai conseguir pagar as prestações.
Também não pode ter qualquer prestação em atraso, ou seja, não pode estar em incumprimento para poder consolidar os seus créditos. Como tal não pode consolidar créditos se o seu nome estiver na “lista negra” do Banco de Portugal. Assim, se for o seu caso terá de primeiro regularizar as suas dívidas.
A negociação de dívidas explicada
A negociação de dívidas não é mais do que um novo acordo com o banco onde detém um crédito em aberto. É uma conversa franca com um colaborador que vai ajudá-lo a refazer as contas e alargar o prazo de pagamento do crédito, baixando as prestações mensais para um valor que lhe seja mais confortável.
No fundo, a negociação de dívidas mantém os seus créditos, mas poderá alargar os prazos, introduzir períodos de carência, reduzir o spread no caso de empréstimos a taxa variável ou alterar o plano de pagamento, tudo tendo como objetivo baixar as prestações mensais.
Vantagens de negociar dívidas
A grande vantagem de abdicar da consolidação de créditos para negociar dívidas com os bancos é a individualidade de cada empréstimo. Quando negoceia uma dívida com um banco, não entram na equação os outros créditos que tem em seu nome: só se fala daquele empréstimo específico, da respetiva data e das respetivas prestações. Isto permite-lhe manter os créditos mais vantajosos intactos, evitando perder as taxas de juro mais favoráveis que tem.
Outra vantagem de negociar dívidas é que os seus encargos mensais vão diminuindo à medida que os créditos vão terminando.
Desvantagens de negociar dívidas
A maior desvantagem da negociação de dívidas é o trabalho que ela dá, sobretudo quando estão em causa empréstimos em vários bancos diferentes. Vai ter de bater à porta de todos eles e negociar os seus créditos um a um, conseguindo pequenas vitórias que podem ser melhores numa instituição do que na outra.
Também fica sujeito à disponibilidade de cada instituição bancária para negociar. Ainda que legalmente os bancos sejam obrigados a aceitar negociar com os clientes que entrem em incumprimento com os créditos, a verdade é que não há qualquer lei que os obrigue a negociar com clientes que ainda tenham as contas todas em dia. Por isso há sempre a possibilidade de ouvir um redondo “não”.
Como escolher entre a consolidação de créditos ou negociar dívidas?
Dependendo do seu caso, pode ser mais vantajoso optar pela consolidação de créditos ou negociar dívidas com os bancos individualmente. Assim, antes de decidir deve analisar alguns fatores da sua situação financeira:
Os prazos dos empréstimos
Se tiver muitos empréstimos próximos de estarem totalmente pagos, a consolidação de créditos não é uma solução. É certo que pode escolher os créditos que quer consolidar, mas porventura a redução da prestação não é a que esperava.
Por outro lado, se os juntar na consolidação , ao misturá-los com os mais longos e irá pagar tudo durante muito tempo.
Há também que considerar que, se os créditos estão perto do fim, significa que já pagou quase todos os juros que lhes diziam respeito. Consolidá-los agora significaria somá-los ao valor total da dívida e, consequentemente, fazer subir o valor dos novos juros. Contas feitas, vai pagar duas vezes os juros desse valor.
Mais vale negociar as dívidas maiores com o banco e aguentar o esforço até que estes pequenos créditos terminem, porque depois estas prestações desaparecem e a sua taxa de esforço baixa.
As taxas de juro
Nem todos os créditos têm a mesma taxa de juro, e é provável que, no seu caso, existam empréstimos que até têm taxas interessantes. Se isso acontecer, a negociação é o caminho.
Lembre-se que a consolidação de créditos vai atribuir-lhe uma taxa de juro única que, em consequência de o risco assumido pelo banco ser maior, vai ser certamente mais alta do que a taxa original de alguns créditos.
Faça as contas: se a taxa de juro da consolidação for mais alta do que a taxa de juro normal da maioria dos seus créditos (ou se conseguir, pela via da negociação, taxas de juro mais baixas do que as da consolidação), então a consolidação de créditos não compensa.
O incumprimento
Quando já entrou em incumprimento com um ou mais créditos, ou seja, quando já tem prestações em atraso, é importante considerar o impacto que esta situação tem na sua reputação financeira. Lembre-se que os créditos em atraso são comunicados pelas instituições credoras ao Banco de Portugal, que coloca o seu nome na “lista negra” de devedores.
Mesmo que procure o banco para renegociar um crédito que está em atraso, o seu nome não sai da “lista negra” do Banco de Portugal, passa apenas de crédito em atraso para “renegociado”.
Assim, se estiver nesta situação talvez seja melhor optar pela consolidação de créditos. Negoceie com o seu banco, irá liquidar todas as dívidas pendentes e mantém o seu nome “limpo” nos registos da autoridade bancária, evitando que lhe seja bloqueado o acesso ao crédito no futuro.
Últimos cuidados a ter
Se já analisou o seu caso e tomou uma decisão, deixamos-lhe uma última dica: não se deixe levar por qualquer instituição de crédito. Sobretudo quando vai optar pela consolidação de créditos, tenha sempre o cuidado de fazer negócio com instituições bancárias devidamente registadas e reguladas pelo Banco de Portugal. Desta forma não cai na armadilha de se ver envolvido com instituições de crédito sem escrúpulos que depois adotam medidas de cobrança menos éticas.