A pandemia da COVID-19 não dá sinais de abrandar e, por todo o mundo, surgem todos os dias novas dúvidas sobre o que devemos ou não fazer para nos protegermos. Uma das dúvidas mais frequentes continua a ser sobre o potencial das superfícies para transmitirem o novo coronavírus: quais são os cuidados a ter quando vai ao supermercado?
Com os cientistas ainda à procura de mais e melhor informação sobre o novo coronavírus, as respostas vão sendo atualizadas. Assim sendo, reunimos as respostas de vários especialistas.
Cuidados a ter quando vai ao supermercado
Há vários “sim” e “não” numa ida ao supermercado durante a pandemia de COVID-19 – e compreende-os melhor se entender, primeiro, como é que o vírus se comporta e que papel desempenham as superfícies contaminadas.
Para já, e como ponto de partida, ficam os cuidados a ter no momento em que entra nas lojas.
Use máscara
A explicação já foi repetida até à exaustão: o novo coronavírus transmite-se por via respiratória, o que significa que quem está infetado expele gotículas contaminadas sempre que fala, tosse ou espirra. Estas gotículas ficam suspensas no ar e podem entrar nos olhos, nariz e boca das pessoas em redor, deixando-as doentes.
A máscara é uma proteção bilateral: usada por quem está infetado, impede a propagação das gotículas em redor; usada por quem está à volta, impede que as gotículas entrem nas vias respiratórias.
Desinfete as mãos
Desinfetar as mãos à chegada é uma forma de proteger os outros clientes. Se as suas mãos estiverem limpas, não vai deixar vírus nem bactérias em tudo o que tocar. Se todos os consumidores desinfetarem as mãos à entrada, objetos e superfícies mantêm-se mais seguros.
A questão das superfícies
Começamos pela raíz da dúvida: um estudo publicado em outubro de 2020 por uma equipa de investigadores australianos demonstrava que o SARS-CoV-2 pode ser detetado em algumas superfícies – como o vidro e o aço inoxidável – até 28 dias depois de lá ter sido depositado.
Esta descoberta prova que é possível, sim, haver superfícies contaminadas. Mas que impacto têm elas na propagação do contágio?
De acordo com David Morens, conselheiro do diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, muito pouca. O especialista explica que, se é verdade que o vírus se mantém nas superfícies durante quase um mês, não deixa de ser também verdade que ele vai perdendo força, afetado pelas condições ambientais (luz, calor e fluxos de ar).
A exceção pode ser o transporte de alimentos, geralmente feito a temperaturas muito baixas que ajudam o vírus a sobreviver. Mas mesmo nesses casos o consumidor final estará fora de perigo, já que a temperatura do transporte não é a mesma a que o produto é exposto e vendido, como explica Julian Tang, professor associado de Ciências Respiratórias da Universidade de Leicester, no Reino Unido.
A somar a tudo isto, Stefan Baral, professor de Epidemiologia da Escola de Saúde Pública John Hopkins Bloomberg, lembra que há uma grande diferença entre a capacidade que o vírus tem de sobreviver numa superfície e a capacidade que mantém de entrar nas nossas membranas mucosas, atravessá-las e infetar-nos.
Conclui-se, assim, que as superfícies podem ser contaminadas mas, como afirma o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americano, não são a forma mais comum de propagação do vírus.
Cuidados a ter durante as compras
Entendendo melhor o comportamento do novo coronavírus, percebe-se que os cuidados a ter quando vai às compras vão depender da avaliação de risco que faz a cada momento.
Por exemplo, se está a fazer compras num espaço ao ar livre, sabe que a probabilidade de as superfícies serem perigosas é baixa. Pelo contrário, se está num espaço fechado e cheio de gente, o risco aumenta de forma significativa.
Angela Rasmussen, virologista do Centro de Infeção e Imunidade da Escola de Saúde Pública da Universidade de Columbia, dá as casas de banho públicas e muito movimentadas como um bom exemplo de um cenário de alto risco.
Assim, deve considerar alguns cuidados. Tome nota.
Evite tocar em superfícies usadas por muitas pessoas
Maçanetas, puxadores, torneiras e outros objetos usados por muita gente têm maior probabilidade de serem veículos de transmissão do vírus. São um ponto obrigatório na lista de cuidados a ter quando vai ao supermercado.
Toque apenas nos produtos que tenciona levar
Se todos os clientes cumprirem esta estratégia, cada produto representa um risco menor, porque menos gente toca nele.
Desinfete as mãos antes e depois de tocar em superfícies muito usadas
Assim não só evita contaminar essas superfícies como previne ser contaminado por elas.
Evite tocar nos olhos, nariz e boca
Sabendo que é pelas vias respiratórias que o vírus se instala no seu corpo, o mais prudente a fazer é impedi-lo de lá chegar.
Ao chegar a casa: o que deve fazer
Já com as compras feitas, a chegada a casa não precisa de ser um ritual exagerado de limpeza.
A primeira coisa a fazer quando entra – antes de tocar em qualquer superfície dentro de casa – é desinfetar as mãos para evitar que, mesmo que traga vírus consigo, o deixe espalhado pela casa.
No momento de arrumar as compras, não precisa de as limpar, porque elas já terão passado por ambientes (e alterações ambientais) suficientes para enfraquecer o novo coronavírus, se ele lá estiver. Se, mesmo assim, não se sentir confortável, o SNS recomenda que lave as embalagens por precaução e deixe secar ao ar. E não precisa de desinfetar: água e sabão cumprem o objetivo.
Se as compras forem entregues em casa
A OMS afirma que a probabilidade de uma pessoa infetada contaminar mercadorias comerciais é muito baixa, uma vez que o tempo de transporte trataria de enfraquecer o vírus. Assim, desde que a pessoa que faz a entrega cumpra os princípios básicos de higiene (lavagem das mãos, uso de máscara), não tem de se preocupar.
Uma nota sobre os desinfetantes
Um dos alertas que os especialistas têm feito com maior frequência prende-se com os produtos usados para lavagem e desinfeção das mãos e superfícies.
Tome nota: lixívia, álcool e até sabão são ótimas soluções para “limpar” o vírus. Já os produtos anti-bacterianos não só não resultam como podem fazer pior, porque encorajam o desenvolvimento de micróbios multirresistentes e, sendo anti-bacterianos, não matam os vírus.