Afonso Aguiar
Afonso Aguiar
20 Abr, 2020 - 17:11

COVID-19: as correntes solidárias que não se podem quebrar

Afonso Aguiar

Os sem-abrigo, idosos que necessitam de auxílio e outros não foram esquecidos. Saiba o que está a ser feito para ajudar os mais carenciados.

sem abrigo

Numa altura em que grande parte da população está confinada, em que circulam cada vez mais especialistas nos garantem “que vamos sair mais solidários desta crise”, ainda há aqueles que, infelizmente, não conseguem subsistir sozinhos, sem apoios de outros.

Falamos dos sem abrigo, de idosos que vivem em condições precárias e que necessitam de auxílio e todas as outras pessoas que, pelas mais diversas razões, não conseguem, nesta fase, sobreviver sem a ajuda do próximo.

O que está a ser feito para ajudar os mais necessitados?

Não são só os profissionais da área da saúde e as forças de segurança que estão neste momento estão a dar “o corpo ao manifesto”. Há também várias instituições que diariamente se expõem ao perigo no sentido de ajudar outros que necessitam.

Como estão a ser ajudados os sem-abrigo

sem abrigo

Comecemos por um dos dois casos, à partida, mais facilmente identificáveis: os sem-abrigo. No total, segundo dados de 2018 da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), Portugal registou cerca de 3 396 sem abrigo. Segundo a Organização, entre 2014 e 2018, o número aumentou em 157%.

Porém, em Portugal, nesta altura de crise pandémica, estes não foram esquecidos, e de Norte a Sul, embora com especial incidência na Grande Lisboa e no Grande Porto, redobraram-se programas de apoio aos mesmo.

Na capital portuguesa, há quatro espaços de centro de apoio aos sem-abrigo sob a tutela da Câmara Municipal. Quem necessitar, terá nesses lugares a possibilidade de acesso a higiene pessoal, um banco de roupa, dormida e refeições diárias. Ao todo, estes centros de apoio têm a capacidade para acolher mais de 100 sem-abrigo.

Os locais em questão são: o pavilhão do Clube Nacional de Natação, o Pavilhão Municipal Casal Vistoso, o Pavilhão da Tapadinha e a Casa do Largo de São Domingos de Benfica. Esta última irá acolher apenas mulheres em situação de sem-abrigo.

Também em Lisboa, a Santa Casa da Misericórdia tem um espaço para apoio e acolhimento dos sem-abrigo. Nos arredores da cidade, em Almada, a Câmara também garantiu um espaço e camas para esta população mais carenciada, enquanto que, em Cascais, a autarquia local conseguiu providenciar mais dois centros de acolhimento.

No Porto há atualmente dois locais de acolhimento de sem-abrigo. Um deles, o Centro Hospitalar Conde Ferreira, tem 10 camas reservadas para responder a eventuais situações de quarentena destinadas a pessoas sem habitação regular. Estas pertencem à Santa Casa da Misericórdia.

A autarquia também criou um Centro de Acolhimento de Emergência Covid-19 no antigo Hospital Joaquim Urbano. Tem capacidade para 40 pessoas e tem todos os serviços idênticos aos do Centro de Acolhimento Temporário que já aqui funciona.

No entanto, a Câmara Municipal do Porto já revelou “grande preocupação” relativamente aos cuidadores, sendo que, segundo a mesma, várias IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social) podem vir a ter escassez de recursos.

Mas fora das grandes cidades portuguesas, também há preocupação com as pessoas em situação sem-abrigo. É o caso de Guimarães, onde o edifício da Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos com Incapacidades de Guimarães (CERCIGUI) tem agora espaços para dormitório, refeições, lazer e higiene pessoal, com balneários masculinos e femininos.

Também no centro do país, em Leiria, o Centro de Acolhimento de Leiria (CAL) oferece refeições diárias a cerca de 40 pessoas em situação de sem-abrigo na cidade. Porém, devido ao receio de fechar por questões de infeção, distribui o serviço em regime take-away, oferecendo à hora de almoço duas refeições.

Outras das dificuldades encontradas, tem sido convencer esta população mais carenciada a largar as ruas. Nesse sentido, em Espinho, foi aberto um parque de campismo para os sem-abrigo.

Segundo, a Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA), criada pelo Governo português em 2009, os principais desafios, neste momento, são:

Manter equipas para apoio, informação e sinalização de casos; Manter abertos os locais de atendimento e prestação de serviços básicos; Contar com apoio de Médicos e/ou outros profissionais de saúde que possam apoiar as equipas e organizações em informação e orientação na intervenção;

O que está a ser feito para ajudar os idosos

idoso

Como se sabe, os idosos são o grupo de risco com maior número em Portugal e, obviamente, necessitam de cuidados especiais. Uma das medidas do Governo português neste Estado de Emergência permite a justificação de faltas ao trabalho para “situações em que se verifica a necessidade de assistência a parente na linha reta ascendente que se encontra a cargo do trabalhador e que frequente equipamentos sociais cuja atividade seja suspensa”.

Além disso, o executivo também já anunciou ter capacidade para realizar “adicionalmente (aos das autoridades de saúde) mil novos testes diários”. Estes serão realizados essencialmente por funcionários e utentes de lares, especialmente no Norte do país, a zona de Portugal mais afetada pelo Coronavírus. Nas próximas semanas, mais de 20 mil funcionários de lares do norte vão ser testados, de forma a “garantir a segurança de mais de 25 mil idosos”.

Adicionalmente, “podem ser sinalizados dez mil lugares de acolhimento de retaguarda para pessoas não doentes, e mil e 200 camas com apoio de estruturais locais, hotéis, permitem instalar com apoio medico e de recursos humanos adequados pessoas que tenham de ser retiradas dos lares”.

Nesses sentido, também os municípios, em acordo com o governo, criaram as ZAP (Zonas de Apoio a Idosos), sendo que os últimos registos indicam haver 373 ZAP, 185 das quais destinadas a utentes de lares.

No entanto, as providências do governo português parecem não diminuir a vontade de vários em ajudar os mais idosos. A campanha de voluntariado lançada pelo Governo, “Cuida de Todos”, que tem como objetivo apoiar aos idosos que vivem em lares em tempos de pandemia, já recebeu mais de 3000 inscrições.

A maior parte dos inscritos pertencem aos Distritos de Lisboa e do Porto e, de entre os mesmo, “há estudantes, pessoas desempregadas, médicos, enfermeiros, actores, professores, arquitectos, assistentes dentários, auxiliares educativas, auxiliares de acção médica, agentes imobiliários…”

A inscrição neste programa pode ser feita online por todos os que se quiserem voluntariar.

Além disso, a Fundação Bissaya Barreto criou uma linha de atendimento telefónico gratuita para ajudar “idosos em situação de isolamento social ou geográfico”. A “SOSolidão” tem ainda como objetivo promover “companhia e partilha” com a população mais velha.  O número em questão é o 800 91 29 90. Esta linha está em articulação com a instituição de apoio a idosos, SOS Idosos.

De Lisboa, também surgiu a informação de que profissionais de saúde da Santa Casa de Misericórdia, percorrem as vielas do Bairro Alto, no sentido de ajudar os idosos, embora estes, por vezes, recusem o auxílio.

O que está a ser feito para auxiliar os alunos mais carenciados

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Segundo o Ministério da Educação, estudantes com Escalão A e B vão continuar a ter acesso às refeições nas cantinas escolares.

Esta é uma medida de apoio aos alunos e famílias mais carenciadas. 700 das escolas portugueses estão a contribuir com refeições num total de mais de 10 mil refeições diárias, mas estarão a ser reunidas as condições para poderem ser servidas perto de 20 mil refeições por dia durante as próximas semanas.

O que está a ser feito para ajudar os desempregados

Um dos maiores receios do governo foi garantir também a qualidade de vida daqueles que estão sem emprego. Devido a esta conjuntura atual, devido à COVID-19, os subsídios de desemprego e de cessação de atividade foram automaticamente renovados até 30 de junho.

Além disso, são várias as autarquias que têm ajudado as famílias mais carenciadas. Gaia, Covilhã, Mealhada, Mafra, entre muitas outras, têm procurado prestar apoio às famílias mais carenciadas, garantindo em alguns casos apenas refeições ou, noutros, até produtos de higiene.

No site de cada município é possível verificar quais as medidas que os mesmos estão a tomar e os requisitos que tem de cumprir para poder ser abrangido pelas respetivas redes de apoio.

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