Share the post "Covão dos Conchos: o enigmático buraco na Serra da Estrela"
Quem se aproxima da Ribeira das Naves, na Serra da Estrela, vê ao longe uma espécie de ralo, um buraco que parece querer esvaziar por completo as águas cristalinas que por ali repousam. É o Covão dos Conchos, um funil que se diria saído de um cenário de ficção científica e que já se tornou famoso internacionalmente.
A verdade é que não há nada de sobrenatural nesta estrutura. Muito pelo contrário, é uma obra pensada e realizada pelo homem e um verdadeiro prodígio de engenharia.
Por isso, primeiro vamos explicar a razão de ali estar aquele buraco negro. Depois, daremos lugar às lendas populares que por ali foram medrando.
Ao observar à distância o Covão dos Conchos, basicamente vê-se que no meio de um lago aparece uma espécie de buraco negro, uma circunferência perfeita, onde as águas se precipitam e, misteriosamente, desaparecem.
Bem, é verdade que as águas se precipitam no buraco, mas não há nenhum mistério quanto ao seu destino.
Covão dos Conchos: enigma na Estrela
Aquele funil é a entrada de um túnel, construído na década de 1950, e que conduz as águas recolhidas na Ribeira das Naves até à Lagoa Comprida, localizada bem mais abaixo.
O túnel em causa tem 1519 metros de comprimento, fazendo desta estrutura uma fantástica obra de engenharia.
O Covão dos Conchos já ali está há mais de 60 anos e sempre a cumprir o seu papel na perfeição, ajudando a aproveitar as águas da maior das lagoas serranas para a produção e energia elétrica.
Parte do sistema da central elétrica do Sabugueiro, no Poço Negro, a pequena barragem da Lagoa Comprida começou a ser construída em 1912, ficando concluída em 1955.
O enigmático buraco, o Covão dos Conchos, é a entrada do canal que recolhe as águas da Ribeira das Naves e as leva até à albufeira. Como se vê, nada vindo de outro mundo, mas ainda assim uma paisagem que exige uma visita demorada.
Como lá chegar
O acesso ao Covão dos Conchos faz-se por via pedestre, através de uma estrada que parte da Lagoa Comprida, a serpentear pela maravilhosa paisagem da mais alta serra de Portugal Continental.
Não é um percurso fácil, alternando entre o razoável e o difícil, com muitas pedras soltas que podem atrapalhar a caminhada.
São aproximadamente cinco quilómetros, mas pelo caminho vai encontrar uma série de motivos de interesse, entre o recortado das enormes pedras da Estrela.
E quando chegar ao Covão dos Conchos, verá que a caminhada vale mesmo a pena. Não se esqueça da máquina fotográfica, ou de ter bateria no telemóvel, porque vai conseguir imagens deslumbrantes.
Lendas nas cumeeiras da serra
Os sítios mais remotos, e às vezes quase inacessíveis, acabam por ser terreno fértil para mitos e lendas populares. Assim, na demanda pelo Covão dos Conchos, não se esqueça de admirar a fantástica Lagoa Escura, outra das maravilhas da Serra da Estrela.
Ao longo dos tempo foram-se contando histórias de lagos sem fundo, da aparição de estranhos objetos e assustadores olhos marinhos.
De acordo com as notas consultadas no Museu Virtual de Manteigas, a Lagoa Escura era a que mais se prestava a lendas fantásticas o que causava certo pânico nos habitantes, principalmente nos pastores que deambulavam com o gado pelas pastagens de altitude.
Ligação ao mar
Relatos de destroços de um suposto navio que aí foi encontrado, levaram rapidamente à teoria da ligação ao mar.
Quando os membros da expedição científica de 1881 à Serra da Estrela entraram em contacto com os locais para saberem sobre os supostos destroços, foi-lhes dito que um certo senhor rico que por ali habitava mandou construir um engenho, barcaça ou barco, para lá brincar, engenho que ali ficou a deteriorar-se. Os seus destroços, em dias de tempestade, podiam ser vistos na lagoa.
Os habitantes acreditavam que a lagoa Escura seria uma lagoa sem fundo que escondia grandes tesouros, (talvez não seja tão descabida a teoria do tal senhor rico que quis explorar esta lagoa, talvez para procurar tais tesouros, pois se fosse pelo prazer de andar de barco a Lagoa Comprida seria a melhor escolha).
Os relatos sobre esta lagoa não terminam por aqui. Diziam os pastores que quando estivesse seca ninguém nela se podia aventurar, pois corria o risco de lá desaparecer. Até o gado, pelo seu instinto natural, a evitava.
No entanto, não obstante as lendas, a paisagem é de tirar o fôlego, tal como o Covão dos Conchos. Assim que haja oportunidade não perca. Para aguçar o apetite, veja este vídeo, feito pela Probilder, com recurso a um drone: