Os números falam por si: a COVID-19 na meia idade pode mesmo ser fatal. O caso de estudo chinês apresentou uma taxa de mortalidade de 1.38% em casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus. Desses óbitos, apenas 0.0016% aconteceram em pessoas com idade inferior a 10 anos, enquanto 7.8% ocorreram em indivíduos com 80 ou mais anos.
O mesmo estudo revela que só 0.04% das pessoas entre os 10 e os 19 anos precisaram de cuidados hospitalares, ao contrário dos 18% acima dos 80 anos que necessitaram dessa assistência. Porém, a grande surpresa foi o comportamento da COVID-19 na meia idade, com 4% dos indivíduos acima dos 40 anos a precisar de tratamento hospitalar, a par dos 8% acima dos 50 anos de idade. Perceba como.
COVID-19 na meia idade: aspetos a considerar
O estudo em causa foi publicado na Lancet Infectious Diseases e tem por base 70,117 casos de infeção pelo novo coronavírus, diagnosticados na China, incluindo 689 casos de pessoas repatriadas da cidade de Wuhan
O Professor Azra Ghani, co-autor do estudo, declarou ao The Guardian que a análise destes números ajuda qualquer país a determinar quais as melhores políticas de contenção da COVID-19 a implementar. E a análise deste estudo sobre o COVID-19 na meia idade demonstra claramente que a hospitalização é muito mais provável em pessoas com 50 ou mais anos, assim como é mais provável um desfecho fatal desses casos.
Dificuldades de estudo
Proceder a estas análises nem sempre é fácil. Para os cientistas, comparar taxas de mortalidade entre países tem sido difícil, pois cada governo tem assumido posturas diferentes, por exemplo, no que respeita a testar. Outro obstáculo prende-se com determinar a proporção de pessoas que morreram, depois de terem ficado infetadas. É que muitos casos não chegam a ser confirmados.
Os últimos estudos estimam que o número de casos não diagnosticados com COVID-19 representem 0.66% da taxa de mortalidade. Embora alguns destes números possam estar abaixo do esperado, é importante lembrar que, por exemplo, a gripe suína de 2009 matou “apenas” 0.02% dos indivíduos infetados.
COVID-19 na meia idade: panorama expectável
Os estudos continuam a corroborar a tese de que o vírus causa mais complicações nas pessoas mais velhas, as quais tendencialmente têm mais problemas de saúde, que enfraquecem o aparelho respiratório e/ou o coração.
Os membros do Imperial College London, que estão a aconselhar o governo britânico durante esta pandemia, alertam para o facto de que 50% a 80% da população mundial será infetada pelo novo coronavírus e o número de pessoas a precisar de tratamento hospitalar irá sobrecarregar até os serviços de assistência de saúde mais modernos.
O Professor Neil Ferguson, um dos autores do estudo abordado acima sobre o COVID-19 na meia idade, revela que, à medida que a epidemia se propagar no Reino Unido, haverá hospitalizações e mortes em todos os grupos etários, ainda que em proporções distintas, como observado na China.
Propagação do vírus
Restringir as viagens, respeitar a distância social e fechar alguns serviços são medidas que têm como finalidade conter a transmissão do novo coronavírus. De acordo com o Imperial College London, estas medidas terão um impacto significativo na Europa, evitando cerca de 59.000 mortes em 11 países europeus, até ao final de março.
Com um nível de testagem insuficiente para determinar quão propagado está o vírus, o Imperial College estima que, só no conjunto desses 11 países europeus, até ao final de março, pudessem existir entre 7 a 43 milhões de pessoas infetadas com o novo coronavírus.
A este alerta junta-se o de investigadores norte-americanos que descobriram o mecanismo biológico que permite que o novo coronavírus se propague tão rapidamente entre humanos, por todo o mundo.
Covid-19 na meia idade: busca por fármacos
Uma análise detalhada da estrutura do vírus revelou que o novo coronavírus é capaz de se “agarrar” às células humanas com 4 vezes mais força do que outros coronavírus, como o SARS-CoV que matou centenas de pessoas em 2002. Isto significa que as partículas do novo coronavírus, inaladas através do nariz ou da boca, têm maior probabilidade de se “agarrar” às células do sistema respiratório superior, e ainda que não são precisas muitas partículas para provocar uma infeção.
Neste momento, está a ser criado um mapa 3D da proteína do vírus, o qual será usado pelos cientistas para encontrar fármacos que neutralizem o novo coronavírus, antes da infeção ter início. Fang Li, da Universidade do Minnesota, explicou ao The Guardian que se esse anti-corpo se conseguir “agarrar” mais a essas regiões do corpo do que o próprio vírus, ele irá ser capaz de “expulsar” o novo coronavírus das células, podendo tornar-se num tratamento viável e eficaz para as infeções virais.