De acordo com estudos recentemente divulgados, existe uma preocupação acrescida com um novo pico da Covid-19 – e tudo indica que esta inquietação tem razão de ser: algumas abordagens científicas têm apontado para a previsão de uma nova onda de casos da doença infeciosa, que atingiria a Europa e a América do Norte ainda antes no final do Outono.
A verdade é que já desde o Verão que se tem falado sobre ser cedo para dizer que o mundo está numa situação de endemia da Covid-19 – quando a doença circula entre as populações em números previsíveis e estáveis, permitindo o maior controlo por parte das autoridades e dos serviços de saúde. A precaução parece, agora, pertinente – pelo menos para a comunidade científica.
Estaremos diante de um novo pico da doença? Quais são os fatores que podem levar a uma nova onda de casos?
Novas variantes podem dar origem a mais casos da Covid-19
Em destaque nas investigações científicas mais recentes, publicadas em Outubro, aparecem as duas novas variantes que têm feito soar o alarme para uma possível nova onda de casos da doença provocada pelo coronavírus: BQ.1 e B.Q.1.1.
As subvariantes, que resultam de mutações da variante Ómicron, foram identificadas pela primeira vez na Nigéria e, desde então, já foram encontradas em cerca de vinte países da Europa, Ásia, América, e Oceania. Em Portugal, até à data, não há registo de casos de infeção pelas novas variantes.
Estas são duas das diversas sublinhagens que descendem da Ómicron, mas o que as diferencia das muitas outras existentes – especialmente da BA.5, dominante até à data – é que elas parecem ser potencialmente mais resistentes à imunidade e, ao mesmo tempo, mais contagiosas – em especial a B.Q.1.1.
Esta é uma das razões apontadas por alguns cientistas, que acreditam que esta dupla de novas variantes do coronavírus possa estar na origem de uma futura nova onda de casos da Covid-19 no Hemisfério Norte – situação que deve vir a confirmar-se ainda antes do final de Novembro.
A BQ.1 é descendente da BA.5, uma mutação da Ómicron, e foi inicialmente identificada, em Julho. O mesmo podemos dizer da BQ.1.1, variante que lhe acrescenta outras mutações e que tem despertado preocupação nos especialistas em saúde pública.
B.Q.1.1: a variante que mais preocupa
De acordo com um relatório divulgado pela Agência de Saúde Pública do Reino Unido, a 7 de Outubro, as novas BQ.1 e BQ.1.1 parecem ter uma capacidade acrescida de propagação – seriam 29% mais contagiosas, face à variante BA.5, que é dominante hoje.
O mesmo documento, que é citado pelo Jornal espanhol La Vanguardia, indica que alguns resultados laboratoriais identificaram mais duas novas variantes, somente nos últimos dias, e que ambas apresentam maior capacidade de propagação do que a já conhecida BA.5.
No entanto, apesar de serem identificadas novas sublinhagens da Ómicron, para a ciência parece não restar dúvidas: a BQ.1.1 é a mais preocupante e pode originar uma nova onda de casos ainda este ano.
A razão, apontada pelos especialistas, prende-se a dois fatores importantes: esta variante é mais “inteligente” no que diz respeito a enganar os nossos anticorpos adquiridos – quer por infeção, quer por vacinação – e manifesta-se como a variante com maior potencial de contágio vista até ao momento, mesmo em populações onde existe um alto nível de imunidade.
A teoria é reforçada num estudo do médico Yunlong Cao, imunologista da Universidade de Pequim, que está publicado na BioRxiv.
Casos aumentam na Europa. Será já uma nova onda?
Os números oficiais do Reino Unido já apontaram que houve um aumento significativo de casos de infeção pelo coronavírus, mas os especialistas acreditam que os diagnósticos ainda não estejam relacionados com as novas mutações – em especial com a BQ.1.1, que deverá ser a próxima potencial dominante.
A natureza tem papel fundamental no desenho das recentes previsões: quer através das constantes mutações do coronavírus, quer através do ciclos de estações, mas a alteração dos nossos hábitos, face aos períodos de maior controlo da pandemia, é outros dos fatores que importam nesta equação: as máscaras foram postas de lado, os convívios retornaram à quase normalidade e a adesão ao reforço da vacina tem sido analisada numa linha decrescente. A isto, para o futuro breve, soma-se a questão das quedas de temperaturas durante o Outono e o Inverno, e uma maior quantidade tempo passado em espaços fechados, que favorece a proliferação de vírus comuns da época – o coronavírus, inclusive.
Risco de casos graves da doença mantém-se reduzido com reforço da vacinação
Ainda que os estudos científicos mais recentes indiquem a maior capacidade de transmissão apresentada pelas novas variantes que resultam de mutações da Ómicron, os especialistas continuam a salientar o papel da vacinação na prevenção de manifestações graves da Covid-19. Isto porque quadros agravados da doença dependem, sobretudo, da resposta dada pelas células imunes e não pelos anticorpos – uma proteção que, provavelmente, permanece garantida através da vacinação.
De acordo com Antoni Trilla, epidemologista do Hospital Clínic de Barcelona, também citado pela publicação catalã La Vanguardia, não existe para já qualquer resultado que indique o maior risco de complicações graves pela infeção com a nova variante, “especialmente em pessoas vacinadas com o regime completo”.
O que o especialista parece tomar como certo é que, “se as BQ.1 e BQ.1.1 se confirmarem como mais transmissíveis”, então sim, é provável que ocorra uma nova onda de casos da Covid-19 na Europa e na América do Norte durante a temporada de Outono-Inverno.
“Temos as ferramentas contra a Covid-19, mas não as estamos a usar”
James Lawler, infectologista da Universidade do Nebraska, EUA.
De acordo com o mais recente relatório nacional sobre a vacinação, emitido pela DGS em Outubro, quase 90% da população entre 50 e os 64 anos recebeu pelo menos um reforço da vacina (a chamada terceira dose) – e esta cobertura é quase total nas populações acima dos 65 anos. Em contrapartida, a percentagem é baixa nas restantes faixas etárias.
De salientar que os anticorpos estão gradualmente a baixar – sejam eles conseguidos através da vacinação ou do reforço, de uma infeção ou de uma reinfeção. Diante da maior fragilidade imunitária da população, tanto em Portugal como no mundo, e tendo em conta que a BQ.1.1 é mais transmissível, parece que estamos globalmente posicionados diante de uma nova vaga da pandemia nos próximos meses – e, caso não haja novo reforço, o cenário pode ser mais complicado.
Agendar vacinação contra a Covid-19
Atualmente, encontra-se em vigor o regime Casa Aberta – ou seja, para ser vacinado contra a Covid-19 (vacina primária ou dose de reforço) basta dirigir-se ao ponto de vacinação ou ao seu centro de saúde, sem necessidade de agendamento.
A única ressalva é feita para a vacinação de crianças com idades entre os 5 e os 11 anos, que deverá ser marcada previamente. Poderá fazê-lo no centro de saúde ou num ponto de vacinação.