Share the post "COVID-19 e o R: a letra que tira a radiografia às infeções"
Boris Johnson, assim como governos e políticos nacionais e internacionais, disse que reduzir a relação entre a COVID-19 e o R é um esforço coletivo da população britânica. Por isso, o governo de Johnson definiu 5 objetivos chave, os quais devem ser atingidos, antes das medidas de confinamento do Reino Unido serem levantadas.
O terceiro e mais importante desses pontos relaciona-se, precisamente, com a taxa de transmissão do novo coronavírus, a qual tem de descer para níveis que se tornem “controláveis”. Para isso, é preciso ter em conta aquele que é conhecido como o valor do “R” (número básico de reprodução), ou seja, o número médio de contágios causados por cada pessoa infetada. Perceba melhor a relação entre a COVID-19 e o R.
COVID-19 e o R: o que é, afinal, o r de que tanto se fala?
O R é uma medida que ajuda a analisar o modo como uma doença se está a propagar na população, isto é, o número médio de infeções geradas por cada pessoa infetada. No fundo, é o cálculo/a estimativa que permite saber quantas pessoas um indivíduo infetado é capaz de contagiar.
Assim, se o valor do R for 2, significa que cada indivíduo infetado vai transmitir o vírus a outras duas pessoas. Já se o R for 1, é sinal de que uma pessoa infetada com o vírus é capaz de o passar a um só indivíduo, ou seja, a prevalência do vírus irá permanecer ao mesmo nível.
Porém, se o R for inferior a 1, tal já significa que a prevalência do vírus começa a diminuir. Em todo o caso, se o R estiver só ligeiramente abaixo de 1, o vírus ainda continua a propagar-se exponencialmente e são necessárias muitas precauções.
Por exemplo, a chanceler alemã Angela Merkel disse em abril que se o R da Alemanha se mantivesse em 1.1, o sistema nacional de saúde alemão entraria em colapso em outubro. O mesmo aconteceria se o R fosse de 1.3 em junho ou de 1.2 em julho.
Qual a relação entre a COVID-19 e o R?
Os epidemiologistas afirmam que as estimativas do R são imperfeitas e estão em constante revisão. Isto, porque o seu cálculo tem por base as previsões do comportamento humano e a capacidade de transmissão da doença.
No início de março, a Organização Mundial da Saúde colocou o R relativo ao novo coronavírus entre 2 e 2.5, no contexto de uma população mundial sem qualquer imunidade e, na altura, sem medidas de distanciamento social.
Contudo, estes números variam bastante de lugar para lugar. Um estudo do governo dos Estados Unidos da América, por exemplo, estimou o valor do R em 5.7 nos primeiros dias do surto, ainda em Wuhan. Já o Imperial College de Londres, em princípios de abril, avançou que o R estava entre 3 e 4.6 na Europa, antes das medidas de confinamento terem sido implementadas.
Estes valores do R do novo coronavírus podem ser comparados com os R’s de outras doenças/vírus, como o da gripe sazonal (cerca de 1.3), do Sars (cerca de 2 a 4) ou do Measles (cerca 12 a 18).
Como é calculado?
Há muitas formas de calcular o R, com muitos matemáticos a basear-se em suposições ou estimativas, extremamente variáveis. Sir Patrick Vallance, conselheiro científico britânico, afirma que os cientistas do Reino Unido estavam a analisar todo o tipo de fatores, como contactos, genómica, dados de ambulâncias, admissões hospitalares, entre outros elementos.
Esta pesquisa acerca da verdadeira escala de propagação do vírus em todo o país foi, interrompida, a partir de meados de março, provavelmente pela decisão de rastrear os contactos e começar a testar. Agora, o Reino Unido está a procurar “elevar” a sua estratégia de “testar, rastrear e identificar”, o que irá ajudar os epidemiologistas a monitorizar o R do país com o maior rigor possível.
No final de abril, o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, revelou um novo programa, no qual 300 mil pessoas foram regularmente testadas à COVID-19. O objetivo foi ajudar os cientistas a compreender a taxa de transmissão e a possível imunidade existente no país.
Qual deve ser o valor do R para implementar medidas de desconfinamento?
Governos de todo o mundo disseram que o R tinha de estar consideravelmente abaixo de 1 para as medidas de confinamento serem levantadas, de forma significativa.
Por exemplo, Dominic Raab, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido e substituto de Boris Johnson (durante a sua ausência devido à infeção pelo novo coronavírus), abriu caminho para, depois, o primeiro-ministro anunciar o aligeiramento de algumas restrições. Raab adiantou que as estimativas atuais relativas ao R estariam entre 0.5 e 0.9.
No entanto, se as pessoas deixarem de praticar o distanciamento social, se esquecerem os sacrifícios que fizeram para ultrapassar este pico, para chegar a este ponto, o vírus vai crescer outra vez e de forma exponencial.
Isso conduzirá a um segundo pico, o qual ameaçará o Serviço Nacional de Saúde e, muito provavelmente, obrigará a outro confinamento que prolongará, ainda mais, o “estrangulamento” da economia.
Fontes: The Guardian/The Observer/OMS