É possível que o nosso cérebro procure por memórias menos stressantes e as recupere para os nossos sonhos. Tal como quando não conseguimos adormecer e pensamos em coisas positivas para tentar “cair no sono”. Daí existir uma relação entre COVID-19 e sono, que se reflete também nos sonhos que vamos tendo.
Meir Kryger, Professor de Medicina Pulmonar na Yale School of Medicine e especialista em Medicina do Sono, recorda que esta pandemia é algo novo para todos. Por isso, é normal esta relação e é importante estar atento a alguns sinais.
COVID-19 e sono: tem tido sonhos estranhos?
Jason Ellis, Professora de Psicologia na Northumbria University e Diretora do Northumbria Centre for Sleep Research, lembra que os investigadores ainda não sabem por que é que sonhamos. Embora, haja algumas teorias.
Algumas teses defendem que usamos os sonhos para experimentar diferentes cenários e hipóteses, no ambiente seguro de um sonho. Outra hipótese acredita que os sonhos podem ser uma maneira de consolidar memórias, reunindo a informação que se consumiu durante o dia em novas memórias.
Outras teorias dizem que os sonhos podem ser uma forma de resolver problemas ou questões emocionais que temos. O stress familiar, profissional e mental causado pela pandemia pode provocar sonhos perturbadores, mas também sonhos que nos ajudem a refletir sobre a realidade. Este pode ser um mecanismo do nosso cérebro para conseguir processar estas novas circunstâncias.
A grande maioria destes sonhos acontece durante o REM (rapid eye movement), a nossa fase mais profunda de sono, a qual ocorre em intervalos, durante a noite, e que se carateriza por movimentos oculares rápidos, mais sonhos e movimentos corporais e aceleração dos batimentos cardíacos e da respiração. É neste período que acontece a maior parte desses sonhos.
Situações incomuns
O que pode estar a ser incomum na relação COVID-19 e sono não é propriamente o conteúdo dos sonhos sobre a pandemia ou o facto de os termos, mas sim o facto de nos lembrarmos deles, o que não é habitual. Normalmente, esquecemos a maioria dos sonhos logo após acordar.
Porém, há alguns fatores que podem interferir nesta situação. Por exemplo, beber mais álcool pode suprimir as memórias dos nossos sonhos. Contudo, beber com mais frequência também pode fazer com que acordemos mais vezes durante essa fase mais profunda do sono, o que irá ajudar a que nos recordemos dos sonhos, afirma a especialista Jason Ellis.
Outro aspeto a considerer é o facto de ver televisão durante várias horas, nomeadamente antes de dormir. Estar constantemente “ligado” nas notícias ou mesmo a ver programas do nosso interesse pode, de acordo com o especialista Meir Kryger, contribuir para uma noite pouco descansada e tranquila.
Ao longo dos últimos dois anos, muitas vezes fomos obrigados a alterar hábitos já há muito implementados. Daí, surge uma outra situação que pode explicar os sonhos estranhos: a completa mudança de rotinas, de todo o tipo, que todos experienciamos durante a quarentena e confinamento, ou ainda durante os períodos de isolamento.
Segundo Ellis, os horários que temos quando estamos a trabalhar normalmente, por exemplo, modificaram-se algumas vezes, o que também contribui para uma noite menos descansada. Não ter uma rotina de sono (com horas definidas para acordar e para deitar) irá interferir nos processos internos necessários para um bom sono.
Além destes aspetos, há que considerar que o distanciamento social tornou-nos ainda mais reféns dos mais variados aparelhos eletrónicos e da luz dos seus ecrãs, seja para partilhar refeições virtuais, seja para assistir a um filme ou série. É sabido que a exposição a essa luz, horas antes de ir para a cama, é prejudicial para uma boa noite de sono, adianta Ellis.
Como evitar uma má noite de sono
Pode não ser fácil adotar práticas positivas, durante estes tempo stressantes. Porém, tentar manter uma boa higiene de sono pode não só garantir uma boa noite de sono, como prevenir o desenvolvimento de problemas de saúde mais sérios, a longo prazo.
Alguns desses hábitos de sono saudáveis incluem desligar os ecrãs 2 a 4 horas antes de ir para a cama e desconectar-se das notícias, algum tempo antes de se ir deitar. Para Meir Kryger, isto é especialmente importante para contrariar a ansiedade que pode estar presente nos sonhos mais stressantes.
A importância desta matéria é reconhecida pelos especialistas. De acordo com Jason Ellis, não dormir bem aumenta bastante o risco de desenvolver depressão ou, mesmo, stress pós-traumático no futuro. Assim, Ellis recomenda que se comece já a trabalhar na qualidade e higiene do sono das pessoas, de modo a prevenir doenças psicológicas que começarão a emergir daqui a 9/10 meses.
Nota: se tem tido sonhos bizarros, não está sozinho. Vá ao Twitter e pesquise por #pandemicdreams . Irá encontrar os sonhos mais estranhos que pessoas um pouco por todo o mundo têm tido.