Alguns especialistas avançam que os cigarros (eletrónicos ou não) podem tornar os indivíduos mais vulneráveis a uma infeção grave pelo novo coronavírus. Embora ainda não haja muitos estudos sobre a COVID-19 e tabaco, as evidências sugerem que o fumo pode comprometer a imunidade pulmonar e “facilitar” a inflamação. Apesar de existirem menos estudos sobre o fumo/vapor dos cigarros eletrónicos, as pesquisas preliminares sugerem que as consequências sejam semelhantes.
Além disso, os fumadores de longa data têm um maior risco de desenvolver doenças pulmonares crónicas (como a asma e a doença pulmonar obstrutiva) e doenças arteriais e coronárias, as quais têm sido relacionadas com os casos mais graves de COVID-19. Por todos estes motivos, os cientistas afirmam ser razoável assumir que o fumo pode aumentar o risco de desenvolver infeções graves com o novo coronavírus. Perceba melhor a conexão entre a COVID-19 e tabaco.
COVID-19 e tabaco: fumar pode aumentar o risco
Melodi Pirzada, chefe da unidade de pediatria pulmonar do Winthrop Hospital on Long Island, em Nova Iorque, afirmou que todos os indícios permitem acreditar que haja casos mais graves de infeção pelo novo coronavírus em fumadores, particularmente os de longa data. De acordo com Pirzada, é legítimo concluir que ter histórico como fumador altera todas as vias respiratórias, assim como o mecanismo de defesa pulmonar.
Como já referimos, ainda há poucos estudos sobre a COVID-19 e tabaco. Porém, há outras pesquisas que podem ajudar a tirar conclusões acerca deste tópico. Por exemplo, na China, uma pesquisa avançou que os homens tinham mais probabilidade de ser hospitalizados devido à infeção pelo novo coronavírus do que as mulheres. A razão para isso pode dever-se ao facto de neste país haver muitos mais homens fumadores do que mulheres.
COVID-19 e tabaco: mais estudos
Outro estudo com 78 pacientes com COVID-19, publicado no Chinese Medical Journal, concluiu que aqueles que tinham historial como fumadores estavam 14 vezes mais suscetíveis a desenvolver pneumonia e a morrer do que os não-fumadores ou do que aqueles que nunca fumaram.
Um relatório analisou 1.099 casos positivos de COVID-19 na China e concluiu que 12.4% dos fumadores ou morreu, ou precisou de cuidados intensivos ou necessitou de entubação, em contraste com 4.7% dos não-fumadores.
A Organização Mundial de Saúde também já admitiu a possibilidade dos fumadores estarem mais suscetíveis a complicações graves, em situação de infeção pela COVID-19. Ou seja, a relação entre COVID-19 e tabaco pode ser perigosa.
O fumo e os pulmões
Mesmo havendo pouca literatura sobre a COVID-19 e tabaco, já existem muitos estudos sobre a relação entre o fumo e a inflamação dos pulmões e a diminuição da sua imunidade. Melodi Pirzada afirma que o fumo ou o vapor do cigarro prejudicam a correta limpeza das vias respiratórias, dificultando a eliminação das toxinas e do muco.
Ray Pickles, Professor Associado do Departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, explicou que, quando ficamos infetados com um vírus, há uma série de respostas coordenadas que o nosso organismo ativa, com o objetivo de atacar aquele “invasor” e acabar com a infeção. O problema é quando há alguma condição que impede ou dificulta essa ação natural por parte do organismo.
Robert Tarran, Professor de Biologia Celular e Fisiologia em Chapel Hill, adianta que o fumo é um fator de risco para quem contrai o vírus Influenza, responsável pela gripe sazonal. Assim, adianta, as pessoas que fumam estão de certa forma imunodeprimidas. Produzem mais espetoração, os seus pulmões não estão tão limpos e a imunidade das suas células também está comprometida. Por isso, estão mais suscetíveis às infeções virais mais graves.
Vapor do cigarro eletrónico
Em relação ao vapor dos cigarros eletrónicos, Robert Tarran explica que ainda existe pouca investigação, embora já haja alguns estudos epidemiológicos que sugerem que quem usa estes cigarros está mais suscetível a desenvolver infeções respiratórias.
As pesquisas feitas em animais, como ratos, comprovaram que a exposição a estes vapores diminui as defesas, tornando mais fatal uma infeção causada pela bactéria streptococcus (pneumonia) ou pelo vírus influenza A (gripe sazonal).
Convém lembrar a este propósito que o cigarro eletrónico está associado a uma lesão pulmonar (EVALI). O US Centers for Disease Control and Prevention registou um surto de casos de EVALI no início deste ano, contabilizando 2.807 hospitalizações em 50 estados americanos, com 68 mortes em fevereiro.
Outro aspeto a considerar nesta relação COVID-19 e tabaco está relacionado com o facto do cigarro obrigar a um contacto com a boca, o qual é desaconselhado, de forma de evitar o contágio pelo novo coronavírus. Além disso, no caso dos cigarros eletrónicos, eles não são descartáveis, o que aumenta ainda mais o risco de contágio.
Em suma
Nenhum destes estudos foca a relação COVID-19 e tabaco. Embora se saiba que fumar aumenta a gravidade das infeções respiratórias, ainda não se percebeu se é possível extrapolar essa conclusão geral para o caso particular da pandemia atual, motivado pelo novo coronavírus. Porém, tendo em conta o efeito do fumo no sistema imunitário, é prudente assumir que isso tenderá a agravar uma eventual infeção pelo novo coronavírus.
Stanton Glantz, diretor do Center for Tobacco Control Research and Education da Universidade da Califórnia, em São Francisco, declara que, embora ainda não haja pesquisas dirigidas à COVID-19 e tabaco, daquilo que se sabe no geral sobre os efeitos do tabaco no organismo e, também, das conclusões que já se retiraram dos casos chineses, deixar de fumar reduz seguramente o risco de infeções graves, sejam elas causadas ou não pelo novo coronavírus.