É muito comum, na sequência de uma separação ou divórcio, haver crianças com duas casas – crianças que, portanto, dividem o seu tempo entre as casas dos dois progenitores.
Crianças com duas casas: como gerir
Não é segredo para ninguém que qualquer criança deve viver a vida com estabilidade. Por muito bem que encarem uma vida dividida entre duas casas, esta situação é muitas vezes causadora de algum stress nas crianças, e muitas vezes os pais não têm consciência disso.
Ter um sítio ao qual chamem de “casa”, onde têm as suas coisas, é o que os faz sentir seguros. Quando o seu tempo é dividido entre duas casas diferentes, é importante que ambas as façam sentir essa segurança.
Quem nunca passou pela situação de ter os pais divorciados ou a viverem separadamente, em criança, talvez tenha alguma dificuldade em compreender estas vidas em constante transição.
Mas a verdade é que fazem parte da realidade de muitas pessoas, e podem ser encaradas apenas como uma situação diferente da maioria, e não como um caso especial. Isto porque uma criança que viva a sua vida dividida entre duas casas, seja porque razão for, tem as mesmas possibilidades de desenvolvimento que aquelas que vivem apenas numa.
Estratégias para facilitar a transição da criança com duas casas
Existem algumas dicas sobre como os pais podem proceder para ajudarem os seus filhos a serem felizes numa situação assim. É o que vamos descobrir neste artigo.
- Estabeleça um ritual de chegada a cada casa. Os rituais fornecem uma conexão emocional para que as crianças possam integrar-se num ambiente diferente. Pode ser algo tão simples como um aperto de mão especial, ou um abraço.
- Valorize e proteja o espaço e os pertences da criança. Atribua locais de armazenamento individuais e instrua os irmãos a respeitar os pertences da criança, sobretudo a colocá-los de volta aos seus lugares e especialmente na ausência da criança.
- Dê-lhes sempre hipótese de escolha. As escolhas próprias capacitam as crianças e permitem que elas se sintam que têm algum controle sobre as suas vidas.
- Atribuir tarefas e responsabilidades. As crianças sentem-se bem-vindas e confortáveis quando contribuem para um lar funcional.
- Mantenha um calendário com as datas da sua presença e ausência na sua casa, bem visível, para que não haja confusões com horários.
- Permita que as crianças passem tempo a sós com os seus pais biológicos, se for esse o caso.
- Explique sempre tudo o que está a acontecer a nível familiar, de forma a não se sentirem excluídas e expresse o quanto elas são especiais para si.
- Em qualquer uma das casas, a criança deve ter seu próprio quarto. Se isso não for possível, deve ter seu próprio espaço numa sala – algum espaço que seja exclusivamente dela. Deverá dar permissão para manter as suas coisas naquele espaço e organizá-las da forma como entender.
- Dê ao seu filho algum espaço. Se ele ou ela tiver que dividir um quarto, deixe-o escolher que roupa de cama prefere e o que colocar nas prateleiras dos móveis.
- Deixe a criança ajudar a decorar o espaço. Seja escolhendo a sua roupa de cama, a mobília, ou um quadro para pendurar na parede, deixe-a personalizar o espaço.
- A criança deve ser encorajada a manter roupas suas em ambas as casas.
- A criança deve poder levar suas coisas de um lado para o outro entre as duas casas sem qualquer foco de tensão ou conflito entre os pais. Ou se o conflito for iminente, é importante que ela não perceba.
- Evitem discussões à frente da criança. Elas poderão sentir-se pressionadas para tomar partido, e na verdade, isso terá o efeito contrário – fará com que perca a vontade de ficar nem com um nem com o outro. Embora as crianças não causem o divórcio dos pais, elas geralmente sentem-se responsáveis pela sua felicidade. Se elas ficarem do lado de um dos pais e contra o outro, isso pode causar problemas. É importante que os seus filhos testemunhem uma relação saudável e cordial entre os dois pais, sem que as emoções se intrometam.
- Particularmente se os filhos ainda são pequenos, é importante que os tranquilize dizendo várias vezes que eles têm dois pais que os amam, e que mesmo que não estejam juntos, ainda os amam, e não vão nunca deixar de o fazer.
- Resista ao desejo de competir. Não é importante fazer com que o seu filho goste mais de estar na sua casa do que na outra. Aliás, nem precisa saber como é a outra casa, e isso provavelmente nem tem importância para ele. Foque-se em criar o melhor ambiente e condições possíveis, mas não tentando superar a outra casa.
- Respeite os horários de mudança de casas, mesmo quando a criança estiver doente. Isso reforça a capacidade dos pais para cuidar dela. Ajuda-a a sentir-se segura com os pais e parte de um lar. Quando só se está com a criança quando ela está saudável, isso transmite uma imagem de que um dos pais é mais confiável que o outro.
- Pense que a relação emocional que mantinha com o seu parceiro deu lugar a uma relação comercial. Encarar o processo de criar os seus filhos como se se tratasse de uma parceria entre dois sócios leais pode ser uma boa ideia. Se assim for, não abrem espaço para reabrir feridas antigas.
- Não fale sobre o outro pai da criança à frente desta, não importa o quão frustrado ou irritado se sinta num determinado momento. Conversar sobre os pais de uma criança é como conversar sobre uma parte do seu próprio filho. Mãe é mãe e pai é pai.
- Ligue para o seu filho todos os dias. Esta rotina é muito importante para ele, e saber que se importa e pensa neles todos os dias é muito importante.
- Doseie bem a comunicação com eles. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Não passe o tempo todo a telefonar ou a enviar e-mails. É importante que na chamada diária, diga tudo o que tiver para dizer, ao invés de estar constantemente a comunicar.
- Esforcem-se por estabelecer rotinas semelhantes em ambas as casas, para os filhos. Não faz sentido terem por exemplo diferentes horários para irem para a cama. E não faz sentido também que isso não seja combinado entre os pais. Saber a hora a que a criança de deita na outra casa através dela, é má ideia.
O mais importante é cada pai ou ex-casal encontrar as suas próprias estratégias e dar prioridade, sempre, ao bem-estar da criança.