Isadora Freitas
Isadora Freitas
22 Dez, 2017 - 08:09

Postais do Camboja: de cabelos ao vento numa mota

Isadora Freitas

Esta semana, pus-me a explorar, de mota, outros cantos de Siem Reap. A cidade, essa, está mais viva do que nunca, repleta de pessoas e idiomas distintos.

Postais do Camboja: de cabelos ao vento numa mota

Querida P.,

espero que este postal te encontre bem na cidade que tanto merece o seu nome – Porto.

Esta semana, enchi-me de coragem e fiz-me ao desafio de conduzir uma mota nesta cidade onde as regras de trânsito pouco ou nada importam. A escola de costura onde dou aulas de Inglês fica fora da cidade e, por isso, tenho passado as tardes de cabelos ao vento numa pequena Honda por entre campos e campos sem fim e estradas de terra batida em que, por vezes, me sinto a voar.

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Traz uma liberdade diferente, a mota. Nunca me imaginei capaz de conduzir uma por aqui mas a verdade é que depressa ganhei uma vontade imensa de me fazer à estrada com ela.

Tenho aproveitado para explorar lugares mais remotos de Siem Reap, como os pequenos cafés à beira-rio onde não se ouve nada que não o nosso próprio respirar. Um sítio para lá dos campos de flores de lótus onde há camas de rede, cafés gelados e pouco mais.

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Domingo, fui a uma aula de meditação na Blue Indigo Yoga Cottage, um espaço em que muitos fazem retiros e onde, quem por aqui vive, pode ir esporadicamente pela quantia de 5 ou 6 dólares por aula.

Esperei, sentada no jardim, pelas nove badaladas, embalada pelo silêncio e pela decoração em tudo fascinante e passei uma hora a afugentar todos os pensamentos que me assolavam a cada segundo.

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Rumei, depois, ao Peace Café, para uma aula de Khmer, a língua que teima em não se entranhar em mim. Com mais de trinta consoantes e vinte vogais, é um idioma algo desafiante. Não peço muito, porém: quero apenas poder dizer mais do que um tímido ‘Sues-Day (olá) e ‘aw-koon’ (obrigada).

Na companhia de uma australiana e uma inglesa, lá batalhei até conseguir pronunciar outras frases básicas, como ‘Sok-Sabay’ (como estás?) e ‘k’nyom ch’moo-ah Isa’ (o meu nome é Isa).

Lá, nesse café que serve comida vegan e onde o comércio justo tem um cantinho à medida, encontrei uma árvore de Natal. É estranho. Tenho-me esquecido que já é Dezembro e que a época de mil enfeites bate à porta. Os 32ºC que marca o termómetro parecem querer dizer que é Verão. Que não há meses ou outras estações que não esta de sol e calor.

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Agora que as chuvas pararam, a época alta do turismo chegou a Siem Reap. A cidade está mais viva do que nunca. As ruas estão cheias de turistas de chapéus e óculos de sol e os bares da Pub Street preenchidos de todos os idiomas.

Gosto de andar de bicicleta por entre a confusão e absorver todo este burburinho. Faz-me pensar que o Mundo é mais pequeno do que parece. Faz-me sentir mais perto do ninho, também.

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Ah, P., como gostava de te levar, de mota, até uma montanha não muito longe que poderia ser o nosso Jardim do Morro no Camboja. Ou, simplesmente, ver-te fazer expressões engraçadas quando perto de uma banca de espetadas de insectos (suculentos, segundo dizem).

Não podendo, digo-te apenas que tenho Saudades tuas e que espero mil aventuras para quando regressar.

Até já, de coração cheio.

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