O declínio do Facebook parece estar traçado no mercado norte americano, o mais rentável e lucrativo da empresa. Desde 2017 até 2019, a rede social perdeu cerca de 15 milhões de utilizadores, sendo essa quebra mais significativa junto dos adolescentes (12-19 anos) e da chamada geração millennials (até aos 34 anos).
Embora o Facebook apresente números globais que testemunham o continuo crescimento da plataforma no resto do globo, os dados recolhidos pela americana Edison Research parecem apontar para um decréscimo forte dos seus utilizadores nos Estados Unidos.
Em Portugal, por exemplo, esta tendência ainda não se verifica já que, de acordo com números divulgados numa entrevista deste ano concedida ao DN Insider por Irene Caño, a CEO do Facebook para a Península Ibérica, houve um crescimento de 33% em 2018 e já somos 6,2 milhões de utilizadores.
O declínio do Facebook: onde estão os seus utilizadores?
Uma das tendências que já é bem visível nos Estados Unidos, e que só agora o mercado português começa a evidenciar, é a mudança dos utilizadores mais jovens para o Instagram, o Snapchat ou o WhatsApp.
Cada vez mais estas plataformas parecem ser as preferidas dos mais jovens e satisfazer melhor as suas necessidades de comunicação online. Embora os estudos feitos não avancem com indicadores concretos para justificar esta mudança, os analistas apontam três grandes tendências que podem estar na sua base.
1. Quebra de confiança no Facebook
Esta tendência tem a ver com o facto de os últimos escândalos associados às quebras de segurança nos dados dos utilizadores desta rede causarem igualmente uma quebra na sua confiança na plataforma. Isto seria particularmente verdade junto da geração millennials, uma geração conhecida por estar mais informada e sensibilizada sobre os seus direitos à privacidade e para a salvaguarda da sua informação pessoal.
Migrar para plataformas que exigem menos dados pessoais aos seus utilizadores e que registam menos as suas movimentações e cliques, pode ter sido a sua opção. Sendo assim, o declínio do Facebook estaria directamente relacionado com a falta de empenho que a empresa demonstra em criar uma política mais eficaz de protecção de dados.
2. Facebook atrai utilizadores mais velhos
A outra explicação, que poderá ser uma justificação para o grupo dos adolescentes, tem a ver com o facto do Facebook parecer continuar a crescer junto de utilizadores com idades acima dos 40 e 50 anos.
Ainda que estes números de crescimento não compensem as quebras no número de utilizadores mais jovens, que continuam a ser uma fatia muito maior, podem ser suficientes para tornar a plataforma pouco “cool” e pouco na moda para os mais jovens, que não querem estar onde estão os seus pais, tios e avós.
3. Anúncios e fake news prejudicam o Facebook
Mas para os analistas, o grande culpado desta quebra de utilizadores é mesmo o conteúdo da rede social que tem vindo a ficar cada vez mais “tóxico”.
A culpa é da inundação de anúncios publicitários que ninguém quer ver, dos conteúdos cada vez mais selecionados apenas para gerar cliques, das fake news e da desinformação crescente.
Já nada parece ser igual neste Facebook cujos algoritmos parecem prender os seus utilizadores em conteúdos que podem ser os preferidos de milhões, mas que reduzem muito os temas e os posts que antigamente conseguiam ver.
A rede social mais famosa do mundo parece estar assim a caminhar para uma morte anunciada, uma vez que a tendência do mercado norte americano pode estar já a chegar aos outros mercados.
Que futuro para o Facebook?
Numa tentativa de travar a fuga de utilizadores do Facebook, ainda foram adoptadas algumas das características do Instagram e de outras plataformas, mas mesmo assim tudo indica que a rede não irá vencer esta competição com os produtos da mesma empresa e que o próprio Facebook ajudou a criar. E a certeza chegou-nos no início deste ano com a confirmação, por parte de Mark Zuckerberg, de que está mesmo a ponderar integrar o Facebook Messenger, o WhatsApp e o Instagram num só produto.
Apesar desta intenção ainda estar numa fase muito prematura, as recentes demissões de dois CEOs ligados a estes produtos, parecem apontar para o rumor de que essa integração poderá ocorrer já no início do próximo ano.
Estes rumores já fizeram estalar de novo a polémica em torno das questões da segurança. Tendo o Facebook um historial de fugas de informação sobre os dados dos seus utilizadores, o desafio será integrar estas três plataformas sem que os dados pessoais corram o risco de ser de novo divulgados. Vamos aguardar para ver se o Facebook vai mesmo desaparecer ou apenas “renascer das cinzas”.