Quem acompanha os meus artigos no E-Konomista já se apercebeu do meu fascínio pelas road trips intermináveis. Partir de carro sem destino definido é, para mim, algo de mágico. Não só porque não sou grande fã de planear a minha vida com muito tempo de antecedência (o que me atrapalha muito na hora de reservar voos), mas também porque me permite encontrar lugares que não vêm nos guias. Que ainda estão por descobrir por todos os bloggers de viagens. Que são únicos e conservam, ainda, o genuíno que se vai perdendo nas grandes cidades cosmopolitas onde tudo acontece tão depressa. A descoberta das pequenas povoações é, de facto, um encanto.
A descoberta das pequenas povoações: “é mais fácil sorrir”
É nas pequenas comunidades que conseguimos conhecer as pessoas locais e acompanhar mais de perto o seu dia a dia. O ritmo é mais lento e descontraído, as pessoas cumprimentam-se calorosamente nas ruas. E reparam mais em nós, vêm ter connosco. Perguntam se podem ajudar. Não quer dizer que tudo isto seja impossível de encontrar numa grande cidade. Mas, quanto mais pequena é a povoação, mais sentimos que fazemos parte dela porque a nossa presença é notada e pode alterar o seu ritmo.
Numa pequena cidade, vila ou aldeia (seja em que parte do mundo estivermos) é mais fácil sorrirmos para alguém e ter um sorriso de volta. É quase certo podermos ir ao mercado de vegetais, fruta e peixe fazer compras e iniciar uma conversa acerca de… qualquer assunto. Coisas que importam mesmo para aprendermos e mudar o que é a nossa vivência no nosso próprio país, mostrando as pequenas diferenças que fazem do mundo um lugar tão deliciosamente rico. Mas também “aquelas coisas” que revelam como, afinal, não somos assim tão diferentes de pessoas que vivem a milhares de quilómetros, adoram outros deuses, comem outras comidas, têm outra cor de pele.
Em pequenas mas encantadoras vilas e aldeias onde o turismo não tem expressão, a única forma de podermos pernoitar é, por vezes, ficar num quarto de uma casa onde também o nosso senhorio mora. O que é uma oportunidade fantástica para fazer um amigo que nos dará conta dos mais deliciosos detalhes do que é morar… lá. Muitas vezes até poderá ser o nosso guia privado na descoberta do que lhe é verdadeiramente familiar.
As tradições (sobre)vivem nas pequenas povoações
As tradições ainda estão bem vivas quando poucas pessoas vivem juntas. Elas juntam-se mais ao final do dia para contar histórias do antigamente e reavivar antigas tradições. Em alguns dias especiais, muitas usam as vestes tradicionais. Os mercados são coloridos e servem como mais um ponto de encontro. As canções dos antepassados surgem naturalmente e convidam ao coro espontâneo, especialmente quando acompanhadas por um copo.
Algumas destas povoações, com o tempo, chegam mesmo a transformar-se em comunidades onde se desenvolvem atividades preciosas como a criação de artesanato ou qualquer outra arte ou ofício, assim como a criação de um determinado animal ou planta. Imagine-se a dar um passeio a cavalo, a tentar replicar o trabalho de um oleiro ou a ajudar os pescadores a puxar as redes cheias de peixe.
Muito provavelmente, viver num lugar pequeno faz com que as pessoas sejam mais felizes e mais atentas às coisas simples e importantes na vida, às relações,… E isto influencia-nos enquanto viajantes e, certamente, enquanto seres humanos. A forma relaxada como o passar do tempo é encarado torna-se, sem dúvida, contagiante. De repente, numa conversa que surgiu do nada, estamos não só a absorver as histórias pessoais e da mitologia local, mas também a responder a milhentas perguntas sobre a nossa família ou o lugar onde vivemos. O valor destas interações é incalculável! É assim que se fazem amigos para a vida. Hoje em dia, com o acesso generalizado às redes sociais, podemos passar a ter conversas regulares online com os nossos novos amigos depois de voltarmos a casa.
Viver mais a natureza
Este tipo de lugares são também perfeitos para estarmos mais perto da natureza. Alguns estão praticamente perdidos na montanha, no meio da planície ou num ponto remoto da costa. Em muitos deles é possível andar livremente pelas ruas praticamente sem trânsito. Na Islândia, por exemplo, existem comunidades costeiras com cerca de cem ou duzentos habitantes. De certeza que vão reparar em nós!
O que nos atrai nestas minúsculas povoações para além do ar puro e das paisagens? Talvez as ruas desertas momentaneamente ou os pequenos cafés e lojas onde se entra sem propósito de comprar, mas de, simplesmente, dar os “bons-dias”. Talvez as flores penduradas na janela ou as crianças a brincar alegremente. Ou ainda, quem sabe, os excelentes produtos que resultam do trabalho das gentes orgulhosamente dedicadas aos seus ofícios – como queijo, mel, enchidos, vegetais, artesanato, etc.
Mas, também há cidades maiores de interior (ou em lugares isolados na costa) com dez, vinte, trinta mil habitantes onde ainda se consegue sentir uma autenticidade contrastante com as capitais e as grandes cidades do litoral. Até mesmo quando algumas foram distinguidas com o galardão de património mundial pela UNESCO, o que se traduz numa superior procura turística. Esta distinção significa que as suas características distintivas serão preservadas pelo poder local, atrasando a globalização nos centros históricos – pelo menos, a nível arquitetónico. Na época baixa, ainda é possível percorrer as estreitas ruas, despreocupadamente e a um ritmo extra lento, sem arriscarmos dar de caras com um grupo enorme de turistas em excursão.
Partir à descoberta das pequenas povoações
Da próxima vez que planear uma viagem que começa com um voo para uma grande cidade, faça também uma reserva de carro para alugar durante alguns dias. Parta à descoberta com alguns pontos de referência no itinerário que traçar, mas não calcule o tempo ao minuto. Use as estradas mais rurais ou faça o caminho mais longo. Siga uma tabuleta cujo nome lhe despertou a curiosidade. Dê oportunidade ao acaso e altere os seus planos depois de receber uma incrível sugestão de um habitante local que conheceu na rua.
Quantas aldeias estão ainda por explorar na sua própria região? Pegue no carro já no próximo fim de semana e leve a família por estradas desconhecidas. O nosso país é incrível para este tipo de incursões e a simpatia do nosso povo torna-as inesquecíveis.
Seja onde for, o encanto da descoberta das pequenas povoações, esteja ou não previamente desenhado no mapa que levamos connosco, faz-nos ver as pequenas e grandes viagens de uma nova forma. Porque a vida também se faz muito de encontros inesperados.
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