A Euribor continua a subir sem parar.Já ultrapassou os 3% e não há sinal de grande abrandamento. Isso vai ser uma tragédia sobretudo para as famílias que fizeram créditos no ano passado ou nos últimos 4 ou 5 anos, quando a Euribor estava negativa e as prestações eram baixíssimas. Muitos pensaram que aqueles valores iam durar para sempre. Puro engano.
Em primeiro lugar, deve compreender que – por muito que lhe custe ler isto – os valores que tem ou que vai ter nos próximos meses é que são os valores “normais”. A Euribor costuma andar à volta dos 2%. Portanto, bastou regressarmos à “normalidade”, embora por maus motivos (guerra e inflação), para nos apercebermos que muitas famílias não previram uma subida tão rápida e agora vão precisar de ajuda.
Uma das “ajudas” que o Governo aprovou (falta promulgar e publicar em Diário da República) foi obrigar todos os bancos a apresentar uma proposta aos clientes que faça baixar a prestação sempre que a taxa de esforço for igual ou superior a 36%.
O que é a taxa de esforço?
A fórmula é simples: basta dividir a soma de todos os seus créditos (mesmo que de outros bancos e cartões de crédito) pelos rendimentos líquidos da sua família (excluindo o subsídio de alimentação). O valor que der é a sua taxa de esforço. O ideal é ser sempre inferior a 35% para ter margem de manobra em caso de subidas como esta.
O problema é que, com a inflação, tudo aumentou ao mesmo tempo. O dinheiro que deveria sobrar para acomodar o aumento da prestação da casa está, também ele, a ser desviado para os outros aumentos. Infelizmente é o que se chama a “tempestade perfeita”.
Assim, já sabe que deve esperar um contacto do seu banco se a sua taxa de esforço ultrapassar os 36%.
Só para ter uma ideia se vai ser abrangido ou não, no caso de um casal em que os dois ganham 1.000 euros líquidos, a taxa de esforço só atinge os 36% se a prestação chegar a 720 euros. Se não atingir esse valor, o banco ainda não será obrigado a renegociar consigo.
Tome a iniciativa
Se está em dificuldades, o ideal é ser você e não o banco a tomar a iniciativa de renegociar. Não se esqueça de um detalhe muito importante: se o banco sugerir um aumento do prazo ou uma consolidação de créditos ou um crédito novo, isso pode ser considerado uma reestruturação. Isso implica ficar “marcado” no Banco de Portugal como um cliente de risco, o que pode implicar dificuldades futuras se precisar de outros créditos.
O ideal é baixar o spread, mas mantendo o prazo, ou simplesmente transferir o crédito para outro banco com melhores condições (isso não o prejudica junto do Banco de Portugal).
Atenção a uma proposta que alguns bancos estão a fazer: fixa agora o valor da euribor durante 4 ou 5 anos e depois o valor da diferença no final do período acrescenta ao valor em dívida até ao final do contrato. Isso pode ser uma boa proposta para os mais aflitos. Não vão poupar rigorosamente nada, mas bloqueiam os aumentos dos próximos dois anos. Pode ser uma solução.
Um último alerta
Você não é obrigado a aceitar a proposta do banco, mas em nenhuma circunstância falhe um único pagamento que seja. Se para evitar essa situação tiver de aceitar uma proposta menos boa, aceite. É o que podemos chamar de “mal menor”. Mas apresente também alternativas. Negoceia. Insista. Procure soluções intermédias (diferimento de capital, carência de capital, aumento do prazo, refinanciamento, baixar o spread aceitando produtos ou serviços de que precisa, etc…). Os bancos também não têm nenhum interesse em que um cliente falhe um pagamento. Isso é mau para eles.
Estou convencido de que muitas pessoas ainda acreditam que haverá medidas que façam com que voltem às prestações antigas. Isso não vai acontecer. Quando muito, a prestação descerá um pouco em relação ao que pagam atualmente ou ao que vão pagar a partir da próxima revisão. Temos de ser realistas. Os tempos de prestações baixas acabaram.
Refaça o seu orçamento mensal a contar com isso. Até a inflação começar a baixar, vão ser tempos difíceis.