Share the post "Diabolique: uma explosão de velocidade nos ralis nacionais"
Esta história arranca em 1978, fruto do empreendedorismo de Miguel Oliveira, que decidiu patrocinar as suas equipas com o conhecido nome de perfumes Diabolique.
Se ainda existisse, a Diabolique Motosport, equipa privada nacional de maior sucesso nos ralis, cumpriria este ano 45 anos. Nos anos 70 e 80 do século passado, o nome da equipa Diabolique fazia-se ouvir alto, e bom som, nos ralis que percorriam Portugal.
A equipa acabou por extinguir-se há cerca de 34 anos. Durou pouco mais de 10 anos mágicos que deixaram uma marca profunda na história dos ralis em Portugal.
O piloto Joaquim Santos e o seu navegador Miguel de Oliveira, a par do também piloto Rafael Cid, eram os nomes bandeira da Diabolique. Esta nasceu fruto da visão e da faceta de empreendedor de Miguel de Oliveira, um apaixonado pelos automóveis.
Diabolique responsável pela formação de pilotos
A equipa Diabolique Motorsport encerra em si própria um dos capítulos mais importantes do Campeonato Nacional de Ralis.
Além de diversas vezes ter vencido o título de campeã nacional, despertava uma curiosidade natural entre os fãs dos ralis. Para além disso, reuniu nomes que ainda hoje são referência nacional como:
- Miguel Oliveira, o seu fundador, que participou no 1.º Rali de Portugal ao volante de um Mini Cooper S;
- Joaquim Bessa, que foi diretor desportivo da equipa;
- José Leite, responsável pela equipa de mecânicos;
- Joaquim Santos e Rafael Cid (pilotos);
- Irino Pereira ou Artur Bastos (ambos mecânicos).
Numa época em que os ralis atraiam muitos entusiastas, a equipa portuguesa desempenhou importante papel na formação de pilotos em várias categorias.
De entre as iniciativas que promoveu destacou-se o concurso para captação de pilotos que se intitulava “Onde Está o Ás?” (1984). Esta iniciativa pretendia estimular a Fórmula Ford em Portugal.
Os carros Diabolique: vermelho, branco e dourado
Máquinas como os ruidosos Ford RS 1800, 2000 ou como os potentes e endiabrados Ford RS 200 e Ford Sierra Cosworth 4×4 pintados nas cores vermelho, branco e dourado (as cores da Diabolique) atraíam milhares de fãs aos troços de ralis.
Nomes maiores dos ralis como Marku Allen, Hannu Mikkola, Stig Blomqvist, Michèle Mouton, Per Eklund ou Walter Röhrl atraiam muitos espetadores aos ralis, nomeadamente ao Rali de Portugal.
Mas a dupla Joaquim Santos/Miguel Oliveira da Diabolique e o Ford RS 200, um dos carros utilizados pela equipa portuguesa de ralis, eram como um íman.
O troar da máquina e o estilo de condução de Joaquim Santos, mestre em fazer escorregar a traseira dos Ford RS 1800 ou do RS 200, eram, por si só, motivo de atração.
O estilo de condução de Joaquim Santos era identificado pela forma decidida com que abordava as curvas e pela elegância como a traseira do carro deslizava até o projetar de novo para uma reta. Sempre com o regime do motor em alta a evoluir entre aceleração e rateres. Um deleite visual e musical.
1986: o “ano horribilis”
O Ford RS 200 era infernal. Construído em Inglaterra, em 1986, apresentava-se em prova com motor de 1.800 cc a debitar 400 cv; caixa manual de 5 velocidades e com apenas 1.050 kg.
Esta máquina estreia no Campeonato do Mundo de Ralis em 1986 (Rali da Suécia).
Em Portugal, o Ford RS 200 foi utilizado pela Diabolique Motorsport durante a época de 1986. Nesta temporada, a equipa portuguesa consegue cinco vitórias no campeonato, mas acaba por não conseguir o título.
O ano de 1986 acabaria também por ser o “ano horribilis” da equipa. No Rali de Portugal, no troço da Lagoa Azul (Sintra), apinhado de público, o piloto Joaquim Santos, com Miguel Oliveira, despista-se no Ford RS 200 à entrada de uma curva. Provocou três mortos e três dezenas de feridos.
Este acidente, como outros que aconteceram noutras latitudes, acabou por ditar o fim do Grupo B e dos designados supercarros no Mundial de Ralis.
Recorde-se que o acidente que deu a machadada final no Grupo B foi o de Henri Toivonen e Sergio Cresto, no Rali da Córsega (1986), que vitimou o piloto finlandês.
Europeu de Ralis: Antonio Zanini e a Diabolique
Das muitas histórias que se podem contar sobre a equipa de ralis portuguesa pode-se destacar a que envolveu o título de campeão europeu de ralis a Antonio Zanini.
A temporada de 1980 foi a 28.ª edição do Campeonato Europeu de Ralis. Começou a 11 de janeiro, no Rali Jänner, e terminou a 23 de novembro no Rali da Catalunha.
O calendário integrou 46 provas, realizadas em diferentes países, e em diferentes superfícies, que alternavam entre provas em neve e gelo, asfalto, gravilha ou mista.
O vencedor foi o espanhol Antonio Zanini, que participou num total de doze provas e obteve sete vitórias: Costa Brava, Bulgária, Polónia, Halkidikis, RACE, Algarve e Catalunha.
Em todo o percurso Antonio Zanini só teve um abandono devido a avaria, tendo disputado todas as provas ao volante de um Porsche 911 SC, exceto na prova algarvia onde conduziu um Ford RS 1800 MKII.
Mas não foi um Ford RS 1800 MKII qualquer. Foi um dos carros de ralis da Diabolique Motorsport, emprestado por Miguel Oliveira e que ditou a notas ao espanhol.
O co-piloto português e a Diabolique ajudaram, assim, o espanhol a vencer o título europeu de ralis, tendo subido aos outros lugares do pódio a dupla Santinho Mendes/Filipe Lopes, em Datsun 160 J (2.º lugar), que averbaram o título nacional; e Mário Silva/Pedro de Almeida (Ford Escort RS 1800), em 3.º lugar.
Uma equipa de sucesso e de referência é o que se pode dizer da Diabolique, que durante 10 anos de intensa atividade foi a primeira em 39 provas. A dupla Joaquim Santos/Miguel Oliveira comemorou por três vezes o título de Campeão Nacional de Ralis (1982, 1983 e 1984).