São os verdadeiros doces de paragem obrigatória. Daqueles que nos levam a fazer um desvio na estrada nacional ou sair da auto-estrada de propósito.
Alguns são autênticas bombas calóricas, outros são especialidades únicas que não se encontram em mais lado algum. E não é nada fácil resistir-lhes.
É que manter uma dieta equilibrada é importante para corpo e mente. Contudo, permitir-se a algumas gulodices, principalmente as tradicionais e recheadas de história, também é uma prática salutar e que deve prezar.
Portanto, não nos responsabilizamos pela quantidade de calorias dos próximos parágrafos, mas garantimos que todos se tratam de produtos de fabrico português, com muita história à mistura e sempre confecionados com as melhores matérias-primas.
Doces de paragem obrigatória e deliciosos
Ora vamos lá navegar por um roteiro gastronómico de doçaria que vai deixar muita água na boca. Sim, há muitos outros doces que podiam estar nesta lista, mas lá chegaremos.
Jesuítas de Santo Tirso
Folhados e estaladiços, os jesuítas são, sem dúvida, um dos doces mais apreciados pelos fãs de gulodices. Há quem relacione o seu nome à Companhia de Jesus e aos seus monges (jesuítas), cujas capas se assemelham à cobertura destes famosos pastéis.
Certo é que a história dos jesuítas de Santo Tirso se confunde com a história da Confeitaria Moura. Crê-se que terá sido um pasteleiro espanhol que trabalhava nessa confeitaria a introduzir a receita em Portugal.
Certo é que há mais de 125 anos que a Confeitaria Moura conserva a receita artesanal destes pastéis, a qual se encontra, naturalmente, “guardada a sete chaves”. Caso passe por lá, experimente também outras doces de paragem obrigatória, como limonetes, tirsenses e pivetes.
Se gosta de massa folhada, açúcar e doces de cobertura crocante, então os jesuítas de Santo Tirso são ideais para si. E a melhor notícia é que se não se puder deslocar até lá, a Confeitaria Moura já tem lojas na cidade do Porto.
Pão de ló de Margaride
Foi já no início do século XVIII que o fabrico deste pão de ló começou e nunca mais parou até aos dias de hoje, passando a receita (e os segredos) de geração em geração. O sucesso deste bolo foi crescente e, em 1888, valeu a atribuição a esta Casa da designação de Fornecedora da Casa Real Portuguesa.
Atualmente, o fabrico continua a ser o mais artesanal possível e a garantir o uso das melhores matérias-primas. Passe pela Fábrica de Pão de Ló de Margaride, compre o seu pão de ló e aproveite, ainda, para ficar a conhecer o espaço, belíssimo e cheio de história destes doces de paragem obrigatória.
Ovos moles de Aveiro
Ir a Aveiro e não comer ovos moles é como ir a Roma e não ver o Papa.
De origem conventual, conta-se que na génese desta receita mui doce está a história de uma freira do Convento de Jesus que quebrou o jejum forçado em que estava, misturando ovos com grandes quantidades de açúcar.
Ao ser apanhada a quebrar o jejum, a freira terá escondido apressadamente a mistura em hóstias. Quando no Convento encontraram tão deliciosa mistura, julgaram tratar-se de um milagre. Assim terá nascido a ainda hoje famosa receita dos ovos moles de Aveiro e um dos doces de paragem obrigatória em Portugal.
Apesar de em Aveiro, serem várias as empresas a dedicarem-se ao seu fabrico, a Casa Maria da Apresentação da Cruz, Herdeiros, é das mais antigas, a funcionar desde 1882. Aqui, os tachos ainda são de cobre, o processo é todo manual e o ponto de açúcar certo é obtido com mestria e rigor. Passe por lá e fique a saber mais sobre a doçaria regional de Aveiro.
Bolas de Berlim de Viana do Castelo
Se lhe falarmos em bolas de Berlim de Viana do Castelo, talvez não saiba a que é que nos referimos. Mas se lhe dissermos bolas de Berlim do Natário, talvez já tenha uma ideia daquilo que se trata.
Embora esta não seja uma receita de origem portuguesa, a verdade é que para muitos estas são as melhores bolas de Berlim de todo o mundo, derrotando mesmo as congéneres alemãs. Atraem milhares e milhares de gulosos e já foram notícia (imagine-se!) no The Guardian. Sim, esse mesmo. O conceituado jornal britânico.
O que as torna diferentes de todas as outras? Bem, o melhor mesmo é ir até Viana, encarar com ânimo a fila que possa encontrar pela frente e acreditar que no momento em que der a primeira dentada nestas bolas de Berlim irá perceber a sua fama à escala mundial.
Mas, se por alguma razão estranha ou desconhecida, não é fã de bolas de Berlim, descanse, porque na confeitaria do Zé Natário há também uns deliciosos manjericos de Viana, uns sidónios e uns fidalguinhos que vale a pena provar.
Éclairs da Leitaria da Quinta do Paço
Quem chega ao Porto a suspirar por doces de paragem obrigatória, mas sem o célebre Ambrósio para ajudar, o mais provável é que o encaminhem para a Leitaria da Quinta do Paço, casa dos afamados éclairs que constituem uma justa e demoníaca tentação.
Com uma história que remonta a 1920, dedicando-se então à produção de manteiga, queijo, leite e chantilly, a Leitaria da Quinta do Paço transformou-se num verdadeiro ex-libris da Invicta. Aliás, o chantilly depressa ganhou uma fama sem precedentes.
Vendido ao balcão, em saquinhos de papel encerado, protagonizou nos anos cinquenta aquilo que viria a ser o ex-líbris da marca, o éclair com cobertura de chocolate.
Por isso, esqueça a dieta por uns momentos e se estiver nas imediações delicie-se com um dos muitos éclairs ali servidos. Já agora fique a saber que já há várias leitarias espalhadas pelo país. Veja onde.
Queijadas de Sintra
Consta que são uma perdição. A sua origem perde-se na época medieval onde servia como forma de pagamento, uma vez que Sintra possuía excelentes pastagens e excesso de queijo fresco, sendo este usado para o fabrico deste doce. Está pronto para uma descrição mais completa e, digamos, açucarada?
Ora bem, as Queijadas de Sintra são umas pequenas tartes feitas com queijo fresco, açúcar, ovos, farinha e um pouco de canela. Tudo isto é envolvido numa massa crocante e estaladiça.
São tão famosas que até serviram de remate a um dos capítulos de Os Maias, de Eça de Queiroz, quando Crugges berra desesperado depois de uma ida a Sinta: “Raios, esqueceram-me as queijadas!” Não cometa o mesmo erro.