Face à pandemia da COVID-19, foram várias as empresas que colocaram os seus trabalhadores em trabalho remoto. Se para alguns a adaptação foi fácil, para outros as dificuldades do teletrabalho representam um grande desafio.
Ainda que publicado em 2017, antes do novo coronavírus, o relatório “Working anytime, anywhere: The effects on the world of work” da European Foundation for the Improvement of Living and Working divulgou que, embora os colaboradores sejam mais produtivos quando trabalham fora do escritório convencional, são também mais vulneráveis a trabalhar mais horas e com um ritmo de trabalho mais intenso, acrescentando, assim, um maior stress e interferência no equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Ainda em 2020, a Worx, empresa de consultores imobiliários, com o objetivo de compreender o impacto da COVID-19 no mercado dos escritórios, inquiriu 100 empresas de vários sectores, desde a construção e imobiliário, serviços a empresas, consultores e advogados, entre outros.
Este questionário revelou que 60% dos colaboradores destas empresas estão em teletrabalho e, a maioria das empresas, afirma conseguir manter a produtividade.
Segundo este inquérito, os problemas reportados mais frequentemente foram: Problemas com equipamento/ Net (19,3%), Partilha informação (15,1%), Sinergias (13,4%), Dificuldade de concentração (11,8%), Não gosta de trabalhar em casa (10,9%), Falta de motivação (8,4%), Dificuldade em organizar-se (8,4%), Aplicativos (6,7%), outros (5,9%).
Como podemos ver, ainda que, por si só, não tenham a percentagem maior, quatro das dificuldades do teletrabalho apontadas estão relacionadas diretamente com as caraterísticas individuais do trabalhador.
Contornar as dificuldades do teletrabalho
Isolamento, trabalhar em excesso, dificuldade em priorizar tarefas, interrupções, dificuldades em comunicar com a restante equipa, maior tendência para hábitos menos saudáveis são alguns dos desafios de trabalhar remotamente.
No início da pandemia, em 2020, a Ordem do Psicólogos, tendo em conta o esbater dos limites entre a vida profissional e pessoal/familiar, que contribuem para o bem-estar e saúde psicológica, e as consequentes dificuldades do teletrabalho, publicou uma série de recomendações para ajudar na adaptação a esta nova realidade do mundo laboral.
Recomendações para quem está em teletrabalho
- Reconheça as dificuldades de adaptação ao regime de teletrabalho.
- Saiba que é natural sentir-se stressado, cansado, frustrado e sobrecarregado.
- Aceite e compreenda que a produtividade em regime de teletrabalho não é igual à produtividade em regime presencial.
- Defina o seu espaço de trabalho.
- Respeite as regras da ergonomia.
- Tente minimizar as distrações e interrupções.
- Estabeleça e cumpra objetivos e limites.
- Planeie um ritual simples para começar e terminar o seu dia de trabalho.
- Reorganize as suas tarefas.
- Respeite os momentos de pausa e a necessidade de autocuidado.
- Valorize o trabalho em equipa.
- Não se isole, reforce o contacto com colegas.
- Valorize o seu trabalho.
- Movimente-se, faça exercício físico e uma alimentação saudável.
Igualdade de tratamento de trabalhador em regime de teletrabalho
Como já percebemos, o teletrabalho é um desafio ao equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. O trabalhador sente uma maior pressão para ser mais produtivo e estar sempre em alerta. Esta pressão nem sempre vem do empregador, sendo, por vezes, infligida pelo próprio colaborador que sente que tem de provar que é capaz de trabalhar remotamente de forma eficaz.
Outra das dificuldades do teletrabalho é a falta de fronteira física, e mental, entre casa e trabalho, ultrapassando-se assim, facilmente, o tempo normal de trabalho, deixando de fora os momentos que devem ser de descanso e potenciando o surgimento do síndrome de burnout .
No entanto, é necessário lembrar o artigo 169.º do Código do Trabalho, sobre a igualdade de tratamento de trabalhador em regime de teletrabalho, onde podemos ler que
“o trabalhador em regime de teletrabalho tem os mesmos direitos e deveres dos demais trabalhadores, nomeadamente no que se refere a formação e promoção ou carreira profissionais, limites do período normal de trabalho e outras condições de trabalho, segurança e saúde no trabalho e reparação de danos emergentes de acidente de trabalho ou doença profissional”.
Teletrabalho como tendência do futuro
O teletrabalho veio para ficar e podemos falar em tendência para o futuro. Várias empresas já referiram publicamente que o teletrabalho não afetou a produtividade e pode mesmo ter intensificado a comunicação interna.
No questionário da Worx, quando inquiridos sobre se o teletrabalho pode ser uma tendência futura, 86,4% dos colaboradores das 100 empresas disseram que sim.
Ainda que possa ser visto como uma tendência futura, há trabalhadores que se deparam com as dificuldades do teletrabalho. A adaptação ao trabalho remoto é, naturalmente, desafiante e que requer, de empregadores e trabalhadores, disciplina e limites estabelecidos para que seja possível encontrar, nesta nova realidade, o ponto de equilíbrio entre o bem-estar pessoal e o bem-estar profissional e empresarial.
ILO–Eurofound – Working anytime, anywhere: The effects on the world of work
WORX – ESCRITÓRIOS: IMPACTO DO COVID-19
Ordem dos Psicólogos – COVID-19: Recomendações para quem está em teletrabalho