Share the post "Discos de vinil: o regresso triunfal dos velhinhos 33 rotações"
Ouvir discos de vinil transforma a música numa atividade em si mesma e não apenas em música de fundo.
Existe algo de mágico e romântico no ato de retirar um disco de vinil brilhante da capa que o protege.
Na forma como podemos admirar o encarte e o design dessa capa enquanto a agulha pousa na superfície plana e negra.
Não só o som é diferente do que sai de um computador, de um telemóvel ou de outro qualquer dispositivo eletrónico, como toda a experiência que proporciona é algo que nenhum arquivo digital dos dias de hoje consegue replicar.
Discos de vinil: uma história feita de resiliência
Os discos de vinil, como hoje os conhecemos, foram criados na década de 40 do século passado quando um novo material plástico, com o mesmo nome do disco, começou a ser utilizado para substituir a goma-laca então utilizada para fabricar os discos fonográficos.
O disco plano e giratório que obriga uma agulha a percorrer as ranhuras da gravação, fora inventado nos EUA em 1887 pelo alemão Emile Berliner, que também criou o Gramofone, mas até ao aparecimento deste material plástico as capacidades desses discos eram bastante limitadas e o som muito imperfeito.
Foi só em 1948, quando surgiu o formato LP (long play), um disco com 12 polegadas de diâmetro e que garantia 45 minutos de música gravada dos dois lados, é que os novos discos de vinil começaram a ganhar popularidade e maior qualidade. À velocidade de 33 rotações por minuto do LP, vieram juntar-se as 45 rotações por minuto do EP (extended play) logo no ano seguinte. Este disco com um diâmetro de 7 polegadas oferecia 15 minutos de música gravada nos dois lados. Nas décadas seguintes outros formatos surgiram, mas o LP e o EP mantiveram-se como formatos padrão.
Novos suportes
Desde então, os discos de vinil testemunharam o nascimento e morte de vários suportes físicos para a gravação de música como as cassetes, no mundo analógico, os leitores de MP3 ou os CDs, no mundo digital. No mercado da música digital hoje reinam os smartphones e a grande maioria das receitas provém do streaming.
Mas se falarmos da música física, gravada num suporte que se pode comprar e levar para casa, o grande vencedor é o vinil que sobreviveu até ao século XXI para passar a perna a qualquer outro suporte que surgiu depois dele. 2020 foi mesmo o ano em que, pela primeira vez, as vendas de discos de vinil ultrapassaram as vendas dos CDs em diversos países, inclusive em Portugal.
Discos de vinil: quem compra e porquê?
Não são apenas os revivalistas nostálgicos que continuam a comprar álbuns de música em vinil. O interesse e a compra tem crescido entre os jovens da geração millenium que procuram uma experiência muito diferente da obtida com o digital. E a experiência não passa apenas pela música, mas também pelo artefacto propriamente dito.
Um disco e a sua capa são cada vez mais considerados obras de arte, tal como o aparelho onde podem ser escutados. São objetos que ficam bem na decoração das suas casas, que combinam com um consumo lento e mais significativo da música e que também são vistos como um gadget inovador por uma geração que já não tem memória do seu uso.
Aposta de bandas
As bandas que fogem ao mainstream também gravam em vinil apostando nesta cultura paralela, tal como as lojas que vendem, compram e trocam discos de vinil. Em Lisboa e no Porto existem inúmeras lojas deste tipo, que criam um roteiro cultural interessante para fãs de rock, eletrónica, clássica ou indie.
Segundo o relatório anual do mercado discográfico de 2021, a Audiogest registou em Portugal um crescimento de 29,4% em relação a 2020 das vendas de música em suporte físico. Estes valores são superiores aos conseguidos antes da pandemia da Covid-19 e estão claramente concentrados no segmento das vendas de discos de vinil. O revivalismo combinado com o confinamento parece ter sido uma combinação de ouro para manter vivo o interesse pelo vinil por muitos e bons anos.