Miguel Pinto
Miguel Pinto
09 Jul, 2021 - 11:31

Lembra-se das Doce? Está aí o filme que conta toda a história

Miguel Pinto

Chama-se Bem Bom e traz de volta a primeira girlband portuguesa, as Doce. E os grandes êxitos estão lá de todos, de Amanhã de Manhã a É Demais.

Doce

Eram quatro mulheres. Duas morenas, uma ruiva e uma loura. Em conjunto deram corpo e voz às Doce, a primeira girlband portuguesa, cujos êxitos musicais atravessaram gerações e ainda hoje são reconhecidas aos primeiros acordes. Agora, a curta e intensa carreira da banda deu um filme. Chama-se Bem Bom e já estreou.

Com realização de Patrícia Sequeira, o filme é o retrato de um certo Portugal, onde a emancipação feminina era ainda um conceito distante. As Doce romperam barreiras, para o bem e para o mal, e nem as mais arreigadas feministas lhes perdoaram. Mas a verdade é que muitas das músicas das Doce resistiram à erosão do tempo e ainda hoje são sucesso garantido em pistas de dança ou palcos de karaoke.

Doce: um abalo no marasmo

Cartaz do filme das Doce

Corria o ano de 1979 e Portugal continuava a viver na ressaca dos anos de brasa do pós-25 de Abril. Pela primeira e única vez no país, uma mulher, Maria de Lurdes Pintassilgo, assumia o cargo de primeira-ministra, liderando um dos vários governos de iniciativa presidencial. Politicamente foi ainda o ano da vitória eleitoral da Aliança Democrática, de Francisco Sá Carneiro.

Embora soprassem alguns ventos de mudança, Portugal continuava um país conservador e religioso. As Doce vieram abalar os alicerces sociais então vigentes, fruto da ousadia das suas vestimentas, da sexualidade à flor da pele, da afirmação como mulheres capazes de ditar o seu destino. Consta que terá sido numa tarde de chuva, no verão de 1979, que Tozé Brito dá o empurrão definitivo para a formação da primeira girlband nacional.

Escolhem-se as integrantes da banda, criam-se looks e, claro está, uma fiada de sucessos musicais que apanhou de surpresa toda a gente. Ninguém estaria à espera do estrondo comercial que as Doce provocaram, mas a verdade é que temas como “Amanhã de Manhã”, “É Demais”, “Ok Ko”, “Barquinho da Esperança” ou o mítico “Bem Bom” entraram pelas rádios e televisão como fogo em palha seca.

Do dia para noite, Fátima Padinha, Lena Coelho, Teresa Miguel e Laura Diogo, eram elevadas à categoria de sex-symbols. Num país habituado à reverência, aos bons costumes e ao respeitinho, não era feito de somenos. E depois, claro está, os espetáculos que fizeram de norte a sul e que juntaram uma legião de fãs. O país inteiro cantava a plenos pulmões “uma da manhã, hey”. Havia quem as amasse, havia quem as detestasse, mas a verdade é que durante um curto espaço de tempo, ninguém lhes ficou indiferente.

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Boatos e o fim

Como é óbvio, o sucesso tem sempre o reverso da medalha, que pode chegar de várias formas. Os boatos que se espalham como a peste são um dos ossos do ofício. E as Doce não passaram ao lado disso, mais concretamente Laura Diogo. Um alegado envolvimento romântico e sexual com Reinaldo, então jogador do Benfica, teria terminado num hospital. Nem Laura, nem Reinaldo alguma vez se conheceram sequer, mas a “loura” das Doce nunca mais se livrou deste boato, ainda hoje base para piadolas de mau gosto.

O ritmo febril de concertos, as solicitações familiares (Lena Coelho engravidou e saiu da banda por uns tempos), e, claro está, o cansaço de uma vida a 200 à hora, acabariam por ditar o fim das Doce, em 1987. O fim do grupo, porque o seu legado chegou até hoje e ao grande ecrã.

No filme Bem Bom, Carolina Carvalho (Lena Coelho), Bárbara Branco (Fátima Padinha), Lia Carvalho (Teresa Miguel) e Ana Marta Ferreira (Laura Diogo) encarnam as personagens principais de uma história que abalou de forma significativa a música portuguesa na primeira metade dos anos de 1980. Agora no cinema e, brevemente, numa série de televisão.

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