A doença profissional tendinite é uma das mais comuns entre trabalhadores de áreas muito distintas que exigem movimentos repetitivos, durante longos períodos de tempo.
As novas tecnologias otimizam o tempo e o espaço. Porém, o homem fica preso a um processo extremamente repetitivo, longe de ser natural e onde, muitas vezes, não há tempo ou espaço para pausas. Independentemente da profissão, há movimentos que se repetem em demasia e um esforço que vai além do limite.
Reúnem-se, assim, as condições ideias para a tendinite, um dos problemas de saúde mais comuns e incapacitantes da atualidade.
Sendo um problema comum, é também desvalorizado aos primeiros sinais, o que permite que se agrave com o tempo. É importante proceder ao tratamento o mais cedo possível. As dores e o desconforto interferem seriamente não só na capacidade de trabalho, mas na qualidade de vida do doente. Motivo para baixa médica, pode mesmo resultar em incapacidade permanente para o trabalho.
Saiba o que é, as causas, os sintomas, como tratar e como prevenir a doença profissional tendinite.
Doença profissional tendinite: 6 pontos a saber
Tendinite: o que é?
Por definição, a tendinite é uma inflamação de um tendão. Os tendões são cordões fibrosos de tecido resistente que conectam os músculos aos ossos, levando assim ao movimento das articulações.
Alguns tendões são envolvidos por uma bainha. A maioria das tendinites ocorre em indivíduos de meia-idade e em idosos, quando os tendões apresentam maior propensão às lesões.
Entretanto, a doença profissional tendinite também pode ocorrer em indivíduos jovens que se exercitam vigorosamente e em indivíduos que executam tarefas repetitivas. Determinados tendões, especialmente os das mãos, são particularmente propensos à inflamação.
Doença profissional: tendinite
Considera-se doença profissional toda aquela que é contraída pelo trabalhador na sequência de uma exposição a um ou mais fatores de risco presentes na atividade profissional, nas condições de trabalho e/ou nas técnicas usadas durante o trabalho (artigo 94.º da Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro, e artigo 3º do Decreto-Lei n.º 503/99, de 20 de novembro).
No Decreto Regulamentar n.º 76/2007 de 17 de Julho, do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, publicado em Diário da República, onde se apresentam os diversos fatores de risco e respetivas doenças profissionais, o Código 45.02 considera como fatores de risco, os seguintes:
Sobrecarga sobre bainhas tendinosas, tecidos peritendinosos, inserções tendinosas ou musculares, devida ao ritmo dos movimentos, à força aplicada e à posição ou atitude de trabalho. Entre as doenças ou outras manifestações clínicas e caracterização, a lista é encabeçada, precisamente pelas tendinites, seguindo-se as tenossinovites e miotenossinovites crónicas, a periartrite da escápulo-humeral, a condilite, a epicondilite, a epitrocleíte e a estiloidite.
Causas da tendinite
Ainda de acordo com o Decreto-lei anteriormente referido, considera-se uma lista exemplificativa dos trabalhos suscetíveis de provocar a doença, a qual enumera as diversas funções.
Todos os trabalhos que determinem sobrecarga sobre bainhas tendinosas, tecidos peritendinosos, inserções tendinosas ou musculares, como por exemplo:
- trabalhos que exijam movimentos frequentes e rápidos dos membros;
- trabalhos realizados em posições articulares extremas;
- trabalho em regime de cadência imposta;
- trabalhos que exijam simultaneamente repetitividade e aplicação de forças pelos membros superiores;
- martelar, britar pedra, esmerilar, pintar, limar, serrar, polir, desossar, montagem de cablagens.
Todos estes fatores levam a uma alteração do equilíbrio muscular que, por sua vez, leva ao início dos sintomas.
Sintomas da tendinite
Geralmente, os tendões inflamados podem causar dor ao serem movimentados ou palpados. A movimentação das articulações próximas ao tendão, mesmo quando o movimento é de pequena amplitude, pode causar dor intensa.
As bainhas de tendões podem estar visivelmente inchadas em decorrência da acumulação de líquido e da inflamação ou podem secar, produzindo atrito contra os tendões.
Os sintomas de tendinite, podem aparecer de três formas distintas:
- aparecimento de dores ligeiras quando se executam determinados movimentos, como ir buscar um objeto ao banco de trás do carro, colocar o cinto de segurança ou vestir o casaco – estas dores podem, progressivamente, ir-se agravando e começar a surgir dor noturna que impede o sono ou dificulta o adormecer;
- uma dor muito intensa, sem causa aparente, que faz acordar de noite e não tolera nenhuma mobilização;
- conjugação das duas anteriores.
Como tratar a tendinite?
O tratamento da doença profissional tendinite, passa pelo controlo da dor e da inflamação mas, sobretudo, pela recuperação do equilíbrio entre os vários grupos musculares com a ajuda da fisioterapia para evitar que o quadro se repita.
Descanso
Descansar é essencial para pessoas com tendinite. A inflamação precisa de cuidados, mas também do descanso adequado.
Em caso de fazer movimentos repetitivos, por exemplo, é conveniente diminuir a frequência dos mesmos. Se o problema se deve, essencialmente, ao stress, a prática de atividade física que ajude a relaxar, como é o caso do yoga, também será benéfica.
Fisioterapia
Em alguns casos pode ser necessária fisioterapia para resolver o problema ou para aliviar a dor, através da massagem e exercícios de alongamento e fortalecimento muscular.
O fortalecimento muscular conseguido na fisioterapia irá ajudar a prevenir problemas de tendinite no futuro.
Medicamentos anti-inflamatórios
Em último caso considera-se a toma de medicamentos anti-inflamatórios.
Esta opção tem um efeito mais rápido do que as anteriores, mas só deve ser usada em casos mais graves ou quando os outros tratamentos não surtirem efeito e mediante prescrição médica.
Tratamentos alternativos
Outros tratamentos podem ser considerados para alívio da dor e inflamação inerentes à doença profissional tendinite, nomeadamente a osteopatia, a hidroterapia ou a acupunctura.
O ideal é seguir as indicações do médico especialista, de acordo com cada situação.
Como prevenir a tendinite?
A aposta deve incidir, essencialmente, na prevenção. Nesse sentido, a ergonomia assume um papel determinante. O local de trabalho deve garantir, nomeadamente:
- altura dos elementos do posto de trabalho, mesa, banca, ecrã, adequada ao trabalhador (ajuste individual), que permita o desempenho das tarefas sem esforço acrescido (por exemplo, a altura correta da secretária, permitindo o apoio dos antebraços junto ao teclado, a colocação do rato de forma a permitir operá-lo com o cotovelo junto ao tronco);
- é também muito importante fazer intervalos regulares (incluindo alongamentos);
- realizar mudança de tarefas; alternar com outras tarefas que solicitem outro tipo de movimento e esforço, em casos em que há movimentos repetitivos constantes em determinada função;
- adotar outras medidas preventivas.
Doença profissional: questões importantes
O que é uma doença profissional?
Considera-se doença profissional toda aquela que é contraída pelo trabalhador na sequência de uma exposição a um ou mais fatores de risco presentes na atividade profissional, nas condições de trabalho e/ou nas técnicas usadas durante o trabalho (artigo 94.º da Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro, e artigo 3º do Decreto-Lei n.º 503/99, de 20 de novembro).
Assim, quando uma doença é clinicamente diagnosticada e se estabelece uma relação causal com o trabalho, a doença é reconhecida como profissional.
A quem compete fazer o diagnóstico?
Qualquer médico pode fazer o diagnóstico da doença. Em caso de haver uma suspeita fundamentada de doença profissional – diagnóstico de presunção – o médico tem a obrigação de notificar o Centro Nacional de Protecção contra Riscos Profissionais (CNPRP), mediante o envio da Participação Obrigatória devidamente preenchida.
O caso será avaliado e após ser reconhecida uma doença profissional o trabalhador poderá exigir os seus direitos.
Direitos do trabalhador
A assistência e a justa reparação da doença profissional é um direito constitucional.
Os trabalhadores em Portugal, na sua grande maioria, estão sujeitos a riscos profissionais que podem derivar em doença profissional.
À semelhança do que acontece com os acidentes de trabalho, também a reparação das doenças profissionais está prevista na lei, que estabelece que todos os trabalhadores a quem seja reconhecida uma doença profissional, têm direito a:
- Prestações em espécie: cuidados e tratamentos médicos, hospitalização, exames de diagnóstico, medicamentos, próteses, despesas com deslocações, etc.
- Prestações pecuniárias: indemnizações por incapacidades temporárias e permanentes, pensões anuais vitalícias, subsídios, etc.
O cálculo das indemnizações e das pensões é feito da mesma forma mas a entidade responsável pelo pagamento é distinta.
Enquanto que nos acidentes de trabalho a responsabilidade está transferida para companhias de seguros (porque é obrigatório), no caso das doenças profissionais compete ao Departamento de Proteção contra os Riscos Profissionais (DPRP).
A doença profissional tendinite é um problema de saúde tão comum quanto grave. Aos primeiros sinais, consulte o seu médico.