Miguel Pinto
Miguel Pinto
19 Out, 2024 - 12:00

Drave: caminhada fabulosa até à aldeia onde o tempo parou

Miguel Pinto

Drave é uma aldeia que o progresso votou ao abandono. Conheça o trilho que chega até ela e deslumbre-se com a paisagem.

Vista da Aldeia de Drave

Há mais de uma década que Drave é uma aldeia desabitada. Foi aos poucos perdendo os seus habitantes mais velhos, que os mais novos há muito tinham partido em busca de novas oportunidades e uma vida melhor.

Assim continuou, em silêncio e esquecida, até ser redescoberta por aficionados da natureza, atraídos pelas magníficas paisagens das serras da Freita, de São Macário e da Arada, em pleno Geoparque de Arouca.

Aquelas casas de pedra lousinha e cobertura de xisto começaram a ouvir novos sons, sorriso e esgares de cansaço após caminhadas severas.

É que conhecer Drave obriga a alguns sacrifícios: não é acessível de carro (é necessário percorrer um trilho de cerca de 4 quilómetros com início em Regoufe), não tem eletricidade, água canalizada, saneamento, gás, correio, telefone e quase não tem rede móvel. Não há lojas e os relógios não fazem muito sentido por ali.

Mas é de facto um lugar mágico, onde é possível testemunhar como se vivia nas regiões mais recônditas do país, acabando também por constituir um espelho daquilo que tem vindo a ser a progressiva desertificação do país.

Drave é uma viagem que não vai esquecer, até porque a envolvente é absolutamente encantandora.

Drave: roteiro na aldeia mágica

Cascata em Drave
A refrescante cascata que se encontra no caminho para Drave

A primeira referência a Drave remonta ao século XIV, ao reinado de D. Dinis, com a aldeia incrustada no centro de uma formação montanhosa, conhecida como monte Fuste.

Este monte divide as bacias hidrográficas, do Douro e Vouga, estando delimitado pelos rios Arda, Sul, Vouga e Paiva. A zona é caraterizada por blocos de granito ou xisto bem visíveis na paisagem e que lhe conferem uma dureza única.

O lugar está a cerca de 600 metros de altitude, cercado por altas montanhas, sendo que os socalcos das suas encostas são usados para fins agrícolas (uma vez que a terra é fértil devido aos rios e ribeiras que descem as encostas). Já as encostas em declive apresentam um manto vegetal, com espécies arbustivas e herbáceas rasteiras. Não muito melhor para uma caminhada a sério.

O rio de Drave nasce da confluência do rio de Palhais, do Ribeirinho e do ribeiro da Bouça e segue um percurso de 5 quilómteros, até encontrar o rio Paivó, um dos afluentes do Paiva.

A aldeia mais próxima de Drave fica a cerca de 4 quilómetros de distância. É Regoufe, lugar que tem também a sua história muito particular.

PR14: Aldeia Mágica – o trilho para Drave

O trilho até Drave começa depois da ponte e tem um nível de dificuldade baixo. O percurso demora cerca de duas horas e tem grande exposição solar, pelo que deve ir munido de chapéu e água.

No início, conte com uma subida bastante acentuada, em terreno pedregoso. No cimo, conseguirá uma vista privilegiada sobre Regoufe, a serra e os montes pontuados de xisto e granito. A seguir, vá por uma estrada de rocha e desça até Drave.

À medida que se vai aproximando de Drave, irá ficar maravilhado com a beleza deste cenário que parece esquecido e perdido na memória. As casas em ruína e outras em recuperação, a capela, o solar e os restos de uma adega.

Desça até à Ribeira de Palhais e aproveite a sombra e as piscinas naturais e as cascatas. Descanse e faça um piquenique para retemperar forças e energias e preparar-se para a viagem de regresso.

Aldeia de Drave em Arouca

Dicas e sugestões

  • Deixe o carro no largo, antes de descer para a aldeia de Regoufe;
  • Use sapatilhas confortáveis;
  • Leve água e snacks para um piquenique junto à lagoa;
  • Vá prevenido com chapéu e casaco.

Pontos de interesse

  • Na zona mais baixa, à entrada do aglomerado, há dois espigueiros de grandes dimensões que serviam toda a aldeia.
  • Ao longo da encosta, as casas de habitação, predominantemente de xisto, possuem anexos destinados à agricultura como palheiros, currais, espigueiros e azenhas.
  • No centro da aldeia de Drave, fica a Capela de Nossa Senhora da Saúde, revestida a cal e com telhado de telha cerâmica.
  • O Solar da Drave trata-se de uma casa com balcão e dois pisos, cujo piso superior é revestido a cal.

Curiosidades

  • A festividade mais importante desta aldeia é a Festa de Nossa Senhora da Saúde, que acontece no dia 15 de agosto. Além da Eucaristia, há uma procissão e um piquenique.
  • Uma das famílias mais antigas e numerosas da aldeia de Drave é a família Martins, a última, inclusive, a abandonar este lugar. Contudo, de 2 em 2 anos, os membros desta família fazem questão de se reunir neste local que serviu de residência durante vários séculos.
  • Em 2003, o Corpo Nacional de Escutas abriu em Drave a sua Base Nacional da IV/Drave Scout Centre, um centro escutista para caminheiros (escuteiros entre os 18 e os 22 anos). Este centro recebe anualmente milhares de caminheiros portugueses e estrangeiros que, neste espaço, colaboram na reconstrução e manutenção da aldeia.
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